Moldávia: Quando o povo apoia o que a elite não quer

Pouco interessa se o PC moldavo foi o único partido que sempre aceitou o resultado que obteve em qualquer eleição no país, o que na verdade importa é limpar do mapa uma força política maioritária na sociedade que estorva a elite moldava.

Por Fabian Figueiredo, no A Comuna

Em abril de 2009 houve eleições para o Parlamento da Moldávia, o Partido Comunista conseguiu um total de 60 lugares em 101.

A oposição não aceitou os resultados e seguiram-se largos dias de saques e de desordens, que José Milhazes descreve bem:

"Este movimento desordeiro não é uma revolução anti-comunista até porque o Partido dos Comunistas da Moldávia nada tem a ver com partidos homónimos clássicos. Pode não ter feito muito para arrancar o país da cauda da Europa, mas tem respeitado as regras do jogo democrático. Não esconde a intenção de aproximação à União Europeia, mas mantém boas relações com Moscou para não perder a Transdnistria.

Vladimir Voronin é um dirigente dos equilíbrios possíveis e é de lamentar que a oposição, que diz ser mais democrática e europeia, não tenha sabido controlar os desvaneios da multidão."

Fracassadas estas tentivas da oposição, o caminho traçado por esta foi outro. Como a Constituição da Moldávia obriga a que o Presidente seja eleito pelo Parlamento com maioria alargada, necessita o voto favorável de pelo menos 61 deputados em 101, entrou-se numa crise política, que acabou com a dissolução do Parlamento e com a marcação de novas eleições.

Nas eleições antecipadas, o PC moldavo foi novamente o partido mais votado, porém conseguiu, apenas eleger 48 deputados, o que fez com que todos os partidos da oposição conseguissem formar maioria alargada no Parlamento. O mais curioso destas eleições antecipadas, foi o descaramento "democrático" do líder dos liberais, Vlad Filat, que apelou a que: “desta vez o Partido Comunista demonstre maturidade e, em nome do interesse nacional, aceite a derrota.” Fazendo de conta que não contribiu a priori para a séria crise política e social em que o país caiu e que não ignorou a vontade popular expressa nas primeiras eleições.

Volvidos estes episódios demonstrativos da natureza democrática, o Governo de todos os interesses da Moldávia quis, em 2010, incluir na Constituição do país a proibição de utilização de todos os nomes e símbolos comunistas, a ser submetido a referendo. O que acabou por não se concretizar.

No entanto, na passada semana – curiosamente a última antes das férias parlamentares – a direita moldava, timidamente maioritária no Parlamento, leva avante a sua ambiciosa intenção e faz aprovar a proibição das referências e da simbologia comunista no país.

Para além de demagógica e antidemocrática, para que ninguém se engane, contra o totalitarismo ditaturial a medida e a intenção contribuem zero. O objetivo é por via administrativa garantir a continuidade de um governo crescentemente impopular, atrofiando as possibilidades eleitorais do PCRM, e em última instância provocar a sua definitiva ilegalização.

Pouco interessa se o PC moldavo foi o único partido que sempre aceitou o resultado que obteve em qualquer eleição no país, o que na verdade importa, é limpar do mapa uma força política maioritária na sociedade, que estorva a elite moldava.