Mídia, poder e política são eixos de debate em seminário da CTB

Para discutir sobre a necessidade da democratização da comunicação no Brasil e o poder que a mídia tem sobre a sociedade, trabalhadores se reuniram nesta quarta-feira (05/12), no Hotel Sol Vitória Marina. O debate marca o primeiro dia do Seminário Política e atualidade, promovido pela CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). O tema Mídia e democracia ficou a cargo dos jornalistas Altamiro Borges e Paulo Rogério.

Velho conhecido pelos trabalhadores na luta contra a ditadura midiática, Miro, como é chamado, começou sua exposição falando sobre o fato de o movimento sindical não dar tanto crédito a questões estratégicas e fundamentais como a comunicação, pois ficam o tempo inteiro correndo atrás do prejuízo das categorias e das demandas. Por isso, a necessidade de se debater amplamente sobre o tema.

Para abordar o poder da mídia, ele deu quatro exemplos de casos que aconteceram no país recentemente. O primeiro foi a espetacularização feita pela mídia nacional sobre o julgamento da Ação Penal 470, mais conhecida como Mensalão do PT. “Este foi posterior ao do PSDB, que não teve visibilidade. No caso do atual, a mídia tratou de acelerar o julgamento e fez com que coincidisse com as eleições municipais. Os resultados se deram justamente nas semanas do 1º e do 2º turnos. A intenção era que o fato interferisse na votação. Ou foi apenas uma coincidência?”, explica o jornalista.

Outro é o Caso Rosemary. Para não cansar o cidadão com um único tema, lançaram mais este nos veículos e fizeram relação com o ex-presidente Lula, inclusive tratando o personagem principal como sua amante. Segundo Miro, FHC também teve um caso com uma jornalista da Rede Globo, mas o caso nunca foi divulgado pela grande mídia.

Na opinião do jornalista, eles não querem atingir Lula, mas a cada um dos brasileiros que simpatizam com a forma de governo dele do metalúrgico. “Querem pegar um símbolo da nossa luta para atingir a todos e fazer isso se refletir em 2014. Bateram no PT, bateram em Lula e a próxima deve ser Dilma. Eles sofreram uma derrota e querem voltar ao poder. E, se a gente permitir, pode haver um retrocesso nesse processo que foi aberto com a era Lula”, completa.

O terceiro fato é a capacidade da mídia de impedir de ser analisada. O último é o relatório sobre o dono da revista Veja, do grupo Abril, Roberto Civita. O documento foi divulgado na mesma semana da conclusão do relatório da CPI de Carlos Cachoeira. Esses quatro fatos são exímios exemplos do poder da comunicação. Por isso, Altamiro Borges ressalta que sem a democratização da mídia não existe democracia.

“A mídia é um duplo poder: econômico e político, onde o único que tem liberdade é o dono. Ainda tem os interesses ideológicos e a consequente manipulação da informação. O que não interessa é omitido e o que interessa é realçado”. Atualmente, 30 impérios comandam a comunicação no mundo. No Brasil está na mão de apenas sete famílias: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Band), Macedo (Record), Frias (Folha), Mesquita (Estadão) e Civita (grupo Abril).

Miro destacou ainda a necessidade de a sociedade lutar pela regulação da comunicação, a começar pelo cumprimento da Constituição Federal, que determina que não pode haver monopólio. “É preciso aplicar a lei”. O jornalista Paulo Rogério, do blog Correio Nagô, reforçou que a não democratização das mídias é um problema grave, que afeta diretamente o desenvolvimento do país. “Os conceitos precisam ser discutidos. Como disse Miro, a democratização só é possível com a pluralização da comunicação”.

Outro ponto discutido por Paulo Rogério foi o cerceamento dos direitos da comunidade negra na mídia brasileira. Para o blogueiro, há muitas mudanças a fazer, principalmente no Código de Comunicação, vigente desde 1962. “É preciso forçar a criação de um marco da mídia no Brasil. A pauta de comunicação não avançou nos debates com o governo federal”. Paulo reforçou ainda a necessidade de se investir em educação para que a população tenha visão crítica sobre a mídia e os comunicadores sejam também questionadores.

Nesta quinta (06/12), segundo dia do seminário, estão em pauta a luta pela terra no Brasil, o sindicalismo e suas adversidades diante da atual crise financeira mundial. No último dia, os temas norteadores do debate são política energética, relações de trabalho, saúde e segurança.

De Salvador,
Maiana Brito