Pinheiro Guimarães: desenvolvimento bom é aquele que gera emprego

O painel sobre o atual processo de integração da América Latina e seus desafios, ministrado pelo embaixador e ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, iniciou nesta quarta-feira (12) o segundo dia do seminário “O processo de integração Latino-Americano e os Trabalhadores”, organizado pela Secretaria de Relações Internacionais da CTB e pelo Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES).

Secretário-geral de Relações Exteriores durante sete anos do governo Lula (2003-2009), Samuel Pinheiro foi uma das vozes mais eloquentes no processo que ajudou a enterrar a Aliança para o Livre Comércio das Américas (Alca) – iniciativa que buscava apagar todas as fronteiras comerciais do continente, num claro favorecimento à indústria norte-americana.

A indústria e desenvolvimento

O embaixador iniciou sua exposição abordando o processo de desenvolvimento e os possíveis cenários. Para ele, o desenvolvimento que o país precisa passa pela indústria. “O desenvolvimento bom é aquele que gera empregos. O desenvolvimento depende de uma crescente capacidade de aplicação de tecnologias de produção aos recursos naturais, desde sua extração até seu processamento e transformação física e química, em distintos setores.”

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Samuel Pinheiro destacou que a indústria é um dos setores prioritários para esse processo de desenvolvimento que o Brasil necessita, portanto é um equívoco a ideia de que o Brasil pode se desenvolver com base na agricultura, na mineração ou nos serviços e que, a partir da exportação de seus produtos, pode importar os bens industriais para seu consumo, sem que haja a necessidade de desenvolvimento industrial intenso e sofisticado. “Os setores que são diferentes da indústria, tais como a mineração, a agricultura e os serviços, dependem de máquinas e equipamentos produzidos pela indústria para funcionar de forma eficiente. Todos os equipamentos utilizados pelas mais diferentes unidades econômicas em qualquer setor da economia são produzidos pela indústria”, avaliou o diplomata.

Ao falar sobre a industrialização, Samuel Pinheiro chamou atenção para a questão da tecnologia estrangeira. Segundo ele, as multinacionais que se estabelecem aqui utilizam mão de obra mais barata, empregam tecnologia atrasada e enviam os lucros para o exterior. “A situação cria uma flexibilização das condições de trabalho e ainda afetam a indústria nacional. Um país com uma indústria atrasada é um país fraco econômica e politicamente; um país com sua economia desnacionalizada é um país com menor capacidade de fazer política econômica e de fazer política externa”, destacou.

Políticas de integração

No que tange às politicas de integração, o embaixador lembrou os países altamente desenvolvidos, em decorrência da crise, estão lançando mão de todo tipo de política para recuperar a sua atividade econômica, reduzir o desemprego, aumentar as exportações e conter as importações, sem maior consideração pelos acordos internacionais cuja negociação eles mesmos articularam e impulsionaram.

Na América do Sul, há três Estados vinculados à evolução da economia e à estratégia econômica dos Estados Unidos pelos acordos de livre comércio que celebraram (e que limitam gravemente sua autonomia de política econômica) que são o Chile, o Peru e a Colômbia, esta dilacerada pela guerra civil e vinculada pelo Plano Colômbia e pelos acordos militares aos Estados Unidos.

“Essa política promovida pelos Estados Unidos celebrou acordos com países como Canadá, México, Colômbia, República Dominicana, entre outras, que estabelecem uma área de livre comércio com os EUA e essa estratégia faz com que os países que assinem o tratado tenham tarifa zero, que permitem proteger as indústrias que estão sendo instaladas.”

Desafios pela frente

No entanto, um dos desafios apontado por Samuel Pinheiro diz respeito aos investimentos em infraestrutura para o desenvolvimento de países emergentes. Para ele, o caminho do desenvolvimento nos países latino-americanos é o investimento de recursos em energia, transportes, comunicações e, do lado social, em educação, saúde e saneamento básico. “O Estado só existe com arrecadação tributária, e é preciso investir os recursos em infraestrutura física e social.”

Samuel alertou ainda que para que se alcance um processo de integração que beneficie todos os membros de forma igualitária é preciso que haja uma luta permanente. "Há muito tempo se sonha com a integração na América Latina, mas sem a integração dos trabalhadores e dos movimentos sociais, nunca haverá uma verdadeira integração. Esse é o desafio das centrais, sindicatos e movimentos."

Ao final o ex-diplomata deixou uma mensagem parabenizando a CTB pelo seu aniversário de 5 anos. "Desejo todo sucesso à Central de Trabalhadores e Trabalhadoras. Meus votos, de que todo esse êxito e sorte se repitam nos próximos anos. E que ela continue contribuindo para que trabalhadoras e trabalhadores, mulheres em primeiro lugar pois são maioria na sociedade, tomem a condução desse país", finalizou Pinheiro.

Fonte: Portal CTB