São Paulo, terra de gente bamba
Para marcar o Dia Nacional do Samba, a Assembleia Legislativa de São Paulo promoveu uma Sessão Solene, por iniciativa da deputada comunista, cantora e compositora Leci Brandão (PCdoB/SP), cujo gabinete elaborou um folheto em homenagem a duas lendas do samba paulista, Dona Olímpia e Tio Mário.
Por Leci Brandão
Publicado 07/12/2012 17:39
que São Paulo enterrou o samba
que não tinha gente bamba
e não entendi porque.
Fui à Barra Funda
Fui lá no Bixiga
Fui lá na Nenê.
Me perdoa poeta, mas discordo de você
(….)
Vou lembrar madrinha Eunice, Tia Olímpia e soldados caiapós
Primeiro grupo, do samba mais respeitado
Barra Funda os boêmios, no Bixiga os teimosos
Paulistano lá da Glória, desprezados caprichosos
Lavapés primeira escola, cavaquinho e pandeiro
Nenê da Vila Matilde, de primeiro de janeiro
Seu Inocêncio Tobias, Pé Rachado e Carlão
Xangô da Vila Maria, Dona Sinhá, a tradição (…)”
Sou carioca, nascida em Madureira e fui a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira, minha escola do coração. Minha relação com o samba, com o Carnaval e com as escolas de samba e suas comunidades se confunde com a minha história de vida.
Assim como eu, milhões de cidadãos pelo país afora também vivem o samba e o Carnaval muito além do glamour dos desfiles e das fantasias. E são justamente essas pessoas que fazem essa festa e a mantém viva, em constante transformação e, ao mesmo tempo, guardando sua essência e tradição.
Muito se fala sobre o samba e o Carnaval como expressões fundamentais da cultura brasileira, mas o reconhecimento às pessoas que constroem cotidianamente essa cultura está muito aquém de toda a importância que lhe é atribuída.
Em São Paulo, assim como em outros Estados, essa realidade não é diferente. Por isso, valorizar o trabalho dessas pessoas, que são as verdadeiras celebridades do Carnaval e do samba, é uma obrigação de todos aqueles que têm compromisso com a cultura em nosso país.
Neste 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba, procuramos fazer esse reconhecimento realizando, dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo, uma homenagem a dois baluartes do samba de São Paulo: Mário Ezequiel (Tio Mário) e Olímpia dos Santos Vaz (Dona Olímpia) (foto).
Em
nome deles estendemos nossa homenagem, respeito e gratidão a todos os grandes nomes do samba paulista, verdadeiros patrimônios da cultura brasileira.
Dona Olímpia: Rainha da Corte
Olímpia dos Santos Vaz é, sem sombra de dúvidas, uma autêntica “Vaivaiense”. Protagonista da fundação da escola de samba Vai-Vai, Tia Olímpia, como também é conhecida, desfila na escola desde os tempos do cordão, que nos primórdios se chamava “Cordão do Cai-Cai”, atuando fortemente ao lado de grandes personalidades do samba como Pé Rachado, Madrinha Eunice, Frederico Penteado e Geraldo Filme, entre outros.
Dona Olímpia é o que podemos chamar de “joia preciosa do samba”, uma das mais importantes matriarcas do samba e do carnaval paulista, com significativas contribuições para a formação e manutenção da história e da memória do nosso glorioso samba.
Por mais de duas décadas, Dona Olímpia foi responsável pelo cordão, organizando o cortejo de reis e rainhas onde sua filha, Cleuza, desfilava como princesa e, mais tarde, viria a se tornar porta-bandeira da Escola.
Após anos de dedicação, Dona Olímpia recebeu o título de Embaixadora do Samba paulistano. Atualmente, aos 98 anos, é uma das últimas e mais importantes personalidades do samba que marcaram época e transcenderam o espaço social da cultura afro-brasileira em todos os espaços de sociabilidade músico-cultural.
(Adaptação do texto de autoria de T. Kaçula, sambista e sociólogo)
Tio Mário: A lenda viva do samba paulista
Mário Ezequiel, o Tio Mário, diz que é “Barrafundeiro nato”. Nascido em 12 de novembro, na rua Sérgio Thomás, na Barra Funda, comandou o movimento de samba nas Perdizes, no morro da Calábria, e é um dos dissidentes do Cordão Campos Elíseos onde seu irmão, conhecido como “Panca”, foi o apitador de bateria. Tio Mário foi tocador de surdo do Cordão Campos Elíseos e ajudou seu Inocêncio Tobias a fundar a Escola de Samba Camisa Verde e Branco e sempre diz orgulhoso que é mais velho de samba do que a própria Escola.
Crescido entre batuqueiros de tambu e de sambas de umbigada de Piracicaba e Tietê, cidades natal de seus pais, as influências rítmicas e melódicas dessa cultura “afro-bantu-brasileira” estão muito presentes em suas composições.
Atualmente Tio Mário reside no bairro do Limão, em um dos mais importantes e respeitados redutos do samba em São Paulo, a Vila Carolina, onde foi um dos principais protagonistas na fundação do Bloco Carnavalesco Navio Negreiro de Vila Carolina.
Tio Mário, ou Marião como também é conhecido, tem o inconfundível andamento dos sambas de “pés no chão” e sempre diz: “É a batida tradicional, não tem jeito, vem do tambu, da umbigada, do samba paulista”.
(Adaptação de texto de autoria de T. Kaçula, sambista e sociólogo).
O samba da Saracura
vai no Bixiga pra ver”
Em 1972 a Vai-Vai torna-se oficialmente uma escola de samba, com a nomenclatura Grêmio Recreativo Cultural e Escola de samba Vai-Vai, estreando logo no Grupo Especial. Porém o primeiro título como escola de samba chegou em 1978, seis anos depois da mudança. Outros títulos também foram conquistados em 1981, 1982, 1986, 1987 e 1988. No final dos anos 90 e início dos anos 2000 a escola viveu a sua melhor fase, quando após conquista do título de 1996, foi tetracampeã consecutiva entre 1998 e 2001. Em 2008, com um enredo sobre a educação no Brasil, a escola conquistou seu 13º título. O mais recente título da escola é de 2011, com o enredo “A música venceu”.
Fonte: Site oficial da Escola de Samba Vai-Vai (www.vaivai.com.br)
Uma breve história do Camisa
Minha fez raiz na Barra Funda,
Berço do meu carnaval…”
Depois de 17 anos, em 1953, Inocêncio Tobias, o Mulata, cria um movimento para reorganizar o antigo grupo carnavalesco, criando no dia 4 de setembro o Cordão Mocidade Camisa Verde e Branco. Logo no seu primeiro ano desfilando como cordão, o Camisa Verde vence o desfile de cordões, com o enredo IV Centenário; O Camisa ainda seria campeão como cordão mais quatro vezes: 1968; 1969; 1971 e 1972. Depois do carnaval de 1972 o Camisa segue o caminho natural, tornando-se escola de samba, chegando ao primeiro título, como escola, em 1974.
Depois vieram os títulos de 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993. Em 1996 a Escola vai para o Grupo de Acesso. Em 2002, com um desfile falando sobre o número quatro e suas místicas, a Camisa conquista o 2º lugar e, desde então, não voltou mais ao desfile das campeãs.
Fonte: Site oficial da Escola Mocidade Camisa Verde e Branco (www.camisaverde.net)
Samba e ações afirmativas
A riqueza musical de nosso país é extraordinária mas, de todos os gêneros, o samba é o de maior expressão. Espaço de luta do povo brasileiro, especialmente dos afrodescendentes, o samba já foi marginalizado e perseguido. Hoje é símbolo de nossa brasilidade. Essa mudança não aconteceu de uma hora pra outra. É resultado de um processo lento, que exigiu dedicação, trabalho e paixão.
Por toda sua história, o universo do samba e seus protagonistas merecem receber um olhar afirmativo do poder público e das instituições. Considerando isso, o mandato da deputada Leci Brandão dedicou especial atenção a esse segmento, permanecendo aberto ao diálogo com as comunidades, as escolas de samba e as entidades que as congregam, recebendo propostas e encaminhando demandas, sempre que possível.
A realização desta Sessão Solene na Assembleia Legislativa de São Paulo, em homenagem ao Dia Nacional do Samba, comemorado em 2 de dezembro, é um ato importante que deve servir de provocação para que legisladores e gestores públicos e da iniciativa privada elaborem e implementem projetos e políticas voltados para o universo do samba, com foco principalmente nas pessoas -os sambistas e suas comunidades.
Que assim seja!
Fonte: folheto Memória do Samba paulista – Dona Olímpia e Tio Mário, publicado pelo gabinete da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP), para homenagear o Dia Nacional do Samba (2 de dezembro).