Governo de SP não dialoga com movimento sobre cotas
A notícia que circulou na imprensa paulista no último final de semana sobre proposta das três universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp), que destinariam 50% das vagas nessas instituições para um programa de cotas, foi recebida com ressalvas por militantes do movimento negro no Estado.
Publicado 27/11/2012 16:15 | Editado 04/03/2020 17:17
Segundo matéria publicada no portal Rede Brasil Atual, na tarde da segunda, 26, não houve a confirmação das três universidades de que há uma proposta que será encaminhada ao governador Geraldo Alckmin.
Controvérsias à parte, o presidente da União dos Negros pela Igualdade no Estado de São Paulo (Unegro), Manoel Julio, o Julião, destacou que, se de fato houver uma proposta que caminhe para implementação de politicas afirmativas em São Paulo, deve-se muito à pressão do movimento e das entidades que compõem a Frente Pró-Cotas Raciais em São Paulo.
“As ações tem sido permanentes e foram intensificadas após a aprovação do estatuto da Igualdade Racial e também após a deliberação do STF pela constitucionalidade das cotas nas universidades”, afirmou.
Segundo ele, a Frente tem uma calendário de atividades que inclui seminários, manifestações, audiências públicas que buscam esgotar o assunto e encontrar caminhos para reduzir a desigualdade racial no Estado.
Ele também avaliou como conveniente para o Governo do Estado, alvo de críticas pela onda de violência em São Paulo, anunciar neste momento uma aparente boa vontade com a população negra.
“Se se confirmar essa proposta, é uma resposta do governo. É preciso levar em conta que o governo está desgastado pela violência na metrópole, sobretudo, contra jovens pobres e negros”, completou Julião.
Ações paliativas e falta de diálogo
Estima-se que 35% da população do Estado de São Paulo é formada por negros e pardos. Nas universidades públicas paulistas a presença desse segmento oscila entre 8 e 10% do total dos estudantes.
“As práticas de inclusão social que existem nessas universidades não são reconhecidas como políticas de ação afirmativa. São insuficientes”, lembrou Julião.
Integrante do Conselho Geral da Uneafro, Douglas Belchior , disse que o movimento negro não tem sido ouvido no momento da elaboração dessas políticas. Segundo ele, as formulações de inclusão que existem atualmente nas universidades paulistas “não dialogam com as reivindicações do movimento.”
Ele aponta contradições nas supostas propostas de inclusão que pressupõem que o cotista, por ingressar na universidade pelas cotas, não tem condições de participar do ambiente acadêmico e necessitaria de uma espécie de “reforço” para fazer parte do ritmo da universidade.
“São propostas bem elaboradas mas que trazem no fundo um preconceito. Com mais de dez anos da implementação das cotas, pesquisas, inclusive do IPEA, mostram que os cotistas tiram tão boas notas quanto aqueles que entraram pelo vestibular tradicional. O cotista se supera”, argumentou Douglas.
Ele completou que o movimento negro quer acesso direto à universidade, sem subterfúgios. Douglas ainda criticou o porcentual de vagas para negros. “Deveria ser calculado em cima de 100% das vagas nas universidades e não em cima de 50% das vagas repetindo o erro do governo federal”.
Segundo Douglas, a Frente Pró-Cotas se reunirá na próxima semana e vai exigir que o movimento negro e a sociedade civil estejam presentes na discussão dessa proposta com as universidades e o governo do Estado. “A proposta deve ser legitimada por quem tem interesse nela”.
De São Paulo, Railídia Carvalho