Comissão da Verdade começa a ouvir perseguidos pela ditadura

A Comissão Nacional da Verdade começou a investigar as perseguições sofridas pelos militares que se opuseram à ditadura iniciada em 1964. Um grupo de trabalho com a missão específica de apurar as violações aos direitos humanos de soldados e oficiais começou as atividades na quinta-feira (11). Quem se opôs ao regime acabou cassado, perdeu salário, patente e foi preso.

O primeiro militar a ser ouvido pela comissão foi o brigadeiro Rui Moreira Lima, de 93 anos. Herói da 2ª Guerra Mundial, tendo participado de 94 missões com aviões de caça na Itália, ele foi preso no dia 2 de abril de 1964, quando era comandante da Base Aérea de Santa Cruz, por se opor ao golpe. Posteriormente, foi aposentado de forma compulsória.

Integrante da comissão, a advogada Rosa Cardoso fez parte do grupo que ouviu o brigadeiro. Segundo ela, enquanto os processos de reparação dos civis perseguidos pela ditadura estão mais adiantados, os casos que envolvem militares se arrastam há décadas.

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Um dos objetivos da comissão, de acordo com a advogada, é levantar o número mais aproximado possível dos militares que foram prejudicados pelo golpe. “Segundo o escritor Marcos Figueiredo, que é um conhecido cientista político, entre 1964 e 1974, 1.312 militares foram punidos. Já outra estudiosa da questão, Maria Helena Moreira Alves, diz que entre 1964 e 1967, em três anos, houve mais de 1.200 expurgos", disse.

Ainda com base no levantamento de Maria Helena, a integrante da comissão diz que entre 1964 e 1980 houve 1.713 militares punidos baseados nos atos institucionais. Nesse período, segundo ela, houve um total de 4.766 prisões ou suspensões disciplinares de militares.

Até o fim de novembro, a Comissão Nacional da Verdade pretende fazer uma reunião com o maior número possível de ex-militares que tenham sido prejudicados pelo golpe de 1964. Para entrar em contato com a comissão, que fica em Brasília, basta acessar a página na internet: www.cnv.gov.br.

Fonte: EBC