Caso HSBC força Ocidente a rever aliança com Arábia Saudita
Uma subcomissão do Senado dos EUA descobriu que o banco britânico gigante HSBC transferiu dinheiro a um banco saudita sobre o qual pesam suspeitas de laços com organizações terroristas entre as quais Al-Qaida. A Arábia Saudita não comentou as conclusões da subcomissão.
Entrevista com Ali Rizk na emissora de televisão Russia Today
Publicado 19/07/2012 15:05
Para Ali Rizk, especialista em Oriente Médio, em entrevista a Russia Today, o que aquela subcomissão descobriu força o Oriente Médio a repensar a relação amistosa que mantém com a Arábia Saudita.
Relatório publicado pela Subcomissão Permanente de Investigação comprovou que o Banco HSBC repassou fundos para o Banco Al-Rajhi, saudita, que inúmeros relatórios oficiais e matérias de imprensa já denunciaram, por manter laços com organizações terroristas, dentre as quais a Al-Qaida.
O principal executivo do HSBC depôs ante aquela subcomissão ontem, quarta-feira, e pediu desculpas por não ter impedido aqueles repasses. O diretor do departamento jurídico do HSBC [orig. HSBC’s Head of Compliance], David Bagley, disse que estava pedindo demissão. Mas, até agora, nem a Arábia Saudita nem o Banco Al-Rajhi responderam às acusações da subcomissão.
Russia Today: O relatório denuncia o Banco Al-Rajhi, saudita, o maior banco do mundo muçulmano, como patrocinador de atividades terroristas. O que significa isso?
Ali Rizk: Acho que a raiz de tudo é o fato de a Arábia Saudita ser o principal exportador do que se pode chamar de Islã radical, o islamismo que manchou a essência do islamismo, que é a moderação.
RT: De que tipo de grupos terroristas estamos falando?
AR: Estamos falando de extremistas wahhabitas, os mesmos que estão provocando a violência na Síria, os mesmos que foram mandados para a Chechenia, grupos no Uzbequistão. Alguns membros da família real saudita também contribuem para manter a Al-Qaida. Bandar bin Sultan, ex-embaixador saudita em Washington, por exemplo, encontrou-se várias vezes com Osama bin Laden. Estamos falando, portanto, de grupos extremistas sunitas. O papel dos sunitas no financiamento à rede Al-Qaida e a extremistas ativos no Iraque é muito bem conhecido. Mais importante que isso, acho que esse relatório lança nova luz sobre a aliança entre a família real saudita e alguns países ocidentais. As recentes descobertas da subcomissão do Senado dos EUA aumenta a pressão sobre governos ocidentais, para que mudem suas políticas. Claro que a Arábia Saudita é considerada aliada. Mas muita gente já especula que, muito provavelmente, é chegada a hora de vários governos ocidentais reconsiderarem essa posição.
RT: Por que reconsiderariam?
AR: Em primeiro lugar, porque há hoje os levantes populares, que também pressionam os governos de EUA e Reino Unido. Até o presente, a Arábia Saudita nada fez na direção de reformas políticas. Outro motivo é que a Arábia Saudita é a principal fonte desse extremismo que leva a aumentar as medidas de vigilância e prevenção em países como EUA e Reino Unido. Nesses e noutros países, entendo que as pessoas estão mais bem informadas, hoje, sobre o que a Arábia Saudita realmente representa. Não é difícil entender que os EUA podem estar sendo empurrados para um impasse. A própria Hillary Clinton disse recentemente que estão combatendo o wahhabismo. Não é difícil ver que há já alguma divergência bem clara entre o ocidente, de um lado; e a Arábia Saudita, de outro. Ainda não alcançou nível crítico de impasse, mas creio que esse relatório e outros desenvolvimentos semelhantes aumentarão a pressão sobre os EUA e outros governos ocidentais.
RT: O senhor espera alguma reação de Riad, sobre o relatório da Subcomissão?
AR: Acho que não haverá qualquer tipo de desculpas. No meu modo de ver, a Arábia Saudita está agindo irracionalmente. A Arábia Saudita está irracionalmente apavorada, ante o que aconteceu no Iraque; os xiitas ali, com o primeiro-ministro Nouri al-Maliki. No Líbano, está o Hezbolá. E a influência do Irã está aumentando. Essas são as razões pelas quais a Arábia Saudita está tão empenhada em derrubar Bashar al-Assad, porque os sauditas o veem como figura de peso do eixo xiita. Entendo que o que estamos vendo hoje em Damasco é uma resposta da Arábia Saudita à crescente influência do Irã.
Fonte Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu