Assange pede que acabe a caça às bruxas contra o WikiLeaks

Julian Assange fez neste domingo (19) sua primeira aparição pública em dois meses na sacada da embaixada equatoriana em Londres. O fundador do WikiLeaks agradeceu a todos os que o estão apoiando em seu pedido de asilo ao Equador, em especial as nações latino-americanas. Ele pediu a liberdade para Bradley Manning e disse os Estados Unidos precisam acabar com a "caça às bruxas contra o WikiLeaks".

Em sua fala, que durou cerca de dez minutos, Assange citou diretamente o presidente americano, Barack Obama, ao pedir anistia a todos os que vazaram os documentos. "Eu peço para o presidente Obama fazer a coisa certa, os Estados Unidos devem renunciar a sua caça às bruxas contra o WikiLeaks", disse ele da pequena sacada da embaixada. Logo abaixo de Assange, uma centena de policiais cercava o local.

Assange afirmou ainda que os Estados Unidos estão arriscando desviar o mundo para uma era de opressão jornalística. "Enquanto o WikiLeaks estiver sob ameaça, a liberdade de expressão e a saúde de todas as nossas sociedades também estarão", disse o fundador do site.

O jornalista elogiou a coragem mostrada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, por aceitar conceder asilo a ele. "Eu agradeço ao presidente (Rafael) Correa pela coragem que mostrou ao considerar e me conceder asilo político", disse, para em seguida listar o nome de todas as nações latino-americanas que demonstraram apoio a ele. Entre outros países, mencionou o Brasil.

Assange está asilado desde o dia 19 de junho na representação diplomática equatoriana na capital britânica. Na última quinta-feira, o Quito concedeu asilo ao australiano, o que causou embates diplomáticos entre Reino Unido e a nação sul-americana. Assange disse que ele está em segurança porque todos estão de olho no que está acontecendo.

"Escutei uma equipe de policiais que entrou através da saída de emergência, mas eles sabiam que existiriam testemunhas", disse Assange, para quem graças à presença da imprensa "o mundo estava olhando" para o que ocorre na embaixada. "Se o Reino Unido não jogou fora a Convenção de Viena é porque o mundo estava olhando", disse. "Eu estou aqui hoje porque não posso estar aí, com vocês. Obrigado por sua generosidade".

Baltasar Garzón

Pouco mais de uma hora antes do discurso de Assange, quem foi a público falar foi o seu advogado, o juiz espanhol Baltasar Garzón. Da porta da embaixada equatoriana, ele afirmou que seu cliente solicitou garantias mínimas para responder às autoridades da Suécia pelos crimes sexuais de que é acusado neste país.

Garzón disse que seu cliente quer se apresentar às autoridades suecas para demonstrar a inconsistência das acusações, "mas solicita garantias mínimas mas suficientes, que até agora não foram concedidas". O advogado espanhol afirmou também que tinha encontrado Assange com um espírito muito combativo e que ele – antecipando o discurso do australiano – agradecia aos equatorianos e ao presidente Rafael Correa pelo asilo oferecido.

Garzón, no entanto, afirmou que não iria explicar a estratégia legal adotada no caso, mas revelou que Assange "pediu para que se inicie a batalha legal para se conseguir um salvo-conduto (para deixar o Reino Unido) e para que os seus direitos fundamentais, da Wikileaks e das pessoas relacionadas sejam respeitados". Ele afirmou que Assange não deixaria a embaixada hoje e que sob hipótese nenhuma teriam uma "atitude passiva".

"Julian Assange sempre lutou pela verdade e a justiça e defendeu os direitos humanos e continuará fazendo isso, para que os direitos do Wikileaks, os seus próprios e dos que estão sendo investigados sejam respeitados", disse Garzón. "O asilo foi concedido, o governo do Equador nos deu razão, o que defendemos é que existe uma perseguição", explicou.

A posição da Suécia

O número dois do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, assegurou neste domingo em declarações à AFP que se a Suécia se comprometesse a não extraditá-lo aos Estados Unidos, seria uma "boa base para negociar" uma saída pra Assange. "Seria uma maneira de encerrar este assunto se as autoridades suecas declarassem sem nenhuma reserva que Julian nunca será extraditado da Suécia aos Estados Unidos", indicou o porta-voz.

"Posso assegurar que ele (Assange) quer responder às perguntas do promotor sueco há muito tempo, há quase dois anos", acrescentou Hrafnsson. A Suécia reagiu rapidamente: "O suspeito não tem o privilégio de ditar suas condições". "Se o WikiLeaks quer dar uma mensagem deste tipo, deve fazê-lo conosco diretamente, de maneira convencional", disse um porta-voz do ministério das Relações Exteriores. "No estado atual das coisas, não podemos dizer o que vamos fazer", sustentou, embora tenha assegurado que "não extraditamos ninguém que corre o risco de (ser condenado à) pena de morte".

A manifestação da Alba

No sábado (18), na cidade equatoriana de Guayaquil, os chanceleres e representantes de Estados da Alba, grupo integrado, entre outros, por Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador, apoiaram o governo de Correa, que denunciou que o Reino Unido ameaçou entrar em sua embaixada em Londres para deter Assange. Também em Guayaquil está prevista neste domingo uma reunião de ministros das Relações Exteriores da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), enquanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma reunião para o dia 24 de agosto em Washington.

Com informações do Portal Terra