Israel Sales Bastos Jr: PCdoB, Jovem aos 90

O texto a seguir foi o vencedor do 2º Concurso Literário Marxista cujo tema era os 90 anos do PCdoB. O concurso é uma iniciativa do PCdoB de Fortaleza, através da Secretaria de Formação.

Andando pelas ruas do centro de Fortaleza, vi um povo apressado, carregando faixas e alguns jornais. Eram estudantes do DCE e da UFC. Corriam de algo que os perseguia, não vi do que fugiam, mas deixaram algo para trás, era uma edição de um jornal nunca visto por mim, o mesmo estampava alguns símbolos conhecidos, entre eles a foice e o martelo cruzados, dentro de um círculo acompanhado de uma estrela.

Apanhei o edito e o guardei, no caminho de casa abri para ler, meus olhos não resistiram à emoção, li com destemor e orgulho incontido no peito. Finalmente achei, sim, tinha achado o partido de meu pai, que tanto falava, tinha encontrado o PCdoB, era março de 1984.

O jovem partido fundado em 1922 chegara à maior idade, sem reconhecimento da lei, contava ali com 62 anos de luta, muitos deles na clandestinidade, jamais teve as benesses do poder, mas sempre teve o reconhecimento do povo, e da classe que sempre representou “a classe operária”.

Foram tempos difíceis, o regime de 1964 agonizava em seus últimos suspiros, o povo em frenesi ansiava por novos tempos, novos rumos, como sempre em sua rica e destemida história o PCdoB ditava o ritmo das ruas. Conduzia junto às forças progressistas o roteiro a ser seguido: redemocratização, liberdade e justiça social.

Fui oficialmente apresentado ao partido de meu pai, pude ver e sentir como se constroi a história da nação. Neste breve período histórico que convivo e compartilho apreendo a gostar e amar o velho senhor, sexagenário quanto o conheci, hoje nonagenário.

Nove décadas de lutas continuas sem jamais transgredir de seus ideais revolucionários, de um partido de vanguarda operária, criado em tempos de efervescência política, caminhando em meio à Semana de Arte Moderna de São Paulo, inspirando grandes atores do palco da história brasileira, personagens famosos e anônimos, heróis de todas as causas populares abraçadas indistintamente pelo PCdoB.

No transcorrer dos tempos que vieram, os comunistas foram força atuante em todos os períodos de nossa história, fazendo política com os meios que dispunham, criando condições para uma nova sociedade, plantando sementes e adubando o solo ainda estéril e pouco receptivo às novas ideias.

O capitalismo em febril sintoma de esgotamento quebra-se na bolsa de Nova Iorque, o Brasil sepulta a velha República. Luis Carlos Prestes em uma marcha pela pátria dos tenentes levanta uma legião de seguidores, rasga o Brasil de sul a norte, leva aos povos mais distantes uma mensagem: o povo pode, e leva ânimo ao pequeno e corajoso partido recém nascido. Sem uma causa específica a Coluna Prestes sucumbe a si própria.

Os comunistas seguem fazendo história de forma ética e brava, seguem perseguidos por todos os regimes até hoje implantados neste país, dão apoio às causas trabalhistas, lutam ao lado de anarquistas e nacionalistas, ajudam na consolidação da CLT, arregaçam as mangas na prospecção da ideia, ”o petróleo é nosso”. Vem ajustando as causas, a necessidade do povo brasileiro, amadurecendo as ideias, nas concepções de um socialismo científico e prático. Abraçam com vigor a defesa do voto feminino, e lançam os primeiros candidatos a cargos eleitorais. Lança-se a si próprio na vida pública brasileira, elevando o nível e qualidade das instituições que habitam o cenário político nacional.

Noventa anos de história digna e passiva de erros, nove décadas de vida em busca dos ideais de Karl Max. A história viva e orgânica de uma das maiores e longevas entidades políticas das Américas, que não se mede em números, não se compara nem sem igualará jamais. Somos o PCdoB um partido forte, afeito aos grandes momentos, uma militância ímpar, apaixonante e apaixonada. Somos o esteio da argamassa que liga e constroi a maior edificação dos sentimentos revolucionários, somos a maior faculdade de política brasileira, poucos se deram com tanto amor, com tanto desprendimento às causas do povo como a militância do PCdoB.

Nenhum outro partido ou instituição foi tão penalizado e odiado pelas elites e oligarquias brasileiras, mas nada foi capaz de parar uma ideia, nada removerá nem extinguira o ideal comunista. Fomos às armas, temos o Araguaia como cenário da devoção a uma história, ao compromisso inadiável, suas margens avermelharam de orgulho, viram homens e mulheres tombarem sem cair ao chão de vergonha. Traziam no peito o PCdoB, na alma a vontade de revolucionar, e nos exemplos uma das mais belas páginas dos levantes populares; não se vende, não se troca, nem se empresta, este sentimento e estas emoções, só saberá quem lá esteve, quem um dia, abriu mão de tudo, por todos, lançou sua vida na história recente do Brasil,…

Nestes noventa anos, sua história esta cheia de heróis, como esquecer o genial João Amazonas, Grabois, Maurício Pomar, como não lembrar de seus fundadores, em 1922 e toda uma leva de dirigentes que contribuíram e ajudaram a construir esta história. Falar da reorganização, Elza Monnerat, Lincon Oest, e outros que enfrentaram o revisionismo e levaram o partido de volta para os eixos do Marxismo-Leninista , e falar de respeito às causas proletárias.

Nove décadas de glórias, derrotas, deserção, compromisso, afastamento, e todos os sentimentos inerentes à alma humana, pois ele, o PCdoB, é composto de homens e mulheres, seres orgulhosos do .passado, participativos no presente, e construtores de um futuro. O PCdoB de meu pai, de minha história, de meus ideais, jovem infante nonagenário, baluarte do Socialismo.

PCdoB dos movimentos sociais, de todos e toda uma vida de lutas .

Viva o PC do B, viva a nossa história.
 

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