Imprensa invisibiliza migrantes haitianas, diz especialista

Nos meios de comunicação da República Dominicana há uma tendência a invisibilizar a mulher migrante e quando se escreve sobre a migração haitiana, se limitam a vinculá-la aos cortadores de cana e aos trabalhadores haitianos, que trabalham na construção.

Nos jornais dominicanos há uma tendência a resenhar as imigrantes haitianas somente em seu papel reprodutivo, como "parideiras e grávidas” e com esta condição as projetam como um peso para Estado dominicano.

Ambas as posições foram traçadas pela investigadora associada do Observatório Migrantes do Caribe (OBMICA), Allison J. Petrozziello, ao expor em um painel o tema "Aplicando a perspectiva de gênero ao processo imigratório haitiano e as políticas de migração”, no curso binacional "Migração, Democracia e Meios de Comunicação: Introdução ao discurso da imigração e sua análise na imprensa”, organizado por esta entidade, favorecido pelo Centro de Investigações e Estudos Sociais (Cies) da Universidade Iberoamericana (Inibe), a União Europeia e a Norwegian Church Aid.

"Os comentários que os meios querem fazer é que as mulheres haitianas vêm ao país somente em sua condição de reprodutoras, para aproveitar os serviços de saúde materna, não trabalham e, além disso, colocam a culpa nas mulheres haitianas por não conseguir o quinto objetivo do milênio, que estabelece melhorar a saúde materna, que a República Dominicana dista muito em cumpri-lo, porque tem uma mortalidade materna muito alta e o Estado não destinou os recursos necessários para cumprir com este objetivo”, indicou Petrozziello.

Ante esta situação, é mais conveniente usar a mulher migrante haitiana como bode expiatório, e colocar-lhes a culpa por não cumprir com esse objetivo, porque elas vêm parir em território dominicano, representa uma tendência importante que pode repercutir sobre o direito à saúde e sobre as mulheres dominicanas, se percebem às migrantes haitianas como bloqueadoras de seu direito à saúde, quando a realidade é mais complexa.

Outra tendência nos meios impressos nacionai, é que as migrantes haitianas não são apresentadas como trabalhadoras que geram valor e abastecem de serviços, quando estas têm uma participação importante no trabalho doméstico, que por ser um trabalho que se realiza no interior do lar, e por ser um trabalho associado às mulheres, é invisibilizado, não se estabelece um valor social, nem se considera um setor produtivo que contribui com a economia.

Refere que o trabalho doméstico não é valorizado quando é realizado por uma mulher dominicana e menos quando é feito por uma imigrante haitiana, ainda que se saiba que dentro deste panorama o trabalho doméstico é a base invisível da economia produtiva, porque permite aos integrantes de uma família sair e trabalhar.

A imagem de vítima

Para a investigadora do OBMICA outra tendência nos meios de comunicação é que as mulheres migrantes só são apresentadas como vítimas de tráfico, ou quando foram espancadas; mas não visibilizam que são pessoas que tomam decisões próprias e compartilham estratégias quando se inteiram de uma violação ou um roubo quando cruzam a fronteira.

"Se as escutamos, se as entrevistamos deveríamos tratar de captar não somente as vivências, mas também como elas concebem sua realidade e manejam sua situação”, expressou.

Enfatiza que os meios sabem muito pouco sobre as mulheres migrantes, suas vivências, onde vivem e trabalham e quando se fala das repatriações "sabemos muito pouco sobre a experiência de uma mulher, se houve separação familiar, a violência que sofrem ao ser repatriadas, ou onde deixam seus filhos, porque jamais são consultadas”.

Chamado para um tratamento mais justo

Ante esta situação, a investigadora sugere que se preste mais atenção às mulheres migrantes não só como vítimas ou mães, mas também como protagonistas de seu próprio projeto migratório. Petrozziello também assinala a necessidade de que as políticas migratórias partam de uma análise de sua inserção trabalhista para que haja opções de migração legal e segura para as mulheres.

Fonte: Adital