Síria, eleições estadunidenses e danos colaterais

As ameaças de represália por parte de Ancara e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), renovam o debate sobre a possibilidade de uma ação militar direta ou indireta dos Estados Unidos e seus aliados contra o governo de Damasco.

O premiê Recep Tayyip Erdogan disse que a derrubada de um avião militar turco sobre território sírio foi um ato deliberado, que qualquer aproximação de forças militares de Damasco será percebida como uma ameaça e que serão tomadas as medidas necessárias. Meios de imprensa europeus mencionaram que os militares turcos deslocaram unidades blindadas a setores fronteiriços com o vizinho país árabe.

Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da Otan, apoiou as posições de Ancara, e qualificou a derrubada do avião como uma medida completamente inaceitável.

O presidente Barack Obama, a Secretária de Estado Hillary Clinton, o Secretário de Defesa Leon Panetta, e outras autoridades têm proclamado nas últimas semanas a possibilidade de uma ação militar direta ou indireta contra o governo da Síria.

O senador republicano do estado do Arizona, John McCain, ex-candidato republicano, solicitou em várias ocasiões durante este ano, uma intervenção militar dos Estados Unidos a esse país árabe, o que alguns especialistas interpretam como o sentir dos setores mais reacionários da política de Washington.

A Casa Branca acusa Damasco de levar a cabo medidas repressivas contra a população civil e, há mais de um ano, incrementou as sanções e ações subversivas de todo tipo contra o presidente Bashar Al-Assad.

De acordo com especialistas, a principal preocupação de Washington é seu apoio à causa palestina e a tradicional política síria de rejeição ao papel de Israel na região do Oriente Médio.

Meios de imprensa confirmaram nos últimos dias que o Pentágono já finalizou seus planos de contingência para dita operação, que contaria com o apoio de seus aliados europeus e árabes.

O comando militar incrementou suas atividades de espionagem com o emprego dos chamados drones ou aviões não tripulados e através de satélites.

Em Washington, especialistas consideram que o fornecimento de armas à oposição constitui a melhor tática e a menos arriscada, no objetivo de derrocar ao governo do presidente Al-Assad.

Segundo o jornal The New York Times, um grupo de oficiais da Agência Central de Inteligência (CIA) trabalha há várias semanas no sul da Turquia – que compartilha uns 800 quilômetros de fronteira com Síria – na entrega de armas e informação aos grupos contrários ao governo de Damasco.

O jornal afirma que as armas, pagas pelos governos de Ancara, Arábia Saudita e Catar, incluem fuzis automáticos, lança-granadas, munições e armamento antitanque, e que chegam a território sírio através de Turquia principalmente.

Esta missão da CIA é o caso mais evidente e detalhado do apoio de Washington à campanha militar contra o presidente Al-Assad e uma tentativa de incrementar as pressões contra Damasco, reconhece o jornal nova-iorquino.

Outras opções agressivas contra a Síria que parecem latentes são a imposição de uma zona de exclusão aérea e uma espécie de bloqueio marítimo parcial ou total, ações ilegais que não contam, pelo menos por enquanto, com o mandato das Nações Unidas.

Especialistas assinalam a possibilidade de que os Estados Unidos e seus aliados realizem golpes contra alvos selecionados em território sírio, com a aviação e os meios de ataque das forças navais localizadas na região.

Informações de imprensa confirmam que agentes estadunidenses pressionam diretamente em campo alguns dos chefes das principais unidades militares sírias para que abandonem seus postos e se rebelem contra o governo.

Neste contexto, a posição da Rússia resulta um obstáculo para os planos bélicos da Casa Branca.

Os diários The Washington Post e The New York Times coincidem em destacar o ambiente de frustração percebido após a entrevista do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu homólogo estadunidense, Barack Obama, na Cúpula do G-20.

Ao que parece, Obama enfatizou que a saída do presidente Al-Assad do governo é a única via para solucionar a crise.

No meio da campanha eleitoral nos Estados Unidos, a chamada grande imprensa estadunidense reconhece que é muito difícil para a Casa Branca avaliar com precisão até que ponto resultaria favorável uma ação militar direta ou indireta.

Um dos elementos que seriam considerados, tanto em Washington como nas capitais europeias, para levar a cabo uma ação bélica contra a Síria, seria o nível de apoio interno a uma medida deste tipo.

Segundo a pesquisa mais recente da rede CNN, só 33% dos estadunidenses apoia uma intervenção militar de Washington contra o governo de Al-Assad.

O diário inglês The Guardian afirmou que 52% dos franceses e 65% dos espanhóis apoiam uma eventual intervenção. Na Alemanha e na Itália, a aprovação chega a 45 e 43%, respectivamente.

Especialistas militares indicam que as avaliações preliminares do Pentágono e da CIA sugerem que uma campanha prolongada seria uma missão complicada, provocaria muitas baixas civis, com "danos colaterais" que teriam um alto nível de mortes e um considerável custo político para os agressores.

As próximas eleições presidenciais de novembro e os temores da opinião pública estadunidense ante o resultado incerto de uma nova contenda militar, são fatores que obstaculizam uma decisão política para intervir militarmente na Síria.

Devido a tudo isso, os elementos que intervêm no processo de tomada de decisões na Casa Branca teriam que avaliar os prós e contras de uma operação militar deste tamanho para evitar que, do ponto de vista político, o próprio presidente Obama entre à lista das vítimas dos chamados danos colaterais.

Prensa Latina