Evento "Amor Sim Russomanno Não" ganha as redes sociais

A uma semana para o 1º turno da eleição municipal, um evento organizado por ativistas paulistanos mal começou a ser divulgado nas redes sociais e já chamou atenção. O "Festival Amor Sim Russomanno Não", marcado para sexta-feira (5), a partir das 20h, na Praça Roosevelt, foi criado no Facebook na tarde de segunda (1º). Mas, relatos de organizadores dão conta que dois eventos foram excluídos pelo Facebook. Em protesto a chamada “censura”, mais de 100 eventos foram criados até agora.

“Já são mais de 100 eventos abertos espontaneamente para a divulgação do #FestivalAmorSimRussomannoNão nas ultimas 4 horas, até sexta serão mais de mil. A campanha do Russomano e o Facebook trabalham pra deletar mas a indignação coletiva trabalha pra multiplicar. Vamo que vamo!”, diz um dos posts compartilhados entre os ativistas cibernéticos, que preferem não se identificar já que se trata de uma atuação coletiva.

O Vermelho procurou a assessoria de imprensa da campanha do candidato à prefeito Celso Russomanno (PRB). Indagada se havia o conhecimento sobre o evento e se haveria algum posicionamento sobre o mesmo, declarou que sim tinha conhecimento do Festival mas que não se pronunciaria sobre. Quando questionada se a campanha do candidato pelo PRB teria feito qualquer denúncia sobre o evento ao Facebook, a linha caiu. Após muitas tentativas, a reportagem conseguiu falar novamente com a assessora que negou qualquer envolvimento com o fato.

O Facebook possui uma política de segurança e é possível relatar e denunciar páginas, perfis e eventos. Qualquer um pode fazê-lo. Há muitos relatos na rede sobre manipulação de dados, ora com aviso de que o usuário infringiu alguma regra, ora sem saber de onde partiu a manipulação ou o porquê da mesma.

Os ativistas pertencem a vários coletivos e movimentos sociais de trabalhadores, intelectuais, jornalistas, ciclistas e artistas. O movimento tem um caráter apartidário, mas pretende levar a discussão sobre os problemas da capital paulistana para contribuir na escolha dos candidatos à prefeitura e à Câmara Municipal.

"Um festival com a participação de artistas e de todo mundo que quer ver São Paulo mais feliz. E tentar construir uma forma de fazer política mais aberta, nova e verdadeiramente pública!", diz um trecho do manifesto publicado juntamente com o evento.

Quem organiza o evento?

Questionados sobre quem está organizando o evento, a resposta veio rápida, de maneira viral: “Ontem (1º) a ideia se espalhou, milhares aderiram, e alguns perguntaram: Quem está por trás disso? A resposta é uma só: quem quiser! Não há organização ou curadoria no Festival "Amor Sim, Russomanno Não". A proposta é que cada pessoa, ou melhor, cada turma monte seu bloco. Traga seu soundsystem, seus discos, projetor, tinta, seu trompete, tambor, bicicleta, o coral do seu clube… Crie uma pista de dança, um picnic, uma roda de samba, uma performance, uma sessão xamânica… Deixe o cinismo em casa. Traga suas melhores intenções. Venha de ROSA CHOQUE. E vamos ocupar a nova praça Roosevelt com um festival de festas sem hora pra acabar. #SeuBlocoSimRussomannoNão”.

A todos que querem comparecer os organizadores pedem que vão usando uma roupa rosa. Por quê? "Porque é a cor do Amor! E porque também é um movimento que quer resgatar o lado feminino de São Paulo, que foi tão esquecido pelos carros, poluição, prédios", diz uma ativista que também prefere não se identificar.

E como diz o próprio manifesto: "Quem não reagir está morto!", referindo-se à declaração do governador Geraldo Alckmin (PSDB) sobre a morte de nove homens suspeitos em uma ação da Rota – Rondas Ostensivas Tobias Aguiar – no dia 11 de setembro. "Quem não reagiu está vivo", justificou Alckmin.

Banners e tuitaços

Desde ontem, quando surgiu o evento, banners se espalharam pelos feeds e até o fechamento desta matéria 2.300 pessoas tinham confirmado presença somente em um dos eventos criados. Além de divulgar o ato político, os banners também ensinam como criar um evento no Facebook e convidar mais gente, como na imagem abaixo.

O evento também está sendo disseminado no Twitter, onde estão sendo organizados tuitaços para divulgação, com a hashtag #quemnaoreagirestamorto.

Pesquisas

O candidato Celso Russomanno vem liderando as pesquisas de intenção de voto em São Paulo. Segundo levantamento do Ibope, divulgado no dia 25 de setembro, Russomanno tinha 34%, Fernando Haddad (PT) 18% e José Serra (PSDB) estava com 17%.

Confira abaixo a íntegra do manifesto do evento:

"Demagogo, sem propostas, construído no sensacionalismo da TV, projetado pela Igreja Universal do Reino de Deus, visivelmente incapaz de governar. A ascensão desse sujeito no cenário eleitoral de São Paulo não é mérito dele ou de seu partido. É, na verdade, sintoma terminal da decadência política da cidade.

Como "defensor do consumidor", ele apela para os instintos mais rasos e egoístas do eleitor.

Como "novidade", ele mascara suas origens no pântano malufista, seu mandato legislativo ultra conservador, e sua equipe de pastores picaretas.

Como "não político" declarado, quer se capitalizar na descrença e na desilusão política do povo. E montar em cima de um dos maiores trampolins políticos nacionais: nossa prefeitura.

Há anos São Paulo vem se tornando uma cidade mais agressiva, individualista, cara, proibida. Aos poucos o conservadorismo político, sob o aplauso de muito eleitor, tenta acabar com o público em prol do privado. Acabar com a festa em prol do silêncio. Acabar com o pobre em prol do rico. Acabar com a justiça em prol da ordem.

Mas quem está acordado também sabe:

Há anos São Paulo vem incubando um espírito de resistência, indignação e solidariedade que se manifesta na rede e na rua. São pedestres, ciclistas, trabalhadores, artistas, ativistas, cidadãos que aos poucos se articulam e lutam por uma cidade mais pública, mais humana, mais inclusiva e gentil. Uma cidade com mais amor.

Celso Russomanno não é apenas Celso Russomanno. É a o fruto da despolitização, da passividade civil e da preguiça mental diante da falência do sistema político tradicional. A vitória dele nas eleições municipais seria a materialização de uma tragédia, a vitória de uma escola política que ainda ecoa da ditadura. E pode significar não apenas o aprofundamento da São Paulo policialesca e proibida. Mas a criação de uma nova força política nacional fincada que ameaça o estado laico e as causas progressitas.

Que essa ameaça sirva de estopim para uma tomada de consciência pública. Que seja capaz de ruir o cinismo de muitos indignados que não se dignam a falar alto.

Que a gente consiga fazer uma grande festa, e uma grande onda positiva em São Paulo para afogar de vez essa farsa chamada Celso Russomanno.

Portanto, convidamos você para ocupar a Praça Roosevelt na próxima sexta à partir das 20:00.

Um festival com a participação de artistas e de todo mundo que quer ver São Paulo mais feliz. E tentar construir uma forma de fazer política mais aberta, nova e verdadeiramente pública!

Quem não reagir está morto!

Se você concorda, coloque a cor ROSA CHOQUE no seu avatar. Divulgue o evento e as hashtags durante a semana. Grafite muros, pendure tecidos, amarre fitas ROSA CHOQUE.

E, na sexta, vista ROSA CHOQUE na praça.

Vai ser lindo."

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho