Copa e Olimpíadas podem incentivar esportes nas escolas

Com a aproximação da Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, em 2016, muito tem se falado sobre o que essas obras deixarão para as cidades em termos de infraestrutura e mobilidade urbana. Mas, para além da discussão do investimento físico feito nos locais, qual será o legado social desses eventos para a população brasileira?

Em ano de eleições municipais, organizações sem fins lucrativos têm se mobilizado para que essa questão seja colocada no centro do debate eleitoral. Nesse sentido, a ONG Atletas pela Cidadania, o Instituto Ethos, a Rede Nossa São Paulo e a Rede Brasileira de Cidades Sustentáveis, em parceria com a Fundação Avina e apoio da Cidade Escola Aprendiz têm organizado encontros com os candidatos à prefeitura em cada uma das 12 cidades-sede da Copa.

A ideia é aproveitar a discussão em torno do tema e propor metas que democratizem e qualifiquem o esporte no país. “Devemos seguir a inspiração de Londres, que investiu na questão sustentável das construções, mas também promoveu programas federais para aumentar a atividade física dos britânicos e melhorar a prática esportiva nas escolas”, afirma a diretora executiva da Atletas Pela Cidadania, Daniela Castro.

A instituição propõe que os candidatos assinem o Termo de Compromisso Cidades do Esporte, que visa o desenvolvimento de uma cultura esportiva e a garantia do acesso ao esporte de qualidade. Para isso, deve-se dobrar a prática esportiva dos moradores das cidades-sedes, até 2016, e da população em geral, até 2022; ter 80% das escolas públicas das cidades-sede com aulas qualificadas de educação física, e em 100% do país, até 2022; além da criação de um Sistema Nacional do Esporte.

Daniela explica que será feito monitoramento e um relatório anual da evolução dos indicadores dessas metas. O termo foi assinado por candidatos do Rio de Janeiro, Manaus (AM) e Cuiabá (MT), onde o encontro já foi realizado. O próximo debate será promovido em São Paulo, em 1º de agosto, no Teatro do Sesc Consolação.

Esporte educacional nas escolas

Quando o assunto é esporte nas escolas brasileiras, existem problemas não só de infraestrutura, mas também de qualidade do ensino. Uma pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística), em novembro de 2011, em escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio do Brasil revela que 30% desses estabelecimentos não oferecem um espaço qualquer para a prática de Educação Física – não necessariamente uma quadra. Além disso, 13% não têm bola de futebol e 56% não têm um vestiário adequado.

Apesar da maioria dos professores entenderem a importância da prática esportiva no desenvolvimento dos alunos, 21% afirmam que a Educação Física não é tratada com a mesma importância de outras disciplinas. Daniela acredita que isso é bastante prejudicial para a qualidade da educação. “Se o esporte fosse inserido dentro de um projeto pedagógico, ele poderia contribuir para o aprendizado de outras matérias e aumentar o interesse do aluno pela escola, diminuindo a evasão escolar”, enfatiza.

A ex-tenista Patrícia Medrado, considerada a melhor atleta da modalidade por 11 anos consecutivos, reforça que o esporte tratado de forma lúdica pode inserir noções de disciplinas como matemática, história, artes e ciências, “trabalhando a interdisciplinaridade e abrindo a cabeça das crianças para o mundo em que vivem”. A baiana é fundadora do Instituto Patrícia Medrado, que leva a prática esportiva orientada, com um enfoque educacional, a inúmeros espaços públicos, ampliando a oferta à comunidade em geral.

A organização trabalha o conceito de esporte educacional elaborado pela Unesco, o mesmo defendido pela Atletas pela Cidadania. “Nada mais é do que o esporte de qualidade voltado a todos, contribuindo para a formação integral dos indivíduos e não simplesmente para o alto rendimento, que são as competições e a conquista de medalhas, dando menos ênfase ao ganhar e mais ao participar”, explica.

Segundo ela, esse tipo de trabalho pode estimular o aprendizado de valores como disciplina, cooperação, emancipação, totalidade e ainda desenvolver noções de pertencimento, o que ajuda na transformação e inclusão social. Patrícia explica que 75% dos professores ainda são adeptos da prática livre, o que na maioria das vezes gera uma segregação entre os alunos mais hábeis e os menos hábeis.

Em contrapartida, a ideia do esporte educacional é que o esporte de qualidade seja levado a todos da mesma forma, sem diferença de gênero ou habilidades motoras. 

Fonte: Portal Aprendiz