General dos EUA justifica ação imperialista na América Latina

As intensas campanhas de combate às drogas e ao narcotráfico financiadas pelos Estados Unidos na América Latina— com a Usaid, o Plano Colômbia e a “Inicitativa Mérida” — não resultaram na diminuição do consumo e do tráfico de drogas na América Latina, nos EUA e no mundo e o país do norte segue afirmando que são a narcoguerrilha e os cartéis do tráfico no México “as maiores ameaças à estabilidade na América do Sul hoje”.

Por Vanessa Silva

EUA

A declaração foi dada pelo general chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, Douglas Fraser ao jornal Folha de S. Paulo em entrevista publicada nesta sexta-feira (13).

O general aproveitou a oportunidade para semear a confusão, misturando o combate ao narcotráfico com a ação militarista e intervencionista dos Estados Unidos no combate aos movimentos insurgentes colombianos.

Fraser afirma que o combate às “Farc trouxe como efeito colateral o transbordamento das atividades de narcoguerrilheiros para países vizinhos, como Peru e Bolívia”. O general parece não saber ou oculta propositalmente o fato de que as Farc não são um grupo de narcotraficantes e que a atividade ilícita no país é comandada por paramilitares, políticos e pela burguesia local, tal como denunciado diversas vezes por ativistas, e jornalistas independentes.

Com o argumento de que “nenhum país pode resolver [a questão do narcotráfico] sozinho”, o general justifica as operações dos EUA na região e dá margens para legitimar o crescente processo de ingerência do país em assuntos internos do sub-continente. O último e mais importante acontecimento neste sentido foi o golpe de Estado no Paraguai, ocorrido no último dia 22 de julho quando a direita paraguaia aliou-se contra o presidente legitimamente eleito, Fernando Lugo, e perpetrou um golpe para tirá-lo do poder.

Paraguai

Enquanto os países sul-americanos não reconhecem o atual governo comandado por Federico Franco, os Estados Unidos, por meio da subsecretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson, afirmaram que o processo ocorrido no país respeitou a Constituição e que, portanto, foi legal. A iniciativa vai ao encontro dos interesses imperialistas no Paraguai.

O país, embora pequeno e de economia pouco desenvolvida, é estratégico: localiza-se no coração geopolítico do continente sul-americano, tem ampla disponibilidade de reservatórios de água doce e de fontes energéticas e está próximo às reservas de gás bolivianas. Além disso, a empresa estadunidense Monsanto tem notórios interesses na venda de sementes transgênicas ao país, agroexportador de soja e algodão.

Mas, em uma estratégia diversionista, tanto os EUA quanto o governo golpista paraguaio tentam desviar a atenção acusando a Venezuela de ter feito ingerência em assuntos internos ao supostamente propor a integrantes das Forças Armadas que resistisse ao golpe.

Segundo o jornal paulista: “preocupado com a influência de Hugo Chávez na região, Fraser aplaudiu a reação dos militares paraguaios à aproximação da Venezuela durante o processo que levou ao impeachment do presidente Fernando Lugo em junho”.

Acontece que o processo ao qual Fraser se refere não ocorreu. Na quarta-feira (11), a Promotoria Pública do Paraguai desmentiu os boatos e afirmou que o Alto Comando das Forças Armadas do país refutaram a versão de que o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, teria tentado convencê-los a impedir pela força o impeachment de Lugo. De acordo com os militares, Maduro somente teria feito uma advertência quanto a possíveis sanções internacionais.

Bases militares

A entrevista tratou ainda, de maneira bastante tímida, da questão da possível instalação de uma base militar dos EUA no Paraguai — na semana passada, o deputado José López Chávez afirmou que negociou a instalação da base com generais das forças armadas americanas —, Fraser disse simplesmente que “não há nada disso”. Diante da repercussão negativa no continente, o governo paraguaio também desmentiu, nesta quinta-feira (12) tal intenção.

Quando questionado sobre os interesses dos Estados Unidos no país, o general é dúbio, como constatado pelo próprio repórter da Folha: "interessa para todos nós combater o crime transnacional." Em momento nenhum da entrevista, no entanto, ele mencionou o país como sendo um dos entroncamentos do narcotráfico que os Estados Unidos se “esmera” tanto por “combater”.