Paulo Sanches Lira: Financiamento Soberano à integração

Na iminência do final da Segunda Guerra Mundial (1944), reuniram-se na cidade de Bretton Woods (New Hempshire, EUA), as principais potências do lado vencedor da guerra para definirem o rumo da política econômica mundial.

Por Paulo Sanches Lira, especial para o Vermelho

Neste âmbito criaram-se duas instituições-chave para regular tais políticas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), sendo esta segunda responsável por organizar e dar bom funcionamento ao sistema monetário internacional, que em termos de ação significaria ajudar os países com problemas em fechar sua Balança de Pagamentos.

Com a proeminência estadunidense, o dólar tornou-se a moeda de circulação internacional e este país resguardou para si uma vantagem única em todo o globo: fechar as suas contas na sua moeda nacional, ou seja, financiar-se a partir da emissão de sua moeda. A partir de 1971, o país norte-americano rompe com a conversibilidade do dólar em ouro, colocando ao mundo um padrão sem lastro algum, pautado unicamente no poder de coerção deste Estado, o que levou a cooptação do FMI e a radicalização das políticas liberais fomentadas por esta instituição. Os efeitos desta nova circunstância foram determinantes ao arrefecimento das políticas desenvolvimentistas dos países sul-americanos.

Durante o último quarto do século 20, o problema da restrição externa foi um denominador comum à maioria dos países da América do Sul. Ainda que a Venezuela seja um caso à parte por conta do petróleo, o país da costa norte do continente também passou por reformas liberais que aprofundaram o subdesenvolvimento. Os empréstimos realizados pelo FMI, a titulo de ajuda aos países da região, possuíam sempre condicionalidades de liberalização de conta de capital ao capital externo para que estes financiassem estas economias.

Na integração regional não foi diferente. Em 1959, criou-se o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, com sede em Washington, EUA) com o propósito de financiar projetos de integração, contendo como principal produto o empréstimo a projetos aprovados previamente por este organismo, tendo como contrapartida condicionalidades de liberalização.

A partir do exposto é possível entender a importância de uma via de crédito soberana à integração e ao desenvolvimento das nações sul-americanas. Neste sentido, o Banco do Sul, cujo projeto foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Brasil no dia 23 de maio de 2012, tem significativa importância. O projeto de um fundo soberano e independente na América do Sul é um feito sem precedentes na história da região e que deve ser, mais que apoiado, incentivado pelo Brasil na construção da independência do continente na consecução de sua política econômica.

Paulo Sanches Lira é economista formado pela PUC-SP e Mestrando em Economia Política Internacional na UFRJ.