Miguel Urbano: Obama dará continuidade à sua estratégia belicista

A reeleição de Barack Obama foi recebida com simpatia pelos seus aliados europeus. Sobre ele chovem elogios. Mas a sua campanha eleitoral não transcorreu na atmosfera triunfalista da anterior. O presidente não cumpriu as promessas sintetizadas no slogan "sim, nós podemos!", que em 2008 entusiasmou milhões de compatriotas que acreditaram numa "mudança".

Por Miguel Urbano Rodrigues, em Brasil de fato

O país continua mergulhado numa crise profunda. A dívida pública interna aumentou para um nível astronômico. A divida externa é a maior do mundo. O defícit da balança comercial é colossal. Os EUA são hoje um estado parasita que consome muito mais do que produz e mantém a hegemonia mundial em consequência do seu enorme poderio militar. A política financeira de Obama, concebida para favorecer as grandes transnacionais e a banca, contribuiu para agravar o desemprego e manteve na miséria dezenas de milhões de famílias.

Romney com o seu programa assustou os negros, os latinos e um amplo setor da pequena burguesia branca. No início, o seu discurso era tão reacionário que o modificou, deslocando-se da direita cavernícola para o centro.

Nos debates televisivos que encerraram o grande circo milionário da campanha eleitoral ele e Obama coincidiram praticamente nas questões fundamentais.

A mídia apresentou a política internacional do presidente como o grande êxito do seu mandato; Romney não a criticou. Essa coincidência dos candidatos é por si só reveladora do nível de alienação do eleitorado da grande república.

É difícil encontrar precedente na história dos EUA para uma politica exterior que tenha configurado para a humanidade uma ameaça comparável à desenvolvida por Barack Obama.

No Iraque, vandalizado pela ocupação militar, permanecem milhares de oficiais e dezenas de milhares de mercenários e a violência é um flagelo endémico. No Afeganistão, a guerra está perdida. A maior parte do pais encontra-se sob controle das forças que combatem a ocupação dos EUA e da Otan, e o governo fantoche de Karzai é odiado pelo povo.

A utilização dos aviões sem piloto, os drones, substituiu progressivamente os bombardeios da força aérea tradicional. O presidente Obama elogiou repetidamente durante a campanha o recurso a essa nova modalidade criminosa de guerra. É ele pessoalmente quem seleciona os "inimigos" a abater em listas elaboradas pela CIA, submetidas à sua aprovação. Mas nesses bombardeios "cirúrgicos" a aldeias do Paquistão milhares de camponeses, como reconhece o próprio New York Times, têm sido mortos.

Durante a campanha, Obama evitou o envolvimento dos EUA em novas guerras de agressão. Mas, reeleito, a sua estratégia belicista de dominação mundial vai ser retomada. O ataque à Síria será o próximo objetivo. A decisão será americana, muito embora Washington incumba dessa tarefa a Turquia e provavelmente a França e a Grã-Bretanha.

Resolvida "a questão síria", os EUA, em parceria com Israel, intensificarão a campanha mundial que visa a destruição do seu grande "inimigo" na região, o único grande Estado islâmico que não se submete à sua estratégia imperial: o Irã.

A atual política para a América Latina, que através de golpes de Estado atípicos – Honduras e Paraguai – afastou presidentes incômodos, terá continuidade. Washington sofreu uma derrota importante com a reeleição de Hugo Chávez, mas a guerra não-declarada contra a Revolução Venezuelana vai prosseguir.

A prioridade na estratégia belicista da nova Administração será contudo a China. Obama foi transparente quando anunciou que dois terços do poder aeronaval dos EUA vão ser concentrados na Ásia Oriental. É por ora imprevisível o estilo que assumirá a política anti-chinesa (e anti-russa) de Barack Obama. Mas pode-se antecipar que o seu segundo mandato será para a humanidade tão negativo ou mais do que o primeiro.

Cabe perguntar: como foi possível atribuir a tal homem o Prêmio Nobel da Paz?

Fez uma chuva de novas promessas, mas elas serão engavetadas tal como as do primeiro mandato.

* Miguel Urbano Rodrigues é jornalista e escritor português.