Prova em versos

Marighella era aluno do 5º ano no Ginásio da Bahia quando, em 23 de agosto de 1929, respondeu em versos a uma prova de física. Foi a primeira de uma série. Tirou nota dez e a prova ficou exposta, no corredor do colégio, até 1965. Mais tarde, foi incluído no livro Poemas: Rondó da Liberdade (São Paulo, Brasiliense, 1994).

Por Carlos Marighella

Capa de Poemas: Rondó da Liberdade
Ginásio da Bahia aos 23 de 29 deste oitavo mês.

Doutor, a sério falo, me permita,
Em versos rabiscar a prova escrita.

Espelho é a superfície que produz, Quando polida, a reflexão da luz.
Há nos espelhos a considerar
Dois casos, quando a imagem se formar.

Caso primeiro: um ponto é que se tem;
Ao segundo um objeto é que convém.

Seja a figura abaixo que se vê,
o espelho seja a linha betacê.

O ponto P um ponto dado seja,
Como raio incidente R se veja.

O raio refletido vem depois
E o raio luminoso ao ponto 2.
Foi traçada em seguida uma normal
o ângulo I de incidência a R igual.

Olhando em direção de R segundo,
A imagem vê-se nítida no fundo,
No prolongado, lu minoso raio,
Que o refletido encontra de soslaio.

Dois triângulos então o espelho faz,
Retângulos os dois, ambos iguais.

Iguais porque um cateto têm comum,
Dois ângulos iguais formando um.

Iguais também, porque seus complementos
Iguais serão, conforme uns argumentos.

Quanto a graus, A+I possui noventa,
B+J outros tantos apresenta.

Por vértice opostos R e J
São iguais assim como R e I.

Mostrado e demonstrado o que é mister,
I é igual a J como se quer.
Os triângulos iguais viram-se acima,
L2, P2, iguais, isto se exprima.

IMAGEM DE UM PONTO

Atrás do espelho plano então se forma
A imagem, que é simétrica por norma.

IMAGEM DE UM OBJETO

Simétrica, direita e virtual,
E da mesma grandeza por final.

Melhor explicação ou mais segura
Encontra-se debaixo na figura.
 

 
Transcrito em: Edson Teixeira da Silva, Júnior. Carlos: a face oculta de Marighella. Dissertação de Mestrado em História Social do Trabalho, Universidade Severino Sombra, Rio de Janeiro.