Feridas da época Pinochet são latentes no povo chileno

Às vésperas de se cumprirem 39 anos do golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, as feridas desse episódio continuam à flor de pele na sociedade chilena, imersa em um convulso ambiente de lutas sociais.

Em declarações à Prensa Latina, a presidenta do Grupo de Familiares de Executados Políticos (AFEP) no Chile, Alicia Lira, considerou que este 11 de setembro está cheio de compromissos, porque há um povo organizado que está adquirindo forças, através de suas expressões no movimento estudantil, nas organizações defensoras dos direitos humanos, inclusive em grupos ambientalistas.

"O povo chileno se somará a esta demanda de justiça para que não haja impunidade neste país, porque a impunidade é o que está legitimando os crimes que se cometem hoje, exemplo deles são as agressões ao povo mapuche", comentou a dirigente.

De acordo com Lira, a AFEP tem estado em luta permanente desde a ditadura até agora, incluídos "os 22 anos de pseudo democracia que o país viveu depois da saída de (Augusto) Pinochet do poder", detalhou.

"Queremos uma real democracia, não estas imitações ou estes chamados políticos de consenso, que continuam defendendo o mesmo, como no Congresso Nacional com a última lei que acaba de ser aprovada, a denominada reforma tributária. Isso é repudiável, e por isso a gente continua se unindo para protestar contra tudo o que tem a ver com esta administração de justiça", indicou.

Segundo explicou a ativista, a organização que preside continuará exigindo justiça, num meio favorável aos repressores. O relatório Retting, realizado pela Comissão da Verdade e Reconciliação em 1991, só contabilizou execuções e desaparecimentos. Ao todo, reconheceu duas mil 279 mortes em mãos das forças castrenses durante a época Pinochet (1973-1990).

Já a Comissão Valech, denominada assim em honra ao ex-bispo de Santiago Sergio Valech, ampliou as pesquisas sobre a repressão, e em 2004 apresentou seu relatório, que enumerou mais de 30 mil vítimas, delas mais de 28 mil por detenções ilegais, torturas, execuções e desaparecimentos.

O segundo relatório dessa comissão, entregue em agosto de 2011 ao presidente Sebastián Piñera, reconhece mais de 40 mil vítimas, apesar de umas 22 mil denúncias de organizações de direitos humanos terem sido recusadas pela equipe investigadora.

Ontem, milhares de pessoas marcharam por ruas desta capital em memória às vítimas do golpe de Estado de 1973, convocados a fortalecer a unidade das forças de esquerda.

A marcha, com a qual começaram as atividades em ocasião do 39º aniversário do golpe, terminou no Cemitério Geral, e foi, em seu encerramento, interceptada por forças antimotins da polícia de Carabineros, com carros lança-água e gás lacrimogêneo.

Segundo as autoridades, ainda que a marcha tenha sido realizada de maneira pacífica, a resposta violenta dos uniformizados foi devido a um grupo de encapuchados que teria entrado no edifício da Secretaria Regional Ministerial de Educação, enquanto outro realizava atos de vandalismo na agência de um banco e no cemitério.

No entanto, segundo Lorena Pizarro, presidenta do Grupo de Familiares de Detentos Desaparecidos, o atual governo chileno se compromete com os violadores dos direitos humanos e reprime o povo quando se manifesta.

A dirigente prometeu trabalhar para mobilizar a opinião pública contra a criminalização do protesto social.

Fonte: Prensa Latina