Zé Dirceu: PSDB oficializa e documenta apoio ao golpe no Paraguai

Agora é oficial: o PSDB apoia o golpe no Paraguai. Para não deixar dúvidas, o partido colocou em seu site nota nesse sentido, assinada por seu presidente nacional, deputado Sérgio Guerra (PE). A nota só confirma o caráter oportunista do partido que defendeu as intervenções militares e politicas dos Estados Unidos pelo mundo.

Por José Dirceu*, em seu blog

Ações que transformam em pó o príncipio da não intervenção em assuntos internos de outros países e o respeito a auto-determinação dos povos.

Fora o fato que o Paraguai é membro do Mercosul, da União das Nações da América do Sul (Unasul) – agora suspenso de ambos – sem falar da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas. É signatário, portanto, de convenções regionais e internacionais que lhe obrigam a obedecer e a cumprir cláusulas democráticas.

O descumprimento desses compromissos, assumidos em documentos assinados, o sujeitam mesmo às sanções estabelecidas nas convenções e tratados que o país firmou e seu parlamento aprovou. Só o PSDB, o tucanato não reconhece isto.

Tucanos invocam argumentos falsos

Assim o argumento tucano é falso. Como é falsa sua posição sempre defendendo a intervenção externa – dos EUA e de outros – nos assuntos de Cuba, Venezuela, Equador e Bolivia, para ficar só nos atentados praticados contra a soberania dos povos em nosso continente.

Mas faz tempo que os tucanos dormem com o inimigo, com as ditaduras e a direita latino-americana. Basta lembrar suas relações com o ex-ditador do Peru, Alberto Fujimori – preso por corrupção, dentre outros delitos – condecorado pelo governo FHC.

Chama a atenção o fato de os tucanos estarem dando legitimidade e apoio a um golpe que levou de novo ao governo o Partido Colorado, o mesmo que governou o Paraguai por 61 anos – de 1947 até a eleição do presidente Lugo em 2008. Sustentou, inclusive a sanguinária ditadura do generalíssimo Alfredo Stroessner (1954-1989).

A volta do partido Colorado se dá via Parlamento, mas é golpe do mesmo jeito. Nada muda esse caráter antidemocrático, arbitrário e ilegítimo do impeachment e deposição do presidente constitucional do Paraguai, Fernando Lugo. E tudo tem agora o apoio oficializado do PSDB, do
tucanato…Sinal dos tempos…

FHC endossa posição pró-golpistas do partido

Não bastasse o apoio tucano comunicado ao presidente Federico Franco pelo senador Álvaro dias (PSDB-PR), líder do partido no Senado, e a nota oficial do seu presidente nacional, deputado Sérgio Guerra (PE), também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso endossa agora a defesa do golpe.

"Não houve arranhão à Constituição paraguaia", afirmou o ex-presidente FHC, em Washington, onde esteve para receber um prêmio da Biblioteca do Congresso norte-americano. Ele considerou que a suspensão do Paraguai do Mercosul, esta sim, está além da jurisdição, do poder dos outros três integrantes do bloco (Argentina, Brasil e Uruguai).

"Seria preferível – ponderou o ex-presidente brasileiro – a ação dos governos do Mercosul anterior a isso, mandar uma missão negociadora para ver se fazia uma conciliação entre o presidente (deposto, Fernando Lugo) e o Congresso. Não imposição. Havia espaço político. É sempre ruim tirar um presidente rapidamente. Mas daí adotar sanção contra o Paraguai vai uma distância grande."

O ex-presidente se esquece que em pelo menos 24 das 30 horas que durou o processo de deposição do presidente Lugo entre a deflagração e a aprovação do impeachment pelo Congresso uma dúzia de chanceleres de países do continente permaneceu em Assunção tentando exatamente isso de que ele fala: demover os golpistas de seu intento de derrubar o prsidente constitucional.

FHC criticou, ainda, a entrada da Venezuela no bloco. "Mais delicado ainda é a aceitação da Venezuela, independentemente de valer a pena ou não, sem que o Paraguai esteja (no bloco). A posição do meu partido foi clara: somos a favor de que a Venezuela entre no Mercosul, mas também somos a favor de que cumpra os requisitos", concluiu.

* José Dirceu é advogado e blogueiro