Assange denuncia: EUA mantêm Bradley sob tortura
Ao falar da sacada da embaixada do Equador em Londres, o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, pôs em evidência o soldado Bradley Manning, que está há mais de 810 dias em uma cela solitária e sob tortura nos EUA, acusado de ter vazado centenas de milhares de telegramas do Pentágono e do Departamento de Estado, assim como vídeos de crimes de guerra, considerando-o, caso seja a fonte dos mesmos, como "um dos presos políticos mais importantes do mundo".
Publicado 24/08/2012 19:52
Preso desde maio de 2010 em um centro do corpo de marines em Quantico, na Virgínia, incomunicável, Manning vem recebendo, segundo seu advogado, David Coombs, "um tratamento humilhante e degradante". "É uma forma de tortura", disse à BBC Ann Wright, ex-militar que deixou o exército norte-americano em protesto contra a invasão do Iraque. De acordo com as denúncias, Manning é forçado a ficar despido, a permanecer em pé sem poder se encostar a alguma estrutura por horas a fio, a cada cinco minutos é obrigado a responder aos carcereiros e é acordado durante o sono se voltar a face para a parede. Como assinalou Ann, trata-se "das técnicas trágicas que a Marinha usou em Guantánamo e Abu Graib".
O porta-voz da secretária de Estado Hillary Clinton, P.J. Crowlely, foi forçado a se demitir após afirmar que Manning não fora declarado culpado de crime algum e que sua prisão era "contraproducente e estúpida". Com base nas denúncias, o relator da ONU para casos de tortura, Juan Mendez, tentou investigar a situação de Manning, mas foi impedido pelo Pentágono, que não aceitou que ele se reunisse sozinho com o soldado. Visita, só na presença de oficiais dos EUA. Mendez se declarou "desapontado e frustrado com a má-fé" do governo norte-americano. A Anistia Internacional também teve negado pedido para vê-lo.
Manning enfrenta mais de 22 acusações, inclusive a de "colaborar com o inimigo", e está ameaçado até mesmo de execução. Ativistas e entidades de direitos humanos têm organizado protestos em frente à prisão em que Manning está encarcerado e arrecadado fundos para sua defesa. Mais de 250 juristas enviaram uma carta aberta a Obama, em que afirmam "que não há desculpas para este tratamento degradante e desumano antes de um julgamento". Entre os signatários, está Laurence Tribe, que deu aulas de direito a Obama em Harvard e que chegou a declará-lo seu melhor aluno. Ele classificou as condições de prisão de "ilegais e imorais".
Como se sabe, os documentos não foram "passados ao inimigo" – se é que foi ele – e sim ao WikiLeaks e daí às páginas dos jornais e telas das emissoras de TV do mundo inteiro o que, como os "Papéis do Pentágono" fizeram em 1971 em relação à guerra do Vietnã, só ajuda a impulsionar uma saída dos atoleiros no Iraque e Afeganistão. O que os documentos vazados mostraram foram centenas de milhares de atos do governo dos EUA intervindo no mundo inteiro, e o desastre no Iraque e Afeganistão. Um dos mais impactantes documentos é, exatamente, um vídeo da guerra do Iraque, em que um helicóptero é orientado, pela base, a disparar contra oito civis iraquianos. Os assassinatos são consumados diante das câmeras.
Chantagem
Ao que tudo indica, a tortura contra Manning tem como um dos objetivos fazê-lo incriminar Assange, contra quem, segundo o jornal inglês "Guardian", já há um indiciamento secreto e já está pronto um tribunal. No governo Nixon, os "Papéis do Pentágono" acabaram por apressar o final da guerra, e o nome de Daniel Ellsberg virou história. No de Obama, 2012, o soldado Manning está na câmara de tortura.
Fonte: Blog Altamiro Borges, publicado originalmente no jornal Hora do Povo: