Manifesto da confraria dos poetas

Sim, somos poetas!

Gostamos de contemplar a vida e de discutir os absurdos da humanidade para dar um novo sentido ao mundo.

Nascemos poetas, pessoas que usam a escrita como forma de se colocar em sociedade, ver e sentir os diversos acontecimentos que nos cercam, sejam eles feitos de flores ou de ataques a Bagdá.
Só não tínhamos coragem de abdicar daquilo que fazemos para alimentar apenas a boca solitária e embolorada de uma página de agenda, guardada no baú de nossas vivências…

Acreditamos no papel e no valor da arte. No sabor frutuoso da mudança e no olhar crítico à humanidade.

Somos confrários! (*) Acreditamos que o poeta é uma arma perigosa apontada ao status quo, à alienação e à mediocridade…

Não gostamos do mundo do jeito que ele nos apresenta. Não gostamos da fome, do descaso, da desigualdade social e da violência entre os homens e as nações.

Não é o intuito desse manifesto chamar a todos os poetas para a luta anticapitalista, mas, sendo Confrários!, não finalizamos o poeta em sua obra, mas apresentamos a poesia como elemento de emancipação social e individual.

Entristece-nos ver o mundo neoliberal em consonância com o artista acrítico e apolítico. O poeta precisa sentir e ser parte integrante de seu meio, fomentar a discussão para alcançar as mudanças necessárias ao nosso país, gozar com esplendor as lutas e os anseios de nosso povo.
Sim, queremos um outro Brasil!

Queremos um Brasil que esteja em sintonia com a independência e a soberania dos povos. Que se assuma como estimulador das artes e protetor de nossa cultura popular.

Assim, continuaremos a ser antropofágicos, internacionais na busca de nosso caráter e de nosso muiraquitã. E sabemos que só atingiremos nosso ideal se soubermos nos encontrar nesta globalização tão desigual num mundo de desiguais e soubermos cultivar nossas tradições e aliá-las a novas expressões e estilos que construímos dia a dia.

Acreditamos que não foi dada à poesia seu real valor nas políticas públicas, salvo raríssimas exceções. A poesia precisa entrar na preocupação e na elaboração de políticas públicas, como o teatro, o cinema, a fotografia, a escultura, entre outros, pois ela, é a janela necessária para a autodescoberta e dá condições para um novo olhar da humanidade.

Sim, somos poetas! Neoliberalismofóbicos!

Adoramos a vida e as decisões coletivas, buscamos a morte do subjetivismo tosco e vulgar. Somos parte de um todo complexo e admiravelmente mutante.

Assumimos total responsabilidade de nossa liberdade artística e poética. Não buscamos patrulhar a liberdade de criação, nem as ideologias (salvo ser anticapitalista) nem as escolas literárias (ou a total falta delas), pois carregamos o espírito tranquilo de Ícaro e um olhar doce e aguçado ao que nos rodeia.

Queremos o fim da alienação, da falta de compromisso do artista, do individualismo neoliberal e buscamos, assim, chegar a um novo mundo.

Somos ousados por sermos poetas. Sabemos do valor de cada jardim que chamamos de mundo. Temos certeza que somos parte do adubo do hoje do amanhã….

Saudações poéticas

Confraria dos Poetas


(*) Confrários! – neologismo utilizado pelos participantes da Confraria dos Poetas, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!.

Do livro III Antologia: Confraria dos poetas. São Paulo, RG Editores, 2012

Nota
A Confraria dos Poetas, que nasceu em São Paulo, em 2004, reunindo cultores da palavra como forma de expressão do belo e também da mudança social e da revolução, acaba de lançar sua III Antologia, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Marília (SP). Sua primeira antologia foi publicada em 2007; em 2008 veio a segunda e, neste 13 de setembro, foi lançada a terceira. Visite o blog: www.confrarios.blogspot.com.br