Dia do Estudante: o movimento estudantil não vive do passado
O 11 de agosto, Dia do Estudante, tem servido para comemorar conquistas históricas dos jovens brasileiros. Neste sábado (11), a UNE e a Ubes estarão juntas para celebrar, entre outras conquistas, a aprovação do Senado do projeto que garante 50% das vagas em universidades federais para alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas. Além disso, o projeto prevê cotas raciais de forma justa e inclusiva, de acordo com a população de cada região.
Por Carla Santos*
Publicado 08/08/2012 19:50
O ato também comemorá os 75 anos da UNE e contará com a participação de ex-presidentes das entidades irmâs, bem como diversas personalidades. A partir das 14 horas, o terreno histórico da Praia do Flamengo, 132, será palco de um ato que marcará o início das obras da nova sede dos estudantes, esta projetada pelas mãos do arquiteto Oscar Niemeyer em homenagem ao prédio então destruído no mesmo local pela didatura militar.
As recentes conquistas, inclusive a retomada do terreno e a reconstrução da sede, são frutos de lutas e bandeiras antigas de diversos grêmios estudantis e centros acadêmicos de todo país. Elas são o resultado do suor e da saliva de inúmeros personagens anônimos ou não — hoje pais de família, empresários, intelectuais, trabalhadores, artistas, políticos – que dedicaram sua juventude à resistência ao neoliberalismo e por um Brasil para todos os brasileiros.
A nova geração
Contudo, as vitórias são, sobretudo, uma conquista desta nova geração. Conectados na era digital, a juventude brasileira de hoje vem durrubando dia a dia o mito de que o movimento estudantil morreu. Mostram, a cada novo projeto encampado — das ações dos Cuca's (Centros Universitários de Cultura e Arte) à luta por 10% do PIB para a educação, que os estudantes valorizam o seu passado, mas não vivem dele. Fazem história no presente, de olho no futuro.
Talvez o maior mérito do vitorioso movimento estudantil de hoje tenha sido compreender o novo momento político a partir da eleição de Lula, em 2002. Diferente de FHC, Lula abriu o diálogo com a juventude, e mesmo que não tenha atendido a todas as reivindicações, reconheceu a justeza de suas ideias.
Ainda que tenham partido de um corpo técnico do governo e possam ser infinitamente melhoradas, medidas como o ProUni, o Reuni, a construção de inúmeras universidades federais e centros tecnológicos são apenas alguns dos exemplos que respondem à parte da histórica luta pelo acesso à educação, bandeira tão cara e fundamental ao movimento estudantil desde as primeiras mobilizações.
A luta não para
Certo é que, apesar das boas notícias, muito ainda há de ser conquistado pela juventude deste país. Não é novidade que a qualidade da educação básica permanece sendo um desafio quase invencível para os governos municipais, estaduais e federal.
Também para a grande maioria dos jovens trabalhadores estudar tornou-se um desafio hérculo a ser vencido diariamente, já que depois de uma longa jornada de trabalho entrar na sala de aula no fim do dia é quase um milagre.
O acesso à cultura ainda é um mistério para a maioria da juventude que mora na periferia. Mesmo o emprego digno, em que pese as tentativas para regulamentar o estágio, permanece um caso raro de se ver.
Estas são apenas algumas das muitas questões que fazem do movimento estudantil algo tão essencial ao século 21 quanto foi ao século 20. Por mais que os tempos mudem, algumas amarras persistem ao tempo. É contra estas amarras, que impedem a liberdade do homem indivíduo sonhar-se coletivo, por que luta a juventude.
A nova geração de lutadores não aprece na TV, mas é a responsável pelo João, pedreiro e pai do José, estar agorinha mesmo comentando com o seu patrão: “ – Sabe chefe, meu fio tá no primeiro ano do curso de Medicina. Eu nem acredito que já posso sonha em tê um fio dotô ”. É, esperança só vale muito pouco para quem nunca precisou dela.
Duvida? Então veja abaixo o vídeo sobre o 2º Encontro carioca de cotistas e do ProUni, realizado pela UNE:
*Jornalista da TV Vermelho e ex-presidente da Ubes (1999-2001) que estudou a vida inteira em instituições públicas de ensino.