Um homem chamado Jorge Amado

No dia de 10 de agosto de 2012 fará um século do nascimento desse brasileiro extraordinário, presença constante nas vitrines de todo o mundo e nos corações de tantas pessoas de tantas nacionalidades. Tive o prazer de conviver com ele na altura em que tinha 80 anos.

Por Urda Alice Klueger

Jorge Amado sendo entrevistado em casa

Acho que devo homenageá-lo publicando novamente o texto que escrevi naquela altura.
Aí com seus orixás, onde quer que esteja, muitas saudades, meu querido baiano nº 1!
(Texto escrito originalmente para publicação num jornal português. Deverá ter uma observação a esse respeito, ao ser publicado, para que sua leitura fique clara.)

Numa das varandas da casa de Jorge Amado, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador/Bahia, há uma curiosa escultura. Estávamos a conhecer a casa, eu e minha amiga, a poetisa e jornalista Tânia Rodrigues, e pisávamos no chão como se pisássemos em ovos, tamanha era a emoção por estar, afinal, na casa de Jorge Amado, quando deparamos com aquela escultura. Era de um escultor cearense, e fora feita com duas antigas máquinas de costura manuais. O escultor adaptara as duas máquinas, colocara-lhes orelhas, focinhos, etc., e elas tinham se transformado em um casal de cachorros. A cachorra estava no chão, em pose de espera; o cachorro, apoiado nas patas traseiras, mantinha-se em diagonal sobre ela, exibindo avantajada pua como órgão sexual.

Vínhamos lentamente pela varanda pejada de objetos de arte e, quando passávamos pela escultura do cearense, Jorge Amado deu um empurrão no cachorro. De imediato ele bateu numa forte mola que eu não tinha percebido, e pôs-se a fazer valente movimento de vai-e-vem, imitando perfeitamente o que aqui no Brasil a gente chama de transar, ou furunfar, e como não sei o nome popular dessas coisas aí nos Açores, esclareço que o cachorro passou a fazer aqueles doces movimentos que dão origem aos cachorrinhos.

Eu e Tânia ficamos espiando com o rabo dos olhos a transa dos cachorros, e D. Zélia Gattai, a queridíssima D. Zélia Gattai, deu uma bronca no marido:

– Que é isso, Jorge? O que é que as moças vão pensar?

Jorge Amado ria com gosto.

– Ora, Zélia, as moças já viram disto, não vão estranhar!

E o cachorro continuou batendo na mola e furunfando com força enquanto nos afastávamos.

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Eu provenho de uma família humilde do Sul do Brasil. Minha região é de colonização alemã, e meu Estado, o de Santa Catarina, caracteriza-se por ser formado de muitas “ilhas culturais”. A região alemã onde me criei é ladeada de um lado por uma região de colonização italiana; do outro, pelos descendentes dos açorianos que para cá vieram no século 18. Meus pais eram pequenos comerciantes sem muitas luzes, e tenho certeza de que nunca passou pela cabeça deles que uma das filhas se tornaria uma escritora, e que um dia iria conhecer pessoalmente um monstro sagrado como Jorge Amado.

Criei-me lendo muito, muito e muito, e lá pelos 12 anos deparei-me a primeira vez com um livro de Jorge Amado. Foi ler e gostar – nosso grande escritor fascina ao primeiro contacto. E passei a minha vida a procurar os livros dele, a viver através dos livros uma Bahia fantástica e maravilhosa, e o tempo passou, e um dia já tinha mais de trinta anos e fui conhecer a Bahia.

O Brasil é muito grande. Da minha casa, em Blumenau/SC, até Salvador/BA, são 3.000 km e 48 horas de ônibus, mas tudo correu bem, e num final de tarde cheguei a Salvador. Deveria estar moída pelos dois dias e duas noites no ônibus, mas a fascinação que pressentia na Bahia de Jorge Amado me tirou todo o cansaço: foi só tomar um banho e fui para a rua, a descobrir o que havia de verdade no que havia lido. E foi como se conhecesse a cidade, foi bem como se entrasse num livro de Jorge Amado!

A Bahia é um lugar mágico! Conheço, hoje, 16 países e 16 estados brasileiros, e continuo afirmando que a Bahia é o melhor lugar do mundo! A Bahia mistura tudo: Arte e a História, o Brasil e a África, a beleza e o encanto, as religiões e a magia. Totalmente encantada com a Bahia, nos seis anos seguintes voltei lá sete vezes, enfrentando, a cada vez, 48 horas de ônibus. Só para que aquilatem o quanto a Bahia é maravilhosa, nesse ínterim fui passar um mês em Paris. Todos nós, brasileiros, sentimos uma grande fascinação pela Europa, e eu achei que passar um mês em Paris seria a coisa mais maravilhosa da minha vida. Só que, depois que estava uns quatro ou cinco dias em Paris, tudo o que eu pensava era “O que é que eu estou fazendo aqui? Por que é que não fui para a Bahia?”

Encantadora Bahia, só ela poderia produzir um escritor como Jorge Amado! Eu gostaria de falar muito e muito mais sobre a Bahia, mas vamos voltar a Jorge Amado antes que o espaço acabe.

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Já havia lido cerca de 30 livros de Jorge Amado, e alguns de Zélia Gattai, sua mulher, quando, em 1994, li Navegação de Cabotagem, as memórias do nosso grande Mestre. Até aí eu pouco sabia sobre a sua figura humana, que se me afigurava distante, inatingível, inacessível para os comuns dos mortais, e tive a maior surpresa ao descobrir, em Navegação de Cabotagem, a existência de um Jorge Amado humano, brincalhão, pícaro, cheio de amigos, e aquilo me encorajou a lhe escrever uma carta, falando do quanto gostara do livro e do quanto gostava da Bahia. E claro que não esperava resposta de uma pessoa tão ocupada, e quase morri do coração quando, uns dez dias depois, recebi uma resposta dele. Foi assim que começou nosso contato, e quando ele soube que eu iria à Bahia em novembro daquele ano, mandou-me o telefone para que o procurasse.

Tânia Rodrigues e eu prendíamos a respiração quando, já em Salvador, ligamos do hotel para a casa dele. Imaginávamos ser atendidas por uma secretária, e quase morremos do coração quando ele próprio atendeu ao telefone e ajeitou a sua agenda mental para achar um espaço para nós. Combinamos um encontro para a tarde, na Academia de Letras da Bahia, onde ele tinha um compromisso.

E claro que vestimos roupas novas e nos enchemos de perfume para o grande encontro. Quinze minutos antes da hora marcada já estávamos no lindo prédio da Academia, o coração batendo forte de emoção. Os acadêmicos que foram chegando nos deixaram à vontade, a sala onde estava foi-se enchendo, e, de repente, na maior simplicidade, adentra a ela Jorge Amado em pessoa, perguntando se ali estava uma escritora de Santa Catarina com quem marcara encontro. Vestia-se todo de branco, com roupas leves e confortáveis, e era igualzinho como a gente o via em fotografias ou na televisão. Foi extremamente simpático desde o primeiro momento, e nos convidou para sala contígua, onde poderíamos conversar à vontade.

Nessa ocasião, ele estava com 80 anos, mas sua lucidez e agilidade mental eram surpreendentes. Sentamo-nos a conversar, e como ele gosta de conversar! Ele fala baixinho, a gente tem que chegar bem perto para ouvir bem, e suas histórias são sempre interessantes e bem humoradas. Contou-nos muitas coisas naquela tarde, principalmente sobre sua família. Como todo bom brasileiro, tem uma avó índia (Zélia Gattai conta nos seus livros o quanto a sua sogra era índia, com negros cabelos escorridos), e, como bom brasileiro, também, acha que tem sua parcela de sangue judeu, por parte dos Amados, coisa que nunca conseguiu comprovar. Eu adoro ouvir histórias, e ouvi-las diretamente da boca do nosso maior escritor era algo que estava além dos meus melhores sonhos. Poderia ter ficado o resto da vida ali, mas o tempo urgia e Jorge Amado foi chamado para votar alguma coisa na reunião da Academia. Votou e, gentil, veio nos buscar. Sou acadêmica aqui do meu Estado de Santa Catarina, mas não esperava que ele fizesse o que fez: chamou-me para a mesa, apresentou-me como acadêmica, fez-me honras que me deixaram até acanhada. Foram servidos vinhos e deliciosos quitutes baianos (ah! a comida baiana é única no mundo!), outros acadêmicos me requisitaram, e quando vi, já era hora de ir embora. Fui despedir-me de Jorge Amado, agradecer-lhe por aquele inefável tempo em sua companhia, por aquela oportunidade que julgava única na vida, feliz demais por ter tido o privilégio de, uma vez na vida, ter privado da presença do meu ídolo, certa de que o sonho acabara, mas ele tinha outros planos:

– Amanhã vocês vão até minha casa! – e aquilo era mais do que eu julgara poder esperar na vida.

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No dia seguinte, à hora aprazada, Tânia Rodrigues e eu saltamos de um táxi diante da casa de Jorge Amado. Ela se situa no bairro do Rio Vermelho, o primeiro dos bairros na orla marítima de Salvador, e está construída sobre um morro. A parte que dá para a rua está cercada por alto muro, e os meninos da vizinhança picharam esse muro com seus sprays, criando nele todo o tipo de desenhos e de slogans. Há apenas uma porta encravada nesse muro, onde, depois que tocamos a campainha, fomos de imediato atendidas por uma simpática empregada chamada Rose, que já nos esperava. Ela conduziu-nos a uma sala de visitas onde, numa mesa cheia de livros espalhados sobre toalha de crivo, Jorge Amado nos aguardava. Fiquei toda orgulhosa ao ver um livro meu sobre aquela mesa.

Acho que vale a pena contar sobre a casa de Jorge Amado. Ele e Zélia construíram aquela casa faz mais de 30 anos, quando o bairro do Rio Vermelho era ainda pleno subúrbio, e não a região altamente valorizada e urbanizada que é hoje. Estão no topo do morro; lá de cima, tem-se esplêndida vista para o mar e para a baia de Todos os Santos, o que, aqui no Brasil, é coisa muito valorizada. Na época, os dois plantaram à volta da casa muitas e muitas mudas de árvores, e com a facilidade que existe aqui no Brasil de as florestas se desenvolverem, hoje a casa está no meio de uma verdadeira floresta, que, inclusive, tirou a vista do mar.

A casa é ampla e arejada, adequada ao clima baiano, e está rodeada por espaçosas varandas, onde, tive a impressão, é o lugar em que Jorge Amado e Zélia Gattai passam a maior parte do seu tempo. Num dos lados tem uma piscina antiga, sombreada de árvores. Por toda a casa, tanto do lado de dentro quanto nas varandas, prateleiras correm ao longo das paredes, prateleiras pejadas de objetos de arte de todas as partes do mundo, que o casal colecionou durante toda a sua vida. A impressão geral que dá é de frescor, de leveza, de paz, quase como se a casa e sua pequena floresta fossem voar.

Jorge Amado acabara de sair da piscina. Usava bermudas azuis e uma camisa muito florida, desabotoada. Disse-nos para que ficássemos à vontade, e passamos a remexer nos livros que estavam sobre a mesa, quando entrou na sala a luz chamada Zélia.

Eu sabia que, indo à casa de Jorge Amado, acabaria conhecendo Zélia Gattai, e imaginava que ela seria um pano-de-fundo para o que ocorresse lá. E quando ela chegou e trouxe toda a sua luz., bastaram alguns segundos para que ficasse evidente que quem se tornava pano-de-fundo era Jorge Amado.

E impossível conceber-se Jorge Amado sem Zélia Gattai. Há que se ler os cinco livros de memórias e o romance que ela escreveu, para se ter uma ideia de quem é Zélia. Mas há que se conhecê-la pessoalmente para se aquilatar o real valor daquela mulher.

Zélia é a mais meiga, mais linda, mais forte, mais intensa, vibrante e suave das mulheres. Conhecê-la foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida – que dizer da sorte de Jorge Amado, que priva da sua presença há mais de cinquenta anos? A imensa energia de Zélia nos envolveu, e, quando dei por mim, estávamos todos sentados numa das varandas, com Rose, a empregada simpática, a nos servir sorvetes.

Eles são extremamente simples. Jorge Amado estava sentado em confortável cadeira de lona, e Zélia acomodara-se em lindíssima cadeira-de-balanço, antiga peça muito bem trabalhada em madeira negra que, ela explicou, é a última peça que resta das que seu pai trouxe da Itália quando emigrou para o Brasil. As cadeiras estavam próximas, e era evidente a compreensão e o carinho com que os dois se tratam. Começamos a conversar, e eles nem se davam conta dos gestos de ternura que faziam um no outro: Jorge Amado acariciava com leveza a nuca de Zélia, num lento e suave movimento que dura há mais de cinquenta anos; Zélia, por sua vez, acariciava com a mesma leveza a perna que ele cruzara ao sentar-se, e aquilo era uma coisa tão natural entre os dois, refletia uma intimidade e um entendimento tão grandes, que senti a garganta apertada de emoção.

A conversa correu leve e fácil. Os dois, agora, nos contavam de passagens de suas vidas e de suas famílias (naquele dia, seu filho João Jorge fazia 47 anos, e eles tinham comemorado com um almoço). Fomos interrompidos pelo telefone: um amigo de Portugal estava a ligar, e eles ficaram passando o telefone um para o outro, e conversando animadamente com o português como se ele estivesse ali junto. Depois, nossa conversa continuou, mas aí Jorge Amado lembrou-se de que tinha um recado para seu motorista, e chamou-o. Um simpático baiano apresentou-se, e recebeu a incumbência de ir buscar uma caixa de doces na casa de alguém que voltara de viagem ao Ceará.

– Vá depressa! – brincou ele. – Fulano é muito guloso, se deixar os doces lá por muito tempo, ele é capaz de comer todos!

Simples, brincalhão, de repente ele se lembrou que não nos oferecera uma bebida. Atrás de nós havia uma porta com um bar evidentemente super-sortido, e ele liberou:

– Vão, vão ali, peguem a bebida que vocês gostam! Não se acanhem, fiquem à vontade!

Não me servi, havia acabado de tomar o sorvete e não queria perder nenhum momento do que estava acontecendo; aí Jorge Amado resolveu nos mostrar a casa.

Com a simplicidade de um velho tio, ele nos levou por toda a sua casa. Conhecemos seu computador, especialmente adaptado para ele, que está com um sério problema de visão, o primeiro computador da sua vida, pois, enquanto enxergou bem, sempre usou a máquina de escrever. Ele quis nos mostrar como funcionava o computador, mas atrapalhou-se com os comandos – era evidente a sua saudade da velha máquina de escrever.

Andamos por toda a casa, até o quarto do casal nos mostraram, mas, sem dúvida, o mais impressionante de tudo, é uma biblioteca que existe na casa. E nessa peça que trabalha uma moça simpaticíssima, que é secretária do casal, chamada Rosani, e é ela que mantém organizados e encapados os livros que lá estão.

A sala é ampla e a biblioteca é bastante grande, e fiquei de boca aberta quando soube que tipo de livros havia ali. Naquelas prateleiras estava um exemplar de cada edição de cada livro de Jorge Amado em cada língua em que eles haviam sido publicados, e o meu coração brasileiro bateu forte ao ver o feito que um compatriota conseguira. Penso que, provavelmente, nenhum escritor vivo, no mundo, possa ter uma biblioteca como aquela. Os livros estão impressos em mais de 50 línguas e, se considerarmos que há línguas que são faladas numa porção de países, como o inglês e o espanhol, nossa cabeça dá um nó na hora de fazer as contas. Jorge Amado tirou da prateleira um livro ao acaso e o abriu: estava escrito em caracteres estranhíssimos, que com certeza não era o chinês, nem o japonês, nem o árabe – tratava-se, de certo, de alguma escrita asiática, e ele riu e fez um comentário sobre como se saber que tipo de tradução tinha sido feita do seu livro naquela língua da qual não entendíamos patavina.

Andamos, depois, ao redor da casa, vimos a piscina, embrenhamo-nos pela floresta até avistar o grande mar-oceano lá embaixo, e, coisa curiosa, por toda a parte havia sapos. Não eram sapos vivos, mas uma incrível coleção de sapos de pedra, de acrílico, de cerâmica, de todos os materiais, dispostos pelas calçadas e ao redor da piscina, presos ao chão com cimento, uma imensa coleção de sapos de todos os formatos e tamanhos como nunca julgara existir. Eram sapos de todas as partes do mundo, colecionados durante as muitas viagens do casal.

E, no meio da floresta, uma escultura de Exu, em metal negro, Exu, o orixá brincalhão, trazido há cinco séculos da África para o Brasil, e hoje um dos orixás importantes do candomblé brasileiro. Com muita graça, Zélia Gattai nos contou como explicara para o netinho a personalidade de Exu, recriou para nós um episódio familiar daqueles que sempre acontecem entre avós e netinhos, fez-nos crer que ela era uma avó quase igualzinha à qualquer avó.

Voltamos às varandas, passamos de novo pela escultura dos cachorros com que iniciei esta matéria, ele bateu de novo no cachorro que voltou a ser impulsionado pela mola que o colocou a furunfar, Zélia brigou com ele de novo, a simplicidade deles era uma coisa tão marcante que a gente se esquecia de que se tratavam de dois monstros sagrados. Zélia nos mostrou seus objetos de arte preferidos, e nunca me esqueço de uns vasinhos em vidro azul, que eles trouxeram do Irã; são vasinhos que as mulheres iranianas usam para recolher as lágrimas de saudade, quando seus maridos estão viajando. Ela nos falou, também, do seu primeiro romance, que ia acabar dentro de alguns dias, e eu a admirei ainda mais aos 78 anos, e a começar uma carreira de romancista!

Assim, conversando aqui e ali, passaram-se umas duas horas, e chegou um médico com o qual ambos faziam fisioterapia. Era hora de irmos. Fomos todos, de novo, para a mesa da sala, e Tânia e eu recebemos diversos livros autografados pelos dois. Enquanto eles escreviam suas dedicatórias nos livros, chegou de volta o motorista que fora buscar os doces. Era uma caixinha de madeira cheia de doces de caju, especialidade do Ceará, e, não perdendo a oportunidade de fazer uma brincadeira, Jorge Amado explicou ao médico:

– Sicrano me mandou três caixas de doces do Ceará, mas Fulano, que as trouxe, muito guloso, já comeu duas. Foi sorte termos salvado esta!

Ríamos enquanto ele abria a caixa. Fez questão que provássemos os doces de caju, comemos todos em conjunto, ele a elogiar o caju cearense, e o ambiente era alegre e descontraído como a casa da gente em dia de festa. Doía um monte, mas em seguida tínhamos que ir embora. Os sonhos não duram para sempre, e o nosso estava se findando. Efusivamente, Jorge Amado e Zélia Gattai se despediram de nós, para se entregarem às mãos do fisioterapeuta. E a gente foi embora. Mas nunca poderei esquecer.

Blumenau, 02 de março de 1996.

(*) Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR