Gabrielli: "Petrobras seria vendida aos pedaços"

José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, afirma que o plano do governo de FHC era fatiar a empresa, entre 1998 e 2002, desmembrando-a entre megaempresários. Ele avalia como "boa" a gestão de Graça Foster, parabenizou a presidenta Dilma pela condução econômica do Brasil e mostrou indignação com o pedido de demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, pela The Economist.

Por Romulo Faro, da Bahia

José Sérgio Gabrielli

Segundo ele, as críticas não são à sua gestão, mas ao desempenho da Petrobras sob o governo do ex-presidente Lula e, "na maioria das vezes", as críticas "são mais ideológicas do que verdadeiras".

Sobre a polêmica em torno da nova regulamentação para a exploração do petróleo, cujo projeto foi aprovado pelo Congresso e vetado por Dilma, o ex-dirigente da estatal sugeriu que haja um "meio termo" para que Rio de Janeiro e Espírito Santo "se conformem" com o impacto da possível divisão igualitária dos royalties num futuro próximo.

Gabrielli elogiou o governo da presidenta Dilma Rousseff do ponto de vista econômico com positividade e também rechaçou a revista The Economist que sugeriu a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega. "É muito exótico isso."

Pergunta: Como o senhor viu o pedido de demissão de Guido pela The Economist?

José Sérgio Gabrieli:
Acho muito estranho uma revista pedir a cabeça de um ministro, é muito exótico isso. Não é uma coisa usual. A revista deve ter suas razões, que eu não quero especular. Mas é muito exótico uma revista como a The Economist pedir a cabeça de um ministro.

P: Como se define o momento econômico do país?
JSG:
Eu acho que a política econômica da presidenta Dilma é correta na medida em que ela busca reduzir a taxa de juros, que ela busca uma intervenção na gestão do câmbio, de forma que o câmbio não tenha um efeito deletério e na medida em que ela procura desonerar o custo tributário de setores que são altamente empregadores na mão de obra e que podem estimular o crescimento.

Nesse sentido, é uma política macroeconômica correta para atender a crise atual, é uma política expansionista, é uma política que visa estimular o crescimento da economia, principalmente considerando que nós temos poucas restrições hoje na questão do acesso a reservas internacionais. Isso não quer dizer que essa política não precisa de alguns ajustes, particularmente no que se refere à questão federativa. Essa política é assimétrica em termos de seus efeitos sobre os diversos estados e sobre as diversas regiões. Para os recebedores de fundos de participação estaduais, por exemplo, essa é uma política que reduz as transferências e cria um agravamento da situação fiscal dos estados e municípios que recebem recursos.

P: E a polêmica com a distribuição dos royalties do petróleo?

JSG: O veto da presidenta retoma uma situação anterior de concentração dos royalties na mão no Rio de Janeiro e do Espírito Santo. A discussão que há no Congresso hoje é de buscar encontrar um meio termo entre o que estava na lei que distribuía radicalmente os royalties para os estados não confrontantes a uma situação intermediária na qual esse processo ocorra ao longo do tempo para que Rio de Janeiro e Espírito Santo se adaptem a uma redução do crescimento da receita com os royalties. Acho que o caminho seria procurar o meio termo.

P: Como é a Petrobras dirigida por Graça Foster?

JSG:
Boa. Uma gestão muito voltada para dentro da empresa, muito voltada para aumentar a eficiência na gestão de um pacote de projetos que praticamente é o mesmo da minha gestão. Do ponto de vista estratégico não mudou muito. Mudou a forma de gerir, o que é positivo.

P: O que é positivo nessa mudança?
JSG:
Não vou entrar mais em detalhes sobre isso. Estou há dez meses fora da Petrobras. Como é que eu posso ficar avaliando a Petrobras?

P: E as críticas que o senhor vem recebendo sobre o período à frente da empresa?

JSG:
Críticas são críticas vindas de todos os lugares. Justas ou injustas elas têm direito de ser publicadas. Eu acho que são mais ideológicas do que reais e a crítica não é a mim, é ao modelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pessoal acha que a Petrobras deve ser diminuída. Eu acho que a Petrobras tem que crescer porque o papel dela é importantíssimo para a economia brasileira. A origem disso é do período pré-governo Lula. A origem da maior parte das críticas da dita imprensa e dos ditos analistas. São as viúvas do tempo que a Petrobras estava sendo preparada para ser fatiada, para ser vendida em pedaços, mesmo que o ex-presidente Fernando Henrique tenha dito recentemente que não concorda com isso. Mas era isso objetivamente o que estava sendo feito entre 1998 e 2002. E com o presidente Lula isso mudou. A Petrobras cresceu, se fortaleceu e saiu de US$ 14 bilhões de valor de mercado para mais de US$ 380 bilhões e hoje está valendo mais de US$ 250 bilhões.

Fonte: Portal 247