Hugo Chávez: A construção de uma liderança programática

Em nosso barômetro do mês de junho de 2012, o desempenho geral do presidente Hugo Chávez mantém 63% de qualificação positiva, 17% regular e 19% o avaliam negativamente; em contrapartida a esses dados, a valorização do desempenho positivo da oposição só alcança 22% da população, enquanto 45% o avalia negativamente.

Por: Jesse Chacón*

O indicador de intensão de voto expressa esta mesma tendência entre os dois candidatos que disputam a presidência, 57,8% votaria por Hugo Chávez, enquanto somente 23% votaria em Caprilles Radonski.

Nos indicadores de contentamento ou descontentamento candidato opositor soma 43% de descontentamento, enquanto Hugo Chávez só recebe 17%, de modo que para 21%, Capriles é indiferente. Esta matemática de contentamento e descontentamento se complementa com o dado de 56% que diz que nunca votaria por Capriles Radonski.

Conhecedores destes resultados diversos analistas da própria oposição, que publicaram no portal, se perguntam como é possível que depois do impacto das primárias opositoras de fevereiro, o candidato opositor não tenha conseguido subir nas pesquisas. Intriga a eles mesmos, que enquanto seu candidato recorre o país, casa por casa e o presidente não se expôs ao contato público de maneira intensa, este mantém a dianteira em todos os estudos.

Também não entendem como o seu candidato, que era a expressão da saúde e da juventude, desmaiou em duas ocasiões em concentrações públicas e muito menos seja capaz de construir um discurso de mais de 7 minutos, enquanto que Chávez convalescente se apresenta saudável e com vitalidade, alcançando o recorde de um discurso de mais de 8 horas, na apresentação da memória perante o Congresso e de três horas ao dia da inscrição de sua candidatura.

Capriles procura conjurar este ambiente argumentando que “só acredita nas pesquisas sérias e não nas compradas”. É a obvia resposta de todo o candidato que se sente em desvantagem contra seu adversário; proximidade da disputa eleitoral e a incapacidade de construir uma estratégia coerente e de impacto.

Outros analistas tentam explicar a superioridade do presidente nos resultados eleitorais a partir da lógica da liderança carismática, elevam para a dimensão do mágico a relação que se construiu entre Chávez e o povo venezuelano, visto assim, ninguém, sem uma conexão emocional direta e quase religiosa poderia reverter este frenesi.

A interpretação anterior, que a primeira vista parece nova, não faz mais do que somar-se às posturas políticos acadêmicas de desprezo pelo sujeito nacional popular que adquiriu consciência histórica, outorga todas as qualidades ao líder e designa para as multidões o lugar de simples espectador, ou quando mais, de maré cega, emocional e irracional. Pensamos que essa grande conexão entre o povo e Chávez deve ser vista a partir de outra perspectiva, da perspectiva da liderança pragmática que representa Hugo Chávez.

O ciclo da Revolução, que vive hoje a sociedade venezuelana foi aberto pelas maiorias nos protestos do “caracaço” em 1989, a vanguarda nacional popular do MBR200interpretou este atmosfera de revolução e consequente com ele se lança as rebeliões cívico-militares de 1992.

Destas datas até hoje, a Venezuela viveu um vertiginoso processo de deslocamento das elites “Punto Fijistas”, reverteu-se a característica do modelo de desenvolvimento neoliberal e transformou-se a politica social focada em uma política social garantista e universal, que durante este 12 anos de Governo Bolivariano, apesar da transgressão contrarrevolucionaria na redução da pobreza e a avaliação da qualidade de vida dos venezuelanos.

Apesar dos fracassos operacionais das rebeliões cívicos-militares do ano de 1992, lideradas pelo MBR200, estes se configuraram em marcos da abertura para uma fase instituinte, significando o início de um ciclo de revolução, que veio a consolidar-se no seguinte período conhecido como constituinte.

O processo constituinte não é só o ápice da Assembleia Nacional Constituinte de 1999, mas todo o processo de mobilização e identificação da proposta e modelo da sociedade para construir, que foi debatido durante toda a década de 90e que teve uma primeira expressão pública na Agenda Alternativa Bolivariana, apresentada em 1996 pelo MBR200 como a síntese de um rico e extenso debate iniciado pelos insurgentes da prisão e expandido para todo o país.
A insurgência social e política venezuelana representa no MBR200 e a disposição geral da população ao desacato e a mobilização, teve sua primeira expressão programática nesta agenda, que é apresentada publicamente em 1996.

O período constituinte embora não rompe a força carismática gerada pela liderança de Chávez como máximo comandante, sim desenvolve a construção de um programa de nova sociedade que seria formalizada anos mais tarde na Constituição Bolivariana de 1999.

Configura-se um novo tipo de liderança programática, uma liderança suportada no projeto de país, assim na cultura politica venezuelana se outorga uma preeminência tão grande ao líder, é o projeto de constituição bolivariana o referente politico que preenche o imaginário dos venezuelanos, assim veio para demonstrar nos dias de abril de 2002 quando o povo saiu massivamente para recuperar o fio constitucional quebrado pelo golpe da direita Venezuelana, durante as jornadas de 13 de abril de 2002, o centro da mobilização popular constituiu um resgate do fio constitucional e a restauração da constituição bolivariana.

A Agenda Alternativa Bolivariana de 1996, representou uma opção diferente diante da agenda neoliberal denominada Agenda Venezuela. Enquanto a agenda Venezuela embriagada de neoliberalismo aprofundava as privatizações e o desmantelamento do Estado garantista, a agenda Alternativa Bolivariana apresentou com claridade a obrigatoriedade para a sociedade Venezuelana de recuperar o estado como centro de gravitação do novo processo nacional.

A Agenda Alternativa Bolivariana foi um primeiro esboço de programa mínimo e significou uma nova rota metodológica, ao propor fazer o programa com as pessoas, fazê-lo a partir da constituinte.

A agenda vem se desenvolvendo ano após ano de maneira coerente, primeiro em nova constituição bolivariana, em seguida e, 49 leis habilitantes, o plano de desenvolvimento dos 5 equilíbrios de 1999, o Projeto Nacional Simón Bolivar de 2006 e hoje com a proposta do candidato da pátria, comandante Hugo Chávez, para a gestão bolivariana socialista 2013-2019.

Sem sombra de dúvidas, é nesta coerência programática e a grande capacidade de torna-la realizações na vida cotidiana das pessoas, onde devemos buscar a explicação da grande conexão Chávez-Povo, não é um embrulho, não é magnetismo pessoal do líder, é sua lealdade ao livreto da liberdade e igualdade que o povo tomou consciência veio reclamando desde os atos de 1989.

A equação não é como os analistas opositores ou os acadêmicos pretendem apresentar, não é Chávez quem cria o povo, pelo contrário, Chávez é uma criação coletiva do povo que se levanta em revolução.

Diante deste povo feito governo é que se enfrentará a direita venezuelana no próximo dia 7 de outubro.

*Jesse Chacón da Agência Venezuelana de Notícias