Grupo de Trabalho Araguaia: A busca pela Verdade
A Guerrilha do Araguaia foi um dos atos revolucionários mais emblemáticos e corajosos da história do Brasil, onde heróis brasileiros que lutavam pelo fim da sangrenta ditadura foram assassinados pelo Exército. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) foi a organização política que liderou a Guerrilha e que teve muitos militantes covardemente mortos pela repressão militar.
Por Bruno Ferrari
Publicado 29/11/2012 14:41 | Editado 04/03/2020 17:03

Após uma ação na justiça federal de Brasília em 1982, realizada por mais de vinte familiares
dos mortos e desaparecidos no Araguaia, a União foi condenada a prestar contas sobre os restos mortais dos guerrilheiros. Entretanto, tal fato não aconteceu; após a apresentação de relatórios duvidosos e superficiais, nada foi concretizado. Contudo, a Corte Inter-Americana de Direitos Humanos, em 2010, condenou o Brasil pelo caso Araguaia.
Na década de 1980, os próprios familiares realizaram buscas na região, e encontraram cemitérios clandestinos e restos mortais, mas não tinham autorização para a retirada. Com a forte movimentação dos familiares e da opinião pública, o exército protagonizou o infame episódio da reocultação dos corpos dos revolucionários, que ficou conhecido como “Operação Limpeza”. Na década de 1990, os familiares voltaram ao Araguaia, com uma equipe técnica, e fizeram novas buscas.
Em 2009, o Governo Federal instituiu um grupo de trabalho para investigar o caso Araguaia, denominado Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), que era composto pela Polícia Federal; Ministério da Defesa; Ministério da Justiça; e com intensa participação militar (que protagonizavam a operação).
Em 2011 houve uma reformulação desse Grupo, após decisão judicial no ano anterior, o Governo passou a incluir os familiares. A nova iniciativa foi denominada Grupo de Trabalho Araguaia (GTA).
No GTA, o comando de busca não é mais protagonizado pelo exército, que passou a ficar só no apoio logístico. Hoje o Grupo de Trabalho Araguaia tem na composição o Ministério da Defesa; Ministério da Justiça; Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça; familiares; além de todo corpo técnico de busca, com antropólogos, peritos e outros profissionais. O ministério público acompanhou os trabalhos. O PCdoB também teve representante no GTA, Aldo Arantes.
Djalma Oliveira, membro da direção estadual do PCdoB-RJ e irmão da guerrilheira comunista Dinalva Teixeira Oliveira (Dina), esteve presente na terceira expedição deste ano (em agosto) e na última (em outubro). A cada ano 5 expedições são realizadas, com duração de 10 dias. Neste segundo ano do GTA, aconteceram em junho, julho, agosto, setembro e outubro.
Os centros de busca foram as cidades de Xambioá e, no outro lado do rio Araguaia, São Geraldo. Relato de moradores apontam os possíveis locais de sepultamento. O GTA, conta com os ouvidores, que são responsáveis pelo diálogo com os moradores e pela coleta dessas informações, que facilitam os trabalhos de busca. O Partido também tem representação entre os ouvidores, com Paulo Fonteles Filho.
Segundo o camarada Djalma, o Grupo de Trabalho tem evoluído bastante e caminha para a descoberta da verdade. Entretanto, ainda há uma intensa presença dos militares nas expedições, o que intimida os moradores, dificulta as investigações e atrapalha a busca real pela verdade da Guerrilha do Araguaia.
Djalma, escreveu em seu relatório sua impressão sobre os trabalhos, deixando claro o descontentamento com a ainda massiva presença dos militares na investigação e com a postura autoritária dos membros do Exército nas expedições. Confira parte do texto do camarada Djalma Oliveira:
Quero enaltecer o Grupo de Trabalho Araguaia e suas equipes pelo grande serviço prestado aos familiares, na busca dos restos mortais de seus parentes, demonstrando interesse social e agindo com competência nos trabalhos de pesquisa arqueológica. No entanto, considero bastante acintosa a presença do Exército neste trabalho, na medida em que tem inibido e coagido a população local a não prestar as precisas informações de localização de corpos, informações estas que o próprio Exército teria que dar, porque eles têm o INTEIRO DOMÍNIO destas informações, portanto seria muito mais proveitoso e eficiente para responder satisfatoriamente à sociedade brasileira, que as Forças Armadas, abrissem seus arquivos e revelassem à Nação a VERDADE.
Declaro que em minha opinião o Exército Brasileiro deveria afastar-se dos trabalhos por completo, ou no máximo prestasse apoio logístico de forma não tanto acintosa.
Quem não tem interesse que a verdade seja revelada, com certeza terá perdido a sua condição de colaborador na busca da verdade.
O GTA, ao meu ver, é um instrumento sério, com uma coordenação correta e democrática, com um corpo técnico competente e bastante dedicado, que ao meu ver busca com sinceridade desvendar o mistério para localizar os restos mortais dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia.
Entretanto, terá dificuldade de êxito na sua missão histórica, enquanto as Forças Armadas se negarem a dizer, neste faz de conta sinicamente, que fim deram àqueles que suas tropas prenderam, sequestraram, torturaram e executaram da forma mais cruel e desumana, ocultando seu cadáveres. Pior, praticaram a ocultação da ocultação quando realizaram a chamada operação limpeza.
É bastante contraditório aqueles que ocultaram os cadáveres dos guerrilheiros e que se negam a dizer onde estão, quererem ‘ajudar’ o GTA a procurá-los.
É a velha história da raposa para tomar conta do galinheiro, ou seja, a raposa depois de comer as galinhas se prontifica a ajudar o dono do galinheiro a localizar as galinhas. É muito cinismo da raposa e ingenuidade do dono do galinheiro.
A presença ostensiva do Exército nas operações do GTA só se justificaria, e seria bem-vinda, se fosse acompanhada das indicações dos locais onde foram ocultados os corpos dos guerrilheiros. Os militares do Exército da região certamente há 40 anos atrás não participaram daquelas barbaridades, mas como parte integrante da Instituição Exército Brasileiro, na atualidade, se comportam disciplinarmente como guardiões do Nefasto Segredo de Guerra. Os familiares dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia lutam há 40 anosna busca da verdade sobre o paradeiro dos seus parentes, esta resposta está nos arquivos do Exército, que devem ser abertos. Esta é a verdade que deve ser buscada. Portanto, não cabe mais tergiversação”.