Brasil tem 241 rotas de tráfico de seres humanos
Dados do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescente dão conta da existência de 241 rotas de tráfico de pessoas no país. A informação consta da Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de exploração Sexual Comercial no Brasil (Pestraf), a única disponível sobre o tema no Brasil, de 2002.
Publicado 03/08/2012 17:11
Do total, 110 são relacionadas com o tráfico interno – intermunicipal e interestadual – e 131 com o tráfico internacional. A região Norte tem a maior concentração de rotas (76), seguida pelo Nordeste (69), Sudeste (35), Centro-Oeste (33) e Sul (28).
O presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo, comentou em reunião da CPI do Senado contra o tráfico humano no dia 27 de junho que as rotas dirigidas a outros países visam ao tráfico de mulheres adultas, e as domésticas, as adolescentes.
Bicudo disse que os traficantes raramente são apanhados porque, para isso, teriam de ser flagrados viajando com a pessoa, por isso muitas vítimas são levadas por parentes. Ele mencionou ainda estatísticas dando conta que 13,28% das denúncias mostram que o explorador é parente da vítima, geralmente pai, padrasto, tio, às vezes a própria mãe. "O medo de represálias impede as vítimas de solicitar a intervenção da polícia", relatou Bicudo.
Goiás na ponta
A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de Goiás, Nelma Maria Pontes, também relatou em audiência pública da CPI da Câmara que em um centro de atendimento a vítimas de exploração sexual na Espanha, três entre cada quatro mulheres eram brasileiras de Goiás, o estado com maior número de vítimas deste crime no país.
Nelma contou que deu atendimento a uma vítima que teria dito que se alimentava uma vez por dia. "Que se ela quisesse comer mais alguma coisa tinha de pagar. Que tinha de pagar o preservativo. Que era difícil fazer higiene pessoal entre um cliente e outro porque não dava tempo, e que não podia deixar de trabalhar nem quando estava menstruada", relatou aos deputados.
Pará e Amapá em destaque
Em audiência da CPI da Câmara no dia 26 de junho, a coordenadora da Comissão Justiça e Paz (CJP) do Regional Norte 2 (Amapá e Pará) da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), irmã Marie Henriquieta Ferreira Cavalcante, relatou casos de tráfico de adolescentes do Pará e Amapá para exploração sexual. Ela disse que há uma tolerância da sociedade, que vê e aceita e não caracteriza a situação como tráfico humano.
A irmã Marie, que vive ameaçada de morte, comentou que os principais destinos são as capitais do Suriname (Paramaribo) e da Guiana Francesa (Caiena). "Existe uma interligação muito forte entre exploração sexual, tráfico de pessoas, tráfico de drogas e trabalho escravo."
Irmã Marie mencionou também a Ilha de Marajó, no Pará, onde meninas são aliciadas para serem exploradas em balsas. "O tráfico acontece ao nosso lado e não sabemos identificar", disse. "A falta de políticas públicas, de alternativas de trabalho e a desigualdade social fazem com que as pessoas se submetam o trabalho escravo pela promessa de uma vida melhor", analisou.
Fonte: Rede Brasil Atual