Europa refém das elites políticas e econômicas

A Europa está em ruínas. A euforia e a histeria alternam-se nervosamente. Os europeus já estão passando há vários meses com a sensação de que a Zona do Euro arrasta-se rumo a uma controlada ou incontrolável dissolução, com rastilho a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha ou Itália.

Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil

Os mercados e vários analistas conceituados de instituições financeiras enfrentam o euro – e não sem razão – como o "buraco negro" da economia internacional, e os mais imaginativos descrevem como "Eurogeddon" o cenário de um armagedon que será iniciado por Atenas, Dublin, Lisboa, Madri ou Roma, ou até por Berlim. Sim, até por Berlim.

Desta absolutamente pessimista abordagem da situação, os europeus têm desfrutado uma euforia controlada. Até, ainda, na decadente Bolsa de Valores de Atenas está acontecendo uma pequena festa especulativa, no eco das evoluções que, ao que tudo indica, colocam as peças do quebra-cabeça em suas corretas posições.

O Tribunal Constitucional Federal da Alemanha disse que "o esperado, embora, mas" no funcionamento do ESM; Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE) carregou sua super-arma; o Federal Reserve dos EUA apresentou seu plano para a união bancária e lançou a terceira onda da "flexibilização quantitativa"; as autoridades européias só têm a dizer palavras de estímulo nos últimos dias para os esforços da coalizão governamental da Grécia para oferecer "reforma sangrenta".

Ainda, até a permanentemente "azeda" Angela Merkel, chanceler da Alemanha, parece que encontrou sua forma com tudo que está acontecendo entre Bruxelas, Frankfurt, Madri, Roma e outras metrópoles européias. Uma efusão de euforia tem acalmado os incômodos sintomas do "Eurogeddon".

Decepções em dezembro

"Eurogeddon" ou "euro-euforia", então? Qual dos dois vigora para o futuro do "empreendimento europeu"? Um não exclui o outro. O fato é que, através de múltiplas oposições, divergências e acordos assume sua feição final, ou algo aproximado a esta, a monetária, bancária, fiscal e política união – José Manuel Barroso Durão, presidente da Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, a quer como Federação – e não exclui que se revele nascitura ou problemática.

Isto, aliás, já aconteceu, também, como o "defeito de fabricação" localizado com atraso de 12 anos no euro. Além disso, a liderança alemã não disse a última palavra, ainda. A decisão do Tribunal Constitucional Federal de Karlsruhe foi aceita com ditirambos, mas seus asteriscos que serão mais visíveis até ser passada a limpo em dezembro próximo poderão decepcionar, lamentavelmente, os entusiasmados federalistas que sonham.

Mas, mesmo que se os últimos forem surpreendidos por mais um caso de crise institucional na União Européia, o desdém de suas decisões pelos mercados, tem importância esclarecer em que, realmente, evolui a União Européia e, particularmente, a Zona do Euro. Se o euro – por força do processo de sua "fabricação" – foi dimensionado nas medidas definidas pelos banqueiros, agora transforma-se em super-arma em suas mãos para que conquistem, totalmente, Estados e sociedades.

O Banco Central Europeu, com o plano da Comissão Européia, que lhe entregou a tarefa de fiscalização total do sistema bancário europeu, assim como o ilimitado poder de acesso, trânsito e regulação no mercado de dívida pública, tornou-se o todo-poderoso fiscal da União Monetária Européia.

Anti-social e antidemocrática

O "círculo vicioso" de estados-bancos, evangelizado pelo Barroso, realmente quebra, mas a favor dos segundos e, naturalmente, não todos. O mecanismo de dupla ação de "esvaziamento" dos portfólios de bancos por desordens no mercado de dívida estatal, tanto com financiamentos diretos-recapitalizações, quanto também com as "corretivas" aquisições de títulos estatais pelo Banco Central Europeu, resulta, realmente, em bancos "europeus", mas é duvidoso se estas aquisições "corretivas" serão algo mais do que, principalmente, alemãs, francesas, belgas, holandesas e luxemburguesas.

Contudo, a Zona do Euro que estão conformando não é só fanaticamente filo-bancária. É igualmente, fanática anti-social, profundamente classista e antidemocrática. O "Euro-Leviatã" do futuro próximo prevê blindagem institucional do caminho sem volta de frugalidade – enquanto a bazuca de Draghi será acionada somente com a condição de submissão dos países interessados aos "ferros" de memorandos – papel a ser permanentemente desempenhado pelo "saneador", o Fundo Monetário Internacional, e cessão plena das autonomias e soberanias nacionais ao novo, em conformação, "Diretório Europeu".

Do qual, sede atípica, conforme revela a leitura atenta da decisão do Tribunal Constitucional Federal Alemão, foi proclamada a cidade de Berlim, a qual detém prazerosamente o exclusivo direito de aprovação parlamentar de qualquer alteração no suporte institucional ou capitalista do euro.

Uma mais profunda, atenta e panorâmica observação da monstruosa alteração da Zona do Euro resultará, fatalmente, em um reexame da posição da esquerda e de qualquer força progressista contra o euro. Muito além de tabu e autocensuras.