Aldo Rebelo: Cavalgada da Liberdade vai a Zumbi

Os contrafortes da Serra dos Dois Irmãos, em Viçosa, Alagoas, guardam em seu ventre rochoso um segredo de três séculos que agora será desvendado. No ponto em que o Rio Paraíba do Meio atravessa a serra, foi morto há 317 anos o líder negro Zumbi, depois de o quilombo de Palmares, onde era rei, ter sido arrasado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho.

Por Aldo Rebelo* 

O local exato, um sumidouro na barranca do rio, será demarcado no dia 18, ao final da 1ª Cavalgada da Liberdade, que vai celebrar o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro – a data da morte de Zumbi em 1695.

Sendo a cavalgada um dos esportes mais antigos do Brasil, o Ministério do Esporte, em parceria com o governo de Alagoas, teve a iniciativa de reunir autoridades e cavaleiros da região para marcharem 54 quilômetros da Cerca Real dos Macacos, em União dos Palmares, até o local, já em Viçosa, que uma pesquisa inédita do geógrafo alagoano Ivan Fernandes Lima apontou como o local em que Zumbi deitou seu espírito indômito sem jamais render-se.

Formado a partir do final do século 16, por mais de cem anos Palmares reuniu milhares de escravos foragidos ou alforriados, e seus descendentes, que empunhavam a bandeira da resistência. Sociedade comunitária, todos compartilhavam os frutos do trabalho coletivo. Mas reproduziu o modelo que combatia pelo menos em um aspecto: os ex-escravos tinham seus cativos. O quilombo resistiu até 1694, quando Zumbi refugiou-se na Serra dos Dois Irmãos. Por muito tempo achou-se que ele morrera na Serra da Barriga, última fortaleza de Palmares. Abatido, teve a cabeça exposta nas ruas do Recife para desfazer a lenda de que era imortal.

O mito do herói vive na História do Brasil, tal e qual os de outros, mestiços, negros e brancos, que lutaram contra o horror da escravidão. Mataram e morreram pela liberdade, um bem, como disse o sábio José Bonifácio, “que não se deve perder senão com o sangue”.

*Ministro do Esporte