Ato lembra mortos pela ditadura e pela repressão policial em SP

Grupos de religiosos e entidades de direitos humanos fazem manifestação neste Dia de Finados no Cemitério da Vila Formosa. O ato também denuncia a violência policial ocorrida na Capital e que tem números recordes de vitímas desde setembro se comparado ao mesmo período do ano passado

Entidades ligadas aos direitos humanos promovem amanhã (2) em São Paulo um Ato Ecumênico em Memória dos Mortos e Desaparecidos. O evento relembrará vítimas de agentes do Estado durante a ditadura no país (1964-1985), e, diante do grande número de homicídios que vem acontecendo principalmente nas periferias da cidade, também será em memória daqueles que morreram como vítimas da violência policial recentemente. Foram dezenas de mortos na região da Grande São Paulo apenas no mês de outubro.

O ato será no Cemitério da Vila Formosa, na zona leste paulistana, às 10h30. O local serviu como vala comum para perseguidos políticos mortos pela ditadura, onde já foram localizados pelo menos seis corpos desde que as buscas começaram, no final de 2010. As buscas eram cobradas há anos por ativistas de direitos humanos e familiares de desaparecidos políticos.

Para Anivaldo Padilha, teólogo que foi preso, torturado e exilado pelos militares e associado da Koinonia, uma das entidades organizadoras do evento, há relação direta entre a violência praticada na ditadura e aquela praticada pela Polícia Militar hoje. “A Polícia Militar, como é hoje, é uma herança da ditadura.” Ele lembra, porém, que tal herança tem raízes anteriores ao período autoritário. “A violência contra as classes populares vem desde o tempo do Brasil colonial, com a escravidão, mas a ditadura institucionalizou a forma como a violência é aplicada", diz.

Ele ainda compara os discursos do aparato repressor de décadas atrás e o atual. “A ditadura dava os suicídios como versão oficial das mortes. Depois descobriu-se que não eram suicídios, mas sim assassinatos provocados muitas vezes pela prática de tortura. Atualmente a versão oficial usada é a chamada 'resistência seguida de morte'.”

O ato é uma importante oportunidade de prestar homenagem aos mortos, segundo Padilha, mas também de mostrar solidariedade às famílias. Além disso, o ato propõe uma aliança ampla e diversa, já que contará com diversos setores da sociedade: organizações ecumênicas, ativistas de movimentos sociais, organizações não-governamentais. “Essa aliança mostra que há um mal estar generalizado entre grande parte da sociedade com a lentidão para que a punição dos responsáveis pelos crimes da ditadura e os atuais, de fato ocorra.”

Os organizadores do ato são o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), principal entidade ecumênica brasileira, que reúne a Igreja Católica e as principais igrejas protestantes do país, o Conselho Latino Americano de Igrejas (Clai), o Grupo Ecumênico da Zona Leste, e várias outras entidades, como o Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, a Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo e a Koinonia. A Associação Mães de Maio, que reúne parentes de jovens assassinados em maio de 2006, e o Sindicato dos Jornalistas são alguns dos apoiadores da iniciativa.

Fonte: Rede Brasil Atual