Presidentes homofóbicos

O presidente do Equador, Rafael Correa, tem sido honesto com seu povo e assumiu publicamente que usou um termo discriminatório em seu programa de rádio La sabatina, na edição de 28 de julho passado, quando tentou defender-se de um "insulto” publicado na versão digital do jornal El Comercio, no qual um leitor qualificou o mandatário de "marica” e este, de maneira irracional, arremeteu contra o leitor, devolvendo-lhe o qualificativo.

Ante os protestos de organizações civis da diversidade sexual pela expressão homofóbica usada pelo presidente Correa, em um gesto pouco comum em mandatários latino-americanos, este desculpou-se publicamente e explicou sua falta.

Quem observar detidamente o vídeo que circulou na Internet, verá que a explicação de Correa sobre porque respondeu a essa agressão com uma palavra que culturalmente todo mundo sabe o que significa, pode ver um homem que assume seu erro e que é honesto ao assumir que ele mesmo tem em seu imaginário cultural uma ideia negativa da homossexualidade e que ele mesmo, apesar de estar sensibilizado sobre a discriminação, pode cair no erro de usar uma palavra claramente discriminatória.

Correa Delgado explica de maneira entrecortada; porém, bastante compreensiva, que a sociedade está cheia de preconceitos, estigmas, que, assume: "temos que combater…; e em mim não pode haver esses traços de estigmatização, de preconceitos contra a comunidade GLBT”.

Esse fato tem um significado importante para a luta GLBT no Equador, pois reafirma uma aproximação com o movimento, que, me consta, tem se posicionado na agenda política e midiática nos últimos anos, já que conseguem a cada dia incidir mais, coletivamente, nas políticas públicas.

Outros presidentes da América Latina tiveram escorregões homofóbicos e pouco ou nada tem-se conseguido no âmbito da luta social, nem no discurso e nem nas ações. Uma mostra disso é o presidente Evo Morales, da Bolívia, que assegurou que ingerir frango tornava aos homens homossexuais. Ao retificar, após críticas ferozes em âmbito mundial, por sua ignorância, limitou-se a dizer que seus ditados haviam sido mal interpretados e que, se havia ofendido a comunidade gay, pedia desculpas.

No Peru, o ex-presidente Alan García, enfurecido pela violência dos homens contra as mulheres e de juízes que não cumprem a lei, disse: "Como é possível que um grupo de maricas continuem batendo em suas mulheres dessa forma”. García usou o termo "marica” como sinônimo de covardia, de violência machista, sem reparar em que precisamente do que falava, o resultado é a violência homofóbica, muito vinculada a uma visão de gênero que etiqueta aos homossexuais com termos que insultam, como ‘maricom’ ou ‘marica’.

No México, não cantam mal as rancheiras os que nos governaram nos últimos dois sexênios, pois os executivos federais do PAN (Partido Nacional), têm tido seus escorregões homofóbicos. O atual fez um comentário após usar um laço de fitas rosa, da luta contra o câncer, brincou, dizendo: "Hoje quero dizer-lhes, amigas e amigos, também que, como é o primeiro evento de saúde que faço esse mês de outubro, coloquei um laço de fita cor de rosa. Não vão pensar outra coisa…; é um distintivo que se usa para lutar contra o câncer de mama”.

O que supôs Calderón que a audiência pensaria dele por usar laço de fita cor de rosa? O pano de fundo do comentário, nada gracioso, e, sim, machista, reflete uma homofobia interna do ocupante de Los Pinos, que, dois dias após esse escorregão homofóbico, pressionado pelas críticas, respondeu rapidamente através de seu Twitter que "respeita a diversidade sexual e rechaça toda discriminação”.

Em 2010, quem deixará a presidência da República para o priísta Enrique Peña Nieto, deu mostras de seu temor aos significados das palavras quando, após um intenso lobbydas organizações civis, conseguiram que o governo federal decretasse o dia 17 de maio como Dia Nacional contra a Homofobia, apesar de que no último momento o chefe do executivo decidiu que o decreto não se intitularia como dia nacional contra a homofobia, mas "Dia da Tolerância e do Respeito às Preferências”. Houve quem certamente o intitulou como "O decreto contra o preconceito que não se atreve a dizer seu nome”.

Quem não teve problemas para mostrar sua homofobia foi o presidente Vicente Fox que, rompendo todas as regras da política mexicana até esse momento, entre elas, o respeito para com os adversários, em plena campanha (2000) insultou ao seu adversário do Partido Revolucionário Institucional, Francisco Labastida Ochoa, com o qualificativo de "mariquita” e fazendo uma paráfrase homofóbica de seu sobrenome, o chamou "La Vestida”.

A realidade é que muitos outros presidentes da América Latina são ou foram homofóbicos; possivelmente não em suas linguagens; mas, sim, em suas ações, ao não ter uma política de não discriminação e ao fazer caso omisso aos tratados internacionais que assinam com um sorriso diante dos meios; porém, na hora de aplicá-los em leis, não refletem os compromissos assumidos.

É claro, há presidentes que são a honorável exceção, como a presidente Cristina Fernández, da Argentina; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e sua atual presidente, Dilma Rousseff; o ex-presidente da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero e o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que abertamente assumiu uma postura em favor dos direitos da população GLBT de seu país, onde, da mesma forma que nos países ‘hispanos’, existem preconceitos homofóbicos herdados de uma cultura discriminatória para com esse setor da população.

É importante que os que dirigem os destinos dos países estejam conscientes de que a discriminação por preferências ou orientação sexual é uma atitude que lacera a sociedade; e que é inadmissível que desde a investidura presidencial sejam reforçados preconceitos sociais que dividem a cidadania e incitam ao ódio entre as pessoas.

Fonte: Adital