PCdoB/CE: Comitê Estadual avalia cenário pós-eleitoral
Reunidos neste sábado (1º de dezembro), os membros do Comitê Estadual do PCdoB cearense realizam uma avaliação do processo eleitoral deste ano e os novos desafios do Partido diante do novo cenário político. José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de comunicação do PCdoB, participa do encontro representando o Comitê Central.
Publicado 01/12/2012 20:01 | Editado 04/03/2020 16:28
Em sua intervenção, o dirigente nacional destacou que o novo cenário político brasileiro não pode ser visto dissociado da conjuntura internacional. Dentre os assuntos citados diante deste processo político, o aprofundamento da crise internacional do capitalismo. “Decorridos quase cinco anos desde que sua fase aguda estourou, tendo como epicentro os Estados Unidos e a Europa, a crise só tem se agravado. Apesar dos pacotes propostos em diversos países, não há analista que vislumbre perspectiva de saída a curto e médio prazos”, reitera.
José Reinaldo aponta para um cenário de grandes desafios para que entre na ordem do dia uma alternativa socialista. “Estamos numa situação de impasse: de um lado governos conservadores fazendo pacotes ainda mais restritivos e por outro lado as forças que poderiam organizar alternativas ainda não têm meios para chegar ao poder e apresentar uma saída. Esta não é uma situação de solução simples”, pondera.
O comunista alertou também sobre o quadro de ameaças à paz que se vê no mundo, com destaque ao conflito entre Israel e a Palestina. “Os conflitos se tornam mais agudos e o militarismo continua crescente. As ameaças à paz e à soberania dos países não podem ser desprezadas”, alerta.
Com o recente reconhecimento da ONU que considerou a Palestina Estado observador não membro, José Reinaldo vê uma abertura para novas conquistas. “Existe espaço para a luta dos povos. Este foi um grande passo, uma ação concreta que representa acúmulo de força no sentido da conquista de um estado independente. Este espaço que se cria ratifica possibilidades de desenvolvimento da luta anti-imperialista dos povos. Sem dúvida, irá contribuir para criar uma nova situação geopolítica no mundo. Percebemos ainda que o imperialismo já não faz o que quer. Estamos acompanhando o despertar das consciências dos povos”, analisa.
Cenário nacional
Debruçando-se sobre o atual quadro político brasileiro pós-eleições, José Reinaldo avalia que a luta eleitoral representou mais um cenário de embate histórico entre as forças progressistas e conservadoras. “Nem sempre este embate aparece de forma explícita. Mesmo quando se busca esconder, ele surge de uma maneira ou de outra”.
De um modo geral, considera Carvalho, o quadro representa grande aprovação – parcial ou pontual – ao governo da presidenta Dilma. “Ela se afirmou como importante liderança política”. Segundo ele, o PCdoB avalia que o resultado eleitoral deste ano foi positivo para as forças que compõem a base do governo. “Tanto Dilma quanto Lula saíram fortalecidos nesse processo. Foram os comandantes de uma batalha vitoriosa”, considera.
Do ponto de vista partidário, reforça o comunista, “os vitoriosos são PT, PSB, PMDB e, em outra medida, PDT e PCdoB”. Para José Reinaldo, o resultado das eleições deste ano terá reflexos em 2014. “Dados expressivos da afirmação desses partidos no quadro nacional cria posição favorável para o embate de 2014. Forças se consolidam no cenário político brasileiro como forças que lideram o processo que está em curso e vai adiante”, analisa.
Sobre o PCdoB
José Reinaldo avaliou o desempenho do PCdoB nessas eleições. “De alguns anos pra cá, vivenciamos um processo de acumulação de forças e crescimento eleitoral gradual e contido. Não registramos grandes derrotas, mas também não demos ainda um grande salto no plano das disputas eleitorais”.
O dirigente apresentou alguns números que demonstram esta afirmação. Nacionalmente, o PCdoB subiu de 41 prefeitos para 56 eleitos; 66 vice-prefeitos para 87; 43% de crescimento na votação para as Câmaras Municipais; 608 vereadores para 976. “Destaque para as vice-prefeituras de Recife, Rio Branco e São Paulo, a maior cidade da América Latina. Além disso, elegemos prefeitos de Olinda, Juazeiro (BA), Contagem (MG), Jundiaí (SP) e Belford Roxo (RJ)”, enumera.
Avaliação política
O dirigente nacional dos comunistas do Brasil reforça que cada comitê estadual deve realizar avaliações de seu desempenho eleitoral local. “É preciso tirar lições mais completas desse processo e uma avaliação correta também oferece acumulo de experiência e aprendizado”, considera.
O secretário nacional de comunicação destaca as eleições em Manaus e em Porto Alegre como exemplos disso. “Disputar o 2º turno na capital amazonense e a afirmação da Manuela D’Ávila no Rio Grande do Sul, por exemplo, demonstram que o PCdoB está de pé mesmo sendo derrotado nas urnas. Tivemos expressivas participações também em Florianópolis, Macapá, Goiânia, Aracaju e aqui em Fortaleza. As derrotas também são importantes e precisamos analisá-las”.
Outra questão que José Reinaldo recomenda que seja analisada com maior profundidade é quanto as eleições proporcionais. “Apesar de aumentarmos o número de vereadores eleitos no total, poucos foram em capitais. Temos que analisar melhor porque nosso desempenho nas capitais não avançou”, pontua.
Ordens do dia do Partido
Diante da atual fase política do PCdoB, José Reinaldo reforça as tarefas prioritárias do Partido. “Unir a base em torno da liderança de Dilma, mobilizar o povo para avançar nas conquistas e aprofundar a democracia nacional”. Ele defende também a luta por um maior protagonismo do Partido no processo político, eleitoral e institucional. “Com o crescimento do Partido, também aumentam nossos desafios e responsabilidades. Nossa ligação principal é com o povo, por isso devemos nos empenhar no trabalho junto às massas. A gente quer uma revolução política e social no país e o socialismo deve orientar o nosso trabalho cotidiano”, defende. Ele acrescenta ainda o esforço pela construção orgânica do PCdoB. “Queremos construir um partido verdadeiramente comunista, de massas, com programa, lideranças e ideologia”.
PCdoB no Ceará
Em sua intervenção o presidente estadual do PCdoB no Ceará, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas). avaliou o quadro político local. “No Ceará, a grande vitória foi a dos partidos que fazem parte da base aliada do Governador Cid Gomes (PSB), que deixa uma marca de impulsionador do desenvolvimento do Estado”, analisa. “O PSB subiu de 22 prefeitos para 40, incluindo Fortaleza. O PT, apesar de perder na capital, elegeu 28 prefeitos. PDT subiu de 2 para 8 prefeituras, enquanto o PCdoB aumentou 5 cidades administradas por comunistas para 7”.
Patinhas também citou o fraco desempenho da oposição no Estado. “O PSDB tinha 54 prefeituras e agora só saiu vitorioso em 8. O PR, do ex-governador Lucio Alcântara, caiu de 9 prefeitos para 5, enquanto o DEM continuou com duas administrações municipais”.
Carlos Augusto também considera o crescimento da legenda no Ceará gradual. “Aumentamos nossa representação institucional em todas as regiões do Estado. Em 2008 elegemos 5 prefeitos, e neste ano subimos para 7. Também aumentamos a quantidade de vice-prefeitos de 4 para 6. O número de vereadores acompanhou este crescimento se comparado à eleição municipal anterior. Em 2008 eram 54 parlamentares em 39 cidades. Neste ano elegemos 89 vereadores em 58 municípios cearenses”, contabiliza.
Mas as eleições no PCdoB deste ano não foram feitas só de conquistas. “Em Maranguape, apesar da excelente administração do prefeito George Valentim, não conseguimos reelegê-lo. Em Fortaleza o resultado foi aquém do que esperávamos, com uma votação inexpressiva no 1º turno”, reconhece o dirigente, que acrescenta: “Nesta reunião devemos refletir coletivamente sobre esses resultados”.
Patinhas reforça a necessidade de realizar as avaliações em todas as cidades onde o PCdoB disputou as eleições. “Devemos buscar lições para o comando político do Partido. Participamos de batalhas eleitorais complexas e o resultado, positivo ou negativo, deve nos engrandecer”.
Sobre Fortaleza
Segundo o dirigente comunista, a análise das eleições em Fortaleza deve ser feita em seu conjunto, levando em conta os dois turnos. “Na fase da pré-campanha, ainda em 2011, pouco antes da nossa Conferência Estadual, definimos lançar candidatura própria, buscando construi-la através de um arco de alianças. Já tínhamos conversado com PSC, PP, PRB, PV, PP e PTB. Não estava nos nossos planos sair sozinhos. No entanto, ao longo do processo, cristalizou-se o rompimento entre o governador e a prefeita, o que deu a tônica da campanha, criando uma polarização na mente popular”.
Patinhas destacou ainda a necessidade de se avaliar melhor as consequências da decisão de lançar a candidatura sem alianças. “Precisamos sempre observar como se comportam os nossos aliados, analisar suas possíveis ações e as consequências delas. Não vislumbramos alternativas. Partimos para o ‘plano A’ sem examinar com maior atenção um ‘plano B’.”, reconhece.
Ao longo da campanha, reforça, o quadro que se formou entre os candidatos afunilou-se. “Os discursos dos concorrentes eram dirigidos para determinados públicos. Tivemos dificuldade de encontrar nosso espaço. Além de sair sozinho, pouco tempo de propaganda eleitoral gratuita, nossa dificuldade maior foi a construção desse discurso que expressasse o sentimento de determinada faixa”.
Apesar das dificuldades enfrentadas na disputa na capital, Patinhas reforça o sentimento de unidade do Partido ao longo do processo eleitoral. “Além da nossa militância, os nossos candidatos a vereadores levaram nosso nome por toda a cidade. Com uma postura de ir até o final, não só Inácio e Chico Lopes, mas todo o conjunto do Partido se manteve firme”, enaltece.
O dirigente estadual destacou porém que ao final do processo eleitoral na capital, os comunistas, que apoiaram o candidato Roberto Cláudio (PSB), no segundo turno, também podem se considerar vitoriosos. "Contribuimos para a vitória das forças que se aglutinaram em torno da ideia de renovação. O desejo de mudanças da população de Fortaleza é muito grande, por isso nos posicionamos em sintonia com esse sentimento e vamos ajudar o novo prefeito a adminstrar a cidade voltado para as aspirações do povo, em especial dos que mais precisam do poder público", afirmou Patinhas.
Desafios para os próximos anos
Dentre os desafios para os próximos anos, Carlos Augusto reforça o de consolidar o PCdoB em todas as regiões do Ceará. “Nosso intuito é, nesta próxima década, reforçar o empenho na construção de um Partido revolucionário no Ceará, que participa de lutas sociais na perspectiva de mudanças na sociedade, com reformas estruturais e na construção de uma nova sociedade”, defende.
Do ponto de vista institucional, ele defende que o PCdoB continue neste ciclo de crescimento, com novas filiações. Patinhas também destaca a importância de consolidar os comitês municipais. “Eles foram os principais protagonista das eleições. Fortalecendo-os, poderemos dar um grande salto nessa nova conjuntura política. Para isso, ressaltamos a necessidade das avaliações locais, destacando os pontos positivos e negativos em cada cidade, e extrair lições dessa batalha para enfrentar novas tarefas”.
Com o crescimento do Partido e sua interiorização, Patinhas defende que as lideranças comunistas de destaque devam ser integradas às ações partidárias. “Essas lideranças devem enfrentar juntas os desafios, de forma coletiva, reforçando nossa unidade”. O planejamento para os mandatos executivos dos eleitos também é posto como tarefa partidária. “Os prefeitos e vereadores devem cumprir seus programas de campanha, visando o desenvolvimento do município e, com isso, ir formatando certos redutos eleitorais do Partido”. Patinhas ratifica ainda a integração dos mandatos municipais com os dos parlamentares estaduais e federais.
Outras frentes
A atuação do PCdoB é permanente e não se limita apenas aos períodos eleitorais. Carlos Augusto defende o fortalecimento das demais frentes além da institucional/eleitoral: a dos movimentos sociais e da luta de ideias. “Nossa prioridade agora deverá ser fortalecer a frente sindical, comunitária e juventude, deslocando quadros para liderar a CTB, a Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza e ainda a gloriosa UJS”, defende.
Na frente da luta de ideias, considera Patinhas, o tema também será aprofundado junto aos comitês municipais. “Em cada cidade, iremos organizar plenárias para discutir as grandes questões que movimentam o país. Através dos nossos instrumentos, como o Portal Vermelho e o jornal ‘A Classe Operária’, levamos opinião fazendo contraponto à mídia burguesa, sempre apresentando novas ideias, abrindo horizontes aos cidadãos. Devemos ainda reforçar a atuação da Fundação Mauricio Grabois e do Cebrapaz, braços do Partido que dialogam com a sociedade”.
Para 2013, o PCdoB estará concentrado no processo de congresso, momento em que acontecerão discussões em torno do Partido e eleições da nova direção partidária. “Ao longo do ano, iremos discutir todas essas questões, com revigoramento político e ideológico, tratando de um Partido que cresce em busca de chegar ao objetivo de avançar no seu crescimento e fortalecimento”.
Homenagem
Tanto José Reinaldo quanto Carlos Augusto renderam homenagem a Sérgio Miranda, destacado militante comunista que faleceu no início da semana passada, vítima de câncer. Ambos destacaram a atuação em defesa das causas do socialismo. Neste domingo a reunião aprovou uma moção em homenagem a Sérgio Miranda e a resolução política sobre os debates ocorridos e as tarefas dos comunistas cearenses.
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De Fortaleza,
Carolina Campos