Partido Comunista Colombiano: O novo país que queremos

Carlos A. Lozano Guillén é dirigente do Partido Comunista Colombiano e diretor do jornal Voz. Odiado por seus inimigos que diariamente o insultam e ameaçam de morte, apreciado em círculos políticos e sociais de todos os partidos e classes, onde reconhecem seus dotes intelectuais e de obstinado militante da paz. É um bom falador e sabe ouvir.

Por Freddy Vallejo, no Rebelión

Os assuntos abordados na entrevista passaram pelas diretrizes adotadas pelo Partido Comunista Colombiano após seu 21º Congresso, considerado histórico, e a atual conjuntura do país com a Marcha Patriótica e o conflito envolvendo as Farcs e o governo colombiano. O Vermelho publica a entrevista em duas partes. 

Argenpress: Dizem que os debates internos no Partido Comunista Colombiano são intensos, há rumores de divisões internas e de frações que ameaçam a unidade. Como concluiu o 31º Congresso Nacional? Quais são as principais decisões?
Carlos A. Lozano Guillén: No Partido Comunista Colombiano há debates internos, profundamente democráticos, sempre com a mais ampla participação de dirigentes e militantes. Nem mais faltava que primasse o reino da unanimidade. A unanimidade é antidemocrática, restringe a livre expressão e a liberdade de opiniões. A política dos comunistas se constrói coletivamente e sua formulação é a síntese do debate interno. Ainda que tampouco o partido seja um clube de discussões. Se adotam as decisões por maioria e regem para todo o partido. O Partido Comunista Colombiano tem um só Programa, um só estatuto, uma só linha política e uma só direção nacional. Todos os seus dirigentes e militantes estão na obrigação de acatá-los, depois do processo democrático de discussão e aprovação dos documentos.É o que vocês chamam de “centralismo democrático”?
Sim, senhor. É um princípio leninista de organização. O fundamento ideológico do Partido Comunista Colombiano é o marxismo-leninismo, entendido como uma teoria de aplicação concreta a realidades concretas. Sem critérios dogmáticos de nenhuma índole. Na hora da verdade, entendemos o marxismo-leninismo como teoria inesgotável, em permanente construção. A ideologia revolucionária é inesgotável, precisamente porque é dialética.

Argenpress: Bem, porém, conte-me, quais foram as conclusões principais do Congresso?
Carlos A. Lozano Guillén: Adotou-se o novo programa do Partido Comunista Colombiano, que é a linha estratégica, vigente para a realidade colombiana em função de nossa análise. O Programa faz a radiografia política, econômica e social colombiana; a composição social e as características do bloco de poder dominante; o caráter do regime, dependente do imperialismo estadunidense e em função dos interesses do grande capital, em particular do capital financeiro, da burguesia industrial e do poder latifundiário no campo. Sobre essa base se formulam as mudanças e reformas que propomos, que têm o objetivo fundamental da conquista do socialismo, democrático e humanista por excelência. É a antessala do comunismo, que varrerá para sempre a exploração capitalista.

Foram aprovadas as reformas estatutárias para adequar a organização às mudanças reais institucionais, administrativas, políticas, sociais e econômicas do país, ainda que também para fortalecer a militância política e o vínculo do partido com as massas. A ideia é de um partido metido na luta popular e com absoluta vocação de poder.

Também foi aprovada a linha política. Contém as orientações para a ação imediata, a tática, que se sustenta nas seguintes bases: Confrontação ao modelo neoliberal de acumulação do capital, baseado na chamada economia de livre mercado capitalista; resistência popular ao desenfreio dominante de fazer recair o peso da crise nacional sobre os trabalhadores e o povo; ação de massas e de mobilização popular com um programa mínimo, que não exclui a preparação e realização de uma paralisação cívica nacional em curto tempo; a luta pela paz, pela solução política e democrática do conflito colombiano, isto é, mobilização pela paz com democracia e justiça social; e a unidade da esquerda, a mais ampla unidade, no entendimento de que só uma frente ampla, popular, social, democrática e de esquerda é a via possível para forjar uma alternativa ao poder dominante burguês e oligárquico. É a proposta de um novo país, sobre as bases do pluralismo, da participação democrática e a maior equidade social. Um novo “contrato social” sobre a base de uma melhor e justa ordem política, social e econômica.

Também foi eleito o Comitê Central, a Comissão de Quadros e garantias e a Comissão Revisora de Contas. Fizemos tudo sem dor, sem brigas internas, sem debates ácidos e sem grupos ou frações. Foram debates intensos, democráticos, sem limites, porém criativos e construtivos, de tal sorte que todos coincidimos em que foi um grande Congresso, alguns o qualificam de histórico. Foi um Congresso no calor da luta popular.

Argenpress: Polo Democrático Alternativo ou Marcha Patriótica. Onde, em definitivo, vai ficar o Partido Comunista Colombiano?
Carlos A. Lozano Guillén: Esse não é nosso dilema. A unidade que projetamos é muito mais ampla, para além do Polo e da Marcha, porque não temos inimigos à esquerda. A chave para avançar para o poder democrático e popular está na unidade. Estamos no Polo porque cremos que é um espaço válido de convergência de forças políticas avançadas, somos conscientes de sua crise, porém também da possibilidade de resolvê-la se forem conseguidos acordos sobre a base da autocrítica que reclama o mestre [Carlos] Gaviria. O Polo Democrático Alternativo tem vigência, porém isso vai depender de sua capacidade de traçar uma política clara e definida de esquerda, de mudanças democráticas e de estreita relação com as massas populares. Ali é onde está a chave das alianças necessárias. Um Polo nas nuvens crê que as alianças e os acordos se pactuam por cima, até com “empresários democráticos” e por aí terminamos na “unidade nacional” ou em outro conto. O Polo deve abandonar a ideia de que é uma máquina de eleições e um instrumento de respaldos eleitorais. As eleições são importantes apesar de serem viciadas. Estão longe de ser expressão da democracia. Porém, são importantes e permitem estar no espaço da representação parlamentar e cargos de eleição popular. Porém, são insuficientes se não existe a relação com a luta e os anseios do povo colombiano. Não basta ir a uma marcha ou a um protesto, há que estar ao lado das massas, acompanhando-as e sofrendo com elas pelas razões que elas sofrem.

A Marcha Patriótica é um projeto social e político que não deve transcender tanto a certos dirigentes do Polo. A base social são as organizações populares, ainda que tenha a presença de partidos como a Esquerda Liberal de Piedad Córdoba e o Partido Comunista Colombiano. O mais importante nela é a presença de cerca de duas mil organizações de base, nacionais e regionais, de todos os tamanhos. É o que garante sua estreita relação com as lutas cotidianas do campo e da cidade. Seu chamado, como o fez também a Conferência Ideológica do Polo Democrático Alternativo, reunida há poucos dias, é a mais ampla unidade da esquerda e de setores democráticos e progressistas. Então, como você vê, não há pontos contraditórios, se complementam. Assim que não vemos problemas em permanecer no Polo e em ajudar no projeto social e político da Marcha, propugnando por aproximações com outros setores como o Congresso dos Povos e a Minga. O Polo deve ver a estes lados também, porque, se se impõe a ideia de acercar do centro, terminaria deformando-se, renunciando à sua condição de força de esquerda. Foi a diferença com Lucho Garzón e com Gustavo Petro, e veja onde terminaram acomodando-se. Um na “unidade nacional” e o outro bastante próximo dela.

Argenpress: O Moir [Movimento Trabalhista Independente Revolucionário, na sigla em espanhol] acaba de enviar ao Partido Comunista uma carta em que o convida a retirar-se do Polo; o mesmo chamamento, dizem, foi feita pelo ex-candidato presidencial Carlos Gaviria Díaz na Conferência Ideológica do PDA [Polo Democrático Alternativo]. Que responde o PC?
Carlos A. Lozano Guillén: Bem, até onde sei, nunca recebemos esta carta. Fizeram-na pública e um noticiário a comentou. É uma falta de cortesia que em política também existe. Porém, além disso, teria que dizer quem deu o direito ao Moir de decidir quem pode ou não pertencer ao Polo Democrático Alternativo. A velha militância maoísta lhes deixou o costume de atuar como comissários ou guardas vermelhos das organizações unitárias e de convergência. É uma falta de respeito. Quem não se sentir cômodo com um partido ou aliado no PDA, deve abandoná-lo, porque quem ingressou de maneira voluntária, da mesma forma decide sua permanência. Até onde conheço, o mestre Carlos Gaviria Díaz não fez tal manifestação na Conferência Ideológica, ainda que tenha dado opiniões, às quais tem direito, certamente, que não compartilhamos, ao qual também temos direito. Essa situação não modifica para nada nosso respeito, apreço e simpatia pelo mestre Gaviria.

Argenpress: Quais são as diferenças?
Carlos A. Lozano Guillén: O mestre sugere que Marcha Patriótica não tem explicado bem sua relação ou não com as Farc; e recorre ao velho e anacrônico argumento da combinação das formas de luta, sempre argumentado pela ultradireita e pelo militarismo para justificar a eliminação da esquerda e da União Patriótica. Umas mil vezes os porta-vozes de Marcha Patriótica declararam que não existem vínculos com as Farc, que sua causa é a paz, a solução política e democrática do conflito.

A Marcha não advoga pela guerra, é um movimento social e político civil e de atuação pública e legal. Que mais querem? Que mais se deve dizer para satisfazer aos obcecados? Além disso é repetir as acusações fraudulentas e perigosas dos mandos militares e da ultradireita criminosa.

Mais que discutir sobre a combinação das formas de luta, há que abrir o debate do novo Estado que se deve construir, sobre a base de eliminar a violência na relação entre governantes e governados. Aqui a violência foi inventada pelo Estado burguês-latifundiário, porque a classe dominante se acostumou a governar por meios repressivos, autoritários e violentos. Na Colômbia não existe um Estado democrático, mas sim totalitário, que se apoia em métodos violentos para aniquilar ao opositor. O Polo tem sido vítima disso. Perseguição e linchamento político com enorme respaldo midiático para acabar com ele. Precisamente por isso o tema em debate não é a combinação das formas de luta, mas sim a necessidade da paz, mediante o diálogo e a construção de democracia e justiça social.

Tradução da Anncol, revisão do Vermelho