Dois países rumo ao passado
Dois assuntos importantes acontecem esta semana. Nos Estados Unidos, o insípido e insosso Mitt Romey escolhe Paul Ryan, ícone do Tea Party, como seu candidato a vice-presidente na chapa republicana. E o Reino Unido quer romper imunidades diplomáticas…
Por José Inácio Werneck
Publicado 16/08/2012 17:46
Se os leitores não sabem o que é o Tea Party, explico: é o partido por excelência dos egoístas, aqueles que acreditam que só eles devem receber ajuda do governo.
Seus integrantes em princípio odeiam impostos, sob a alegação totalmente pueril de que os insurgentes americanos, nos tempos coloniais, jogaram ao mar uma carga de chá (“tea”, daí o nome), em Boston, aos gritos de “no taxation without representation”. Não queriam pagar impostos à Coroa britânica porque lá, no Parlamento em Londres, não tinham representantes.
Nada a ver com os dias atuais, em que tem representantes no Congresso. Em princípio, porém, sempre reclamam de qualquer imposto e para pagarem menos querem a abolição de todos os programas sociais do governo, desde que é claro, ninguém mexa em suas (deles) isenções fiscais, incentivos, subsídios, Medicare, etc. Aí não, aí viram bicho.
Paul Ryan é o candidato perfeito para tal gente e é bom que tenha sido escolhido. Agora teremos a oportunidade de um verdadeiro debate sobre o que a população americana deseja neste país. O “governo mínimo” e “desregulação máxima”, o capitalismo selvagem e o darwinismo social, ou o bom senso. É importante que a administração de Barack Obama saiba colocar o confronto em termos bem claros. Para votar em Romney-Ryan, o cidadão dever ser milionário ou, não o sendo, suicida.
Do outro lado do Atlântico, o governo de David Cameron, numa subserviência total aos Estados Unidos (no que parece disposto a ultrapassar Tony Blair, apelidado de “lap dog” de George W. Bush) ameaça invadir a embaixada do Equador em Londres e desrespeitar todas as convencões internacionais, para prender o australiano Jules Assange e enviá-lo para a Suécia.
À primeira vista, o objetivo seria o de permitir a promotores suecos “entrevistarem” Jules Assange sobre um possível caso de sexo “a contragosto” com duas suecas maiores de idade. Mas a suspeita é de que a Suécia vai recambiá-lo para os Estados Unidos, onde ele está sendo acusado de espionagem por causa das revelações contidas em seus Wikileaks.
Evidentemente, seria mais simples, prático e econômico remeter os promotores suecos a Londres. Em vez de considerar tal hipótese o governo britânico ameaça arrombar a porta da Embaixada do Equador, invadir suas dependências, retirar Assange à força, algemá-lo e metê-lo num avião para Estocolmo.
Onde está o princípio, entre gente civilizada, de que a embaixada de um país no exterior é seu território inviolável? O governo britânico quer se igualar aos iranianos que invadiram a Embaixada dos Estados Unidos no governo de Jimmy Carter?
Há coisa de semanas um dissidente chinês, Chen Guagchen, refugiou-se na Embaixada dos Estados Unidos em Pequim. Todos se lembram do resultado. Em nenhum momento os chineses falaram em invadir o prédio. Ao fim de alguns dias de negociações, Chen Guangchen, acompanhado pela mulher e fihos, viajou para os Estados Unidos, onde hoje se encontra.
Se o governo britânico invadir a embaixada do Equador, poderá reclamar no futuro se algum outro país invadir uma embaixada sua? Os comunistas chineses são civilizados e os capitalistas britânicos bárbaros?
Fonte: Direto da Redação