Plano Piloto concentra empregos e desafia planejamento urbano

A concentração de empregos no Plano Piloto é grande e acende um alerta para os planejamentos governamentais.

Mais da metade de toda a demanda de mão de obra do Distrito Federal concentra-se nesta região administrativa que, diariamente, recebe em média 700 mil pessoas, quantidade quase quatro vezes maior do que a população residente, que é de 215 mil pessoas. O principal fator que estimula a circulação deste público são os empregos que, por falta de planejamento, aglomeram-se em uma única região.

Conforme a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), elaborada pela Companhia de Planejamento (Codeplan), de todos os postos de trabalho do DF, 44,25%, que equivalem a 477.125 mil vagas, estão localizados no Plano Piloto. A este percentual, somam-se ainda 6,99% referentes ao grupo de brasilienses que possui mais de um local de trabalho. Ao todo, somente o Plano Piloto detém 51,24% de todos os empregos. Enquanto isso, em regiões como o Guará sobram vagas e em outras, como Sobradinho, Planaltina, Santa Maria e São Sebastião, faltam empregos.

Disparidade

Segundo o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya, existe uma grande disparidade no DF quando o assunto é trabalho. Neste cenário, a maioria das pessoas normalmente não exerce suas atividades laborais perto de casa ou na cidade em que reside. Por isso, enquanto no Plano Piloto há inchaço populacional causado pelos empregos, em outras localidades o que ocorre é o contrário, fazendo com que a população do DF busque oportunidades no Plano Piloto. “Mais da metade dos moradores trabalha fora da cidade que reside. Já nas regiões mais periféricas, há poucos postos de trabalho, com o agravante para o fato de as pessoas se deslocarem diariamente para o Plano. Isso impõe um desgaste muito grande para estes trabalhadores”, reconhece Miragaya.

Embora existam comércio e serviços em constante expansão nas outras regiões administrativas, o número de vagas criadas por estes segmentos nestes locais é insuficiente. Taguatinga, segundo maior polo econômico do DF, mesmo com todo o seu tamanho, é a responsável por abrigar apenas 8,31% das vagas de emprego e alcança o patamar de segunda cidade a ter a maior concentração de empregos.

Tendência é o movimento contrário

Subsecretário de Atendimento ao Trabalhador e ao Empregador, José Eduardo Correa afirma que o DF passa por um momento positivo em que se registra a diminuição do desemprego. Porém, ele ressalta que ainda ocorre a aglomeração de empregos em uma única localidade devido, principalmente, à proximidade com os poderes do Estado.

“A concepção inicial de Brasília previa a concentração da população em torno da administração pública. Ao longo dos seus 52 anos o que observamos é que algumas cidades, que começam a ter vida própria, também precisam de comércio e serviços. Isso fará o movimento contrário ao que acontece. No Guará, por exemplo, estão sobrando vagas que não serão preenchidas pelos moradores locais, devido à alta escolaridade”, aponta Correa.

De acordo com o subsecretário, há na concentração de postos de trabalho uma infinidade de pontos negativos. Porém, ele ressalta que, à medida que as outras cidades começam a se estabilizar economicamente, há a expansão de postos de trabalho. “Acredito que, à medida que acontece a saturação do Plano Piloto, as outras cidades passam a crescer. Uma proposta interessante para este problema é a construção do novo Centro Administrativo do GDF fora do Plano”, observa.

Os reflexos negativos da má distribuição dos postos de trabalho fazem parte da vida de muitos brasilienses, cotidianamente. Nas ruas, em horário de pico, o trânsito chega a dar um nó com tantos engarrafamentos que, agora, não se limitam às avenidas da capital, mas, também, às pistas que dão acesso à Região Metropolitana do DF.

Rotina sempre cansativa

Muitos trabalhadores, no percurso entre a casa e o trabalho, precisam enfrentar horas de congestionamentos, viagens em pé, ônibus lotados, ruas com grande aglomeração de transeuntes, dentre outros problemas. A auxiliar de serviços gerais Maria da Silva, 41 anos, mora em Ceilândia há 20 anos e em todo este período trabalhou no Plano Piloto. Em seu ponto de vista, a cidade não oferece muitas condições de trabalho em sua área de atuação. “Se tivesse vaga perto de casa, claro que eu iria, embora já tenha acostumado com a rotina”, comenta.

Com a mesma opinião, a vendedora Neide de Sá, que há oito anos trabalha em uma banca na Rodoviária do Plano Piloto, diz que Ceilândia – cidade onde mora – não tem grande oferta de emprego. “Nunca trabalhei em Ceilândia. Sempre tive empregos no Plano”, diz.

Apesar de proporcionar o sustento de muitos brasilienses, a aglomeração dos postos de trabalho na região central do DF é considerada um aspecto natural de Brasília pelo especialista em mercado de trabalho e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Pinho.

Segundo ele, a única saída para estes problemas sociais é a descentralização dos empregos e o aquecimento do comércio, indústria e setor de serviços das regiões administrativas. “A descentralização tem sido estudada com a criação de indústria e outras organizações que consumam mão de obra. Com isso, cidades que não têm vida própria, que acabam sendo parasitas do Plano, começam a ter independência. Se não tiver emprego, a criminalidade aumenta e todas estas mazelas criam um círculo vicioso negativo”, explica.

Trânsito

Morador de Águas Lindas de Goiás, na Região Metropolitana do DF, há dez anos, o eletricista Edmar Sampaio, 32 anos, trabalha no Plano Piloto e diariamente gasta, em média, três horas no trânsito por causa dos engarrafamentos. Para Sampaio, embora a cidade onde reside esteja em desenvolvimento, não há muitas ofertas de trabalho. “Quem quer trabalhar sempre consegue emprego, mas lá em Águas Lindas é muito difícil. Venho de ônibus, a passagem de R$ 4,60 é cara, pego engarrafamento e já chego ao trabalho cansado”, conta.

O serralheiro Arnon Nunes, 37 anos, mora em Valparaíso de Goiás e vai ao Plano Piloto de carro. “Valparaíso está crescendo, mas ainda não tem muitas oportunidades. Trabalho no Plano há 17 anos. É cansativo, mas prefiro me manter neste emprego, que tenho desde 2002”, diz.