Frente Guaçú não chega a consenso sobre candidato e racha

Pouco mais de três meses após a destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai, a Frente Guaçú – coligação que o apoiava no governo e pretendia seguir coesa no projeto para as proximas eleições – não conseguiu o consenso em torno de um candidato e se vê agora diante de um racha. 

O radialista Mario Ferreiro era o nome mais forte, mas não conseguir reunir o apoio de todos os partidos da aliança. No último dia 8, ele anunciou o lançamento de sua candidatura, com o apoio de cinco partidos e quatro movimentos sociais que integravam a Frente. A decisão foi considerada unilateral por outros sete partidos e três movimentos, que o acusam de dar um "duplo golpe" na coalizão, ao dividir o grupo e desconhecer a liderança de Lugo. 

“Não acredito que seja hora para procurar culpados e nem para falar em ruptura”, disse Ferreiro, em comunicado. O radialista argumenta que a decisão de deixar a base aliada de Lugo foi produto “de uma longa negociação interna que não foi bem sucedida”. Ferreiro não teve uma trajetória de militância orgânica em nenhum partido, mas tem o reconhecimento de setores de esquerda e a simpatia da sociedade, justamente por ser um elemento novo da política.

Segundo Ferreiro, o consenso não foi possível por conta da indefinição de um setor político “altamente valioso, mas irremediavelmente imerso em sua própria dinâmica de resolução de conflitos”. Além da indefinição da chapa presidencial, ele também alega que a Frente Guaçú não conseguiu chegar a um acordo sobre a lista de candidatos ao Senado e ao Parlasul. A seu ver, a Frente Guasú só será bem-sucedida em 2013 caso consiga construir um “sistema de confiança mútua”, capaz de produzir “uma verdadeira convicção de unidade”.

O próprio Lugo condenou nesta terça (9) o lançamento da pré-candidatura de Mario Ferreiro. Segundo o ex-presidente, o nome de Ferreiro conseguiu reunir um número de apoiadores dentro da Frente que, para ele, é insuficiente. Lugo disse que é necessário haver consenso na coalizão para lançar um nome ao governo paraguaio.

O ex-presidente divulgou comunicado criticando a indicação de Ferreiro. No texto, disse ter sido “supreendido” com a notícia. Também lembrou que é um cidadão que “ama seu país” e quer trabalhar com pessoas que ajudem o Paraguai a construir seus sonhos.

Em entrevista ao Opera Mundi, o ex-chefe do Gabinete Civil da Presidência do Paraguai durante o governo de Lugo explicou que a Frente Guasú está rachada, já que “há um setor que quer a candidatura de Ferreiro e outro que não”. Para Miguel Lopez Perito, “o importante é que a campanha arranque logo, porque estamos atrasados com os prazos eleitorais”.

“Já tínhamos estabelecido prazos para um acordo, mas ele acabou sempre postergado. Daí que, nos últimos dois dias, foram feitas intensas negociações para chegar a um acordo, mas não conseguimos concluí-lo”, conta. “O objetivo é que não haja uma desclassificação dentro da esquerda e dos setores progressistas”.

A Frente Guasú existe desde 2010 e concentra as principais denominações da esquerda paraguaia. Os partidos movimento ao socialismo, movimento político 20 de abril, revolucionário de fevereiro, democracia cristã, mulheres pela aliança, tekopyaju (novo caminho, em guarani), movimento avancemos e movimento esquerda socialista apoiam a candidatura de Ferreiro.

Já os partidos popular tekojoja, convergência socialista, comunista, frente patriótica popular, bloco social e popular, movimento soberania e desenvolvimento, frente ampla, participação cidadã, movimento patriótico popular e unidade popular se colocaram contra a candidatura do radialista.

Questionado se Lugo poderá se candidatar em 2013, Perito lembra que isso foi cogitado, mas ressalva que "o grande problema é que se ele se candidatar, qualquer cidadão poderá impugná-lo, bem como o Tribunal Superior Eleitoral, que é favorável ao status quo". "Em outras palavras, será impugnado de qualquer forma. Foi aí que o aconselhamos a não se candidatar. Ele mesmo já expressou que não tem nenhum interesse em se candidatar", explica.

Os dois principais partidos da base aliada de Federico Franco já estão em processo de escolha de seus candidatos. Horacio Cartes foi o nome escolhido pelo Partido Colorado para o pleito de 2013.

As eleições no Paraguai ocorrem em 21 de abril de 2013. Até lá, o país deve permanecer suspenso do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) porque os líderes políticos da região entenderam que o processo de destituição de Lugo, em junho, rompeu a ordem democrática.

Com agências