Big Mac, um cardápio pouco olímpico

Faltando poucos dias para o começo dos Jogos Olímpicos de Londres, no dia 27, as críticas à já tradicional associação dos organizadores com o patrocinador McDonald's surgiram entre as manchetes.

Por Isabelle de Grave e Stephanie Parker, na agência IPS

Este ano, protestam não apenas ativistas da sociedade civil contra o gigante do fast food, como também dirigentes políticos. "Londres ganhou o direito de organizar os Jogos de 2012 com a promessa de deixar um legado para crianças mais sãs e ativas", afirmou Jenny Jones, do Partido Verde, diante da Assembleia de Londres, de 25 membros, dominada pelo Partido Trabalhista.

"Entretanto, o próprio Comitê Olímpico Internacional (COI), que cedeu a organização a Londres, insiste em manter os acordos de patrocínio com os fornecedores de alimentos altamente calóricos que favorecem a ameaça de uma epidemia de obesidade", detalhou Jones, que propôs excluir McDonald's e Coca-Cola, entre outros, das empresas patrocinadoras.

A estratégia de mercado do McDonald's significa que o investimento em formação esportiva segue lado a lado com a venda de comida do tipo fast food a baixo preço e com muitas calorias. No Reino Unido, a companhia oferece US$ 117 mil aos clubes locais de futebol.

"O McDonald's adiantou-se às críticas contra sua comida suja há 30 ou 40 anos. Todas estas décadas esteve construindo uma estrutura e boa vontade para desviar as acusações sobre o impacto de seus produtos na saúde", observou à IPS Sara Deon, da Corporate Accountability International, destacando que o patrocínio dos Jogos Olímpicos é um exemplo dessa política.

O McDonald's é patrocinador oficial dos Jogos Olímpicos desde 1976. Há pouco, conseguiu ampliar seu contrato com o COI até 2020. A Coca-Cola também faz parte dos Jogos desde 1926. Segundo Benjamin Seeley, do COI, a companhia "patrocina mais de 250 atividades físicas e programas de educação nutricional em mais de cem países".

Mais de 40% da renda para a organização da competição mundial depende desses acordos comerciais, e McDonald's e Coca-Cola são dois dos principais contribuintes. A rede de fast food não respondeu aos reiterados pedidos de comentários sobre a qualidade de seus produtos em relação às necessidades nutricionais de adultos e crianças, e a respeito das críticas contra sua promoção das Olimpíadas.

Médicos e defensores de uma boa alimentação também se mostraram preocupados pelo fato de as companhias serem patrocinadores oficiais, especialmente no contexto do crescente problema de obesidade no Reino Unido. Ativistas da sociedade civil planejaram boicotar o patrocínio do McDonald's por considerar que não merece o prestígio dos Jogos Olímpicos por oferecer gordura e açúcares, e por suas manipuladoras iniciativas de mercado.

Ceci Charles-King, ativista pela justiça nutricional, disse à IPS que é preocupante "a mensagem para crianças e adultos. O McDonald's é hidrogênio, sal e calorias vazias. A Coca-Cola é açúcar, xarope de milho rico em frutose e calorias vazias". A Academia de Colégios Reais de Medicina declarou que o patrocínio do gigante do hambúrguer passa uma mensagem errônea no Reino Unido, que concentra a maior quantidade de pessoas com sobrepeso na Europa – 22% da sua população é considerada obesa.

Ao se procurar os valores nutricionais do cardápio infantil no site do McDonald's Estados Unidos só se encontra o conteúdo de calorias, gorduras e proteínas, e omite-se o de gorduras saturadas, sal, vitaminas e açúcares. É necessário buscar a informação em outra seção. "O alimento continua tendo muito açúcar, gordura e sal. As chamadas 'opções saudáveis' não servem para quem busca alternativas realmente saudáveis", apontou Deon à IPS. "A fruta e a sobremesa com aveia e geleia contêm mais gramas de açúcar do que uma barra de chocolate", acrescentou, como exemplo. "São pouco mais que um veículo para vender produtos com gordura e pão, hambúrguer, batata frita e refrigerante", ressaltou.

O investimento do McDonald's em programas para promover a atividade física "não basta para a mudança significativa que precisamos para atender a epidemia de doenças derivadas da dieta, e a companhia deve centrar-se no assunto principal e acabar com o marketing voltado às crianças", enfatizou Deon. O restaurante do McDonald's na vila olímpica é o maior do mundo, com capacidade para 1,5 mil pessoas. A previsão é de que receba cerca de 14 mil clientes por dia durante os Jogos, e que distribua brinquedos temáticos com os cardápios infantis.

A diretora-executiva do McDonald's para o norte da Europa, Jill McDonald, argumentou que os atletas sabem melhor do que ninguém o que devem comer. "O COI se associa com organizações que trabalham de acordo com os valores do movimento olímpico", ressaltou Seeley à IPS. Este não é o primeiro ano que as empresas patrocinadoras dos Jogos Olímpicos são criticadas. Em 2008, defensores dos direitos humanos organizaram um boicote para acabar com a participação do McDonald's e de outras empresas semelhantes.

Não só as companhias que vendem alimentos recebem críticas. Dirigentes e atletas indianos não participarão das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos em protesto pelo patrocínio da Dow Chemical. A empresa é proprietária da Union Carbide, cujo vazamento de gás em 1984 na cidade indiana de Bhopal causou a morte de mais de 22 mil pessoas, além da contaminação do solo e das fontes de água que levará anos para limpar.

Fonte: Envolverde