Colômbia: Chegou a hora de parar a guerra; é a hora da paz

Entidades do movimento indígena, artistas e da sociedade civil da Colômbia lançaram na última sexta-feira (7) um chamamento geral pela paz. O anúncio de que o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) vão iniciar conversações de paz despertou o entusiástico apoio de movimentos populares. Conheça o manifesto.

Depois de mais de 50 anos de conflito armado no país, vislumbra-se uma nova possibilidade de pôr fim à violência armada e à guerra.

O governo e as Farc anunciaram sua decisão conjunta de avançar em um processo de diálogo e negociação para pôr um ponto final ao derramamento de sangue. O Exército de Libertação Nacional (ELN) manifestou a disposição de integrar-se neste processo. Saudamos com esperança e alegria estas decisões.

Como conseguir que esta paz seja duradoura e estável? Desde as organizações sociais de mulheres, de afro-colombianos, de indígenas, de camponeses, de crianças, de artistas, de operários, de estudantes, de vítimas, de intelectuais, de trabalhadores, de desempregados, de jornalistas, de empresários, de cidadãos e governantes que temos trabalhado pela paz durante décadas inteiras, cremos que a construção da paz só é possível se se garante a mais ampla participação de todas as vozes da sociedade, para superar as distintas formas de violência, a discriminação e a exclusão na vida cotidiana. A paz não só é um acordo entre atores armados: é uma participação entusiasta, uma conquista social de um direito fundamental.

É duradoura a paz construída com transformações que tornem realidade o Estado Social de Direito e deem vida aos princípios de respeito à dignidade humana, a vigência da solidariedade, do reconhecimento à diversidade, ao caráter pluriétnico e multicultural e o pleno reconhecimento à equidade e igualdade de gênero.

A construção da paz integral e sustentável só é possível se a sociedade se compromete a um desenvolvimento a partir da equidade e em relação harmônica e respeitosa com a natureza. A agenda pactuada e os compromissos que dela derivem terão que dar espaço às agendas e pactos de toda a sociedade, construídos desde os movimentos e organizações que reclamam ser referendados nos cenários da democracia. Permitir que as aspirações da sociedade se manifestem no marco das negociações é dar-lhe uma verdadeira legitimidade ao processo e assenta as bases para uma paz sustentável.

Este Manifesto pela Paz foi gestado de maneira uníssona com o levantamento e a resistência civil dos povos indígenas do Cauca que exigem o fim da guerra em seus territórios, o respeito a seus direitos territoriais e culturais, de autonomia, consulta, identidade, dignidade e respeito às normas do Direito Internacional Humanitário; estas demandas também se escutam desde o Pacífico, o Caribe, o Arauca, o Catatumbo e toda a Colômbia.

Temos insistido e voltaremos a insistir: este processo de Paz deve ter um capítulo de diálogos regionais que nos permitam participar com autonomia e voz própria neste novo cenário de Paz; não só a Noruega e Cuba, mas também nossos territórios no Cauca e em geral os territórios ancestrais são cenários para a paz; continuamos nos oferecendo com este propósito.

Chamamos os governos latino-americanos, os movimentos sociais em todo o continente a se aproximar e cuidar entre todos deste processo, a exigir que desta vez a Paz seja uma realidade, pois a guerra também os afeta.

É hora da mobilização, da ação coletiva nas ruas, praças, estradas, tribunas, foros e pontos de encontro. É o momento de criar os espaços para a participação e a concertação. Que se cumpra a palavra; que se chegue logo à suspensão das hostilidades, que se acabe com o paramilitarismo e o narcotráfico, que silenciem as armas destruidoras; que se dê oportunidade à verdade histórica, às memórias e aos direitos das vítimas, que a democracia e a vida floresçam na Colômbia e na América como sonharam todos os precursores e lutadores pela independência e a liberdade.

Chamamos todos os colombianos e colombianas a que se disponham a contribuir com esta possibilidade de paz; a chave da paz nos pertence, as portas da paz estão abertas, a responsabilidade da paz é de todos, é de todos o esforço. Que ninguém fique em silêncio.

Fonte: Blog da Resistência (www.zereinaldo.blog.br)