Azenha: mídia expulsa Coca-Cola da Bolívia, em meme internacional

No artigo Luiz Carlos Azenha explica que a Coca-Cola não será expulsa da Bolívia, como foi noticiado pela mídia. A notícia vem circulando na rede faz algum tempo. A Coca-Cola teria sido expulsa da Bolívia. Cai bem à esquerda e à direita (O Globo deu a ‘notícia’ atribuindo à Agência Venezuelana de Notícias, mas depois o link sumiu).

Por Luiz Carlos Azenha, em Vi o Mundo

[Aqui, na Folha]

[Aqui, o primeiro link que recebi por e-mail, de 22 de julho]

À esquerda, uma vitória contra a “água negra do imperialismo”. À direita, mais uma demonstração da falta de noção do governo do presidente boliviano Evo Morales.

Ah, os preconceitos…

Recebi a notícia por e-mail, faz dias. Tentei checar a origem. Fui atrás dos comentários atribuídos ao chanceler boliviano, David Choquehuanca.Aconteceu num evento em Copacabana, às margens do lago Titicaca, do qual também participou Evo Morales.

Na ocasião foi anunciada uma festa que será realizada em 21 de dezembro, que marca o solstício de verão.Choquehuanca afirmou: “El 21 de diciembre de 2012 es el fin del egoísmo, de la división, el 21 de diciembre de 2012 tiene que ser el fin de la Coca Cola, el comienzo del ‘mocochinchi’ (refresco hervido de durazno seco), del ‘wilkaparu’ (de maíz)”.

Foi uma declaração, vamos dizer, “cultural”. Não é o fim literal da Coca-Cola, nem na Bolívia, nem no mundo. Ele quis dizer que a partir daquela data a era da Coca Cola dará lugar à era das tradicionais bebibas indígenas.

Choquehuanca, como Evo Morales, é aimará.

A ilha do Sol, onde vai acontecer a cerimônia reunindo indígenas de várias partes do mundo, é tida como lugar originário de Manco Cápac e Mama Ocllo, fundadores de Machu Picchu.
Na ocasião, Choquehuanca também falou sobre o filme 2012, que trata de um cataclisma global supostamente previsto no calendário maia.

Ele afirmou que 21 de dezembro não marca o fim, mas um recomeço:
“Es el fin del odio, el comienzo del amor, es el fin del capitalismo y es el comienzo del comunitarismo”.

É óbvio que as declarações de Choquehuanca provocaram reações na Bolívia.
Um colunista do jornal La Razón, por exemplo, escreveu uma coluna brincando com uma pesquisa feita por um site mostrando que o tradicional refresco de pessego, o mocochinchi, custa duas vezes mais que a Coca Cola em La Paz.
Segundo o jornalista o chanceler teria dito outras pérolas no passado, como: “Las piedras hasta sexo tienen para nosotros. Hasta edad tienen. Hay piedras abuelo y piedras niño”.

Se o chanceler disse isso mesmo, ou não…
O fato é que a Coca-Cola não foi expulsa da Bolívia. Nem por decreto presidencial, nem por decisão do Congresso, nem por medida administrativa. Pelo menos, não por enquanto.
É o que disseram todos os bolivianos com os quais conversei, hoje, por telefone.
Da redação do El Diario, de La Paz, a repórter de cidades Celeste disse que houve muita fofoca sobre a declaração do chanceler, não mais que isso.

Liguei em seguida para a redação do La Prensa, também de La Paz. A repórter de economia Gabriela Imaña Vásquez disse que não há qualquer decisão oficial sobre expulsar a Coca Cola do país. De fato, disse ela, a declaração do chanceler causou controvérsia. Mas ficou nisso.
Na sede da Agência Boliviana de Información, o responsável por dar uma declaração oficial não estava, mas quem me atendeu disse que a “notícia” era falsa.

Finalmente, liguei para a engarrafadora da Coca-Cola em Santa Cruz de la Sierra, a Embol, onde a assessoria de imprensa informou que “seguimos trabalhando normalmente” e que nada sabem sobre a notícia divulgada no Brasil.

Pelo menos por enquanto, relaxem. Os bolivianos vão continuar bebendo Coca Cola (a minha Zero, por favor).