Banco Central: juros caem com novo corte em projeção de PIB

O cenário pessimista para a economia mantém espaço para que o Banco Central siga com a política monetária de juros reais baixos. Esse horizonte foi reforçado ontem com novos cortes nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). E as projeções dos juros nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) caíram. Mas o volume, inferior à metade da média diária, sinaliza que esse cenário é cada vez mais consensual, deixando pouca margem para apostas mais especulativas.

Conforme apontou o boletim Focus – pesquisa semanal do Banco Central junto a profissionais de mercado – as projeções para a Selic permanecem em 7,25% até o fim de 2013. Já para o PIB, a mediana para 2012 saiu de expansão de 1,03% para 1,0%; para 2013, de 3,50% para 3,40%.

Já as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação usado pelo BC para calibrar o juro, subiu de 5,58% para 5,60%. E para 2013 foi de 5,40% para 5,42%.

A inflação segue no radar dos analistas como fator de atenção. Mas o ritmo lento da recuperação econômica tem mais peso. O próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, admitiu ontem que esse processo ocorre de forma "mais gradual do que se supunha".

Ele disse que a inflação em 2013 será menos pressionada. Mas, na dúvida, o mercado se protege e compra títulos federais atrelados à inflação, caso de Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-Bs). Puxando para cima a inflação implícita – diferença entre o juro nominal e a taxa do contrato negociado na BM&F de prazo equivalente, no caso o papel com vencimento em 2015, a inflação implícita alcançou o nível inédito de 5,98%.

O dólar comercial voltou a fechar em alta, ignorando o leilão conjugado de venda e compra da moeda, realizado ontem pelo BC, assim como o anúncio de outra operação do tipo, a ser realizada hoje. Segundo operadores, o câmbio continua pressionado pela demanda por moeda por importadores e empresas estrangeiras, enquanto o mercado aguarda que o BC atue de forma diferente para oferecer liquidez, por meio de swaps ou venda de moeda à vista. O dólar fechou em alta de 0,53%, a R$ 2,096, próximo da máxima de ontem de R$ 2,097.

"Temos um mercado comprador, em parte devido à sazonalidade do período", disse uma profissional do mercado. "Mesmo com os leilões de linha, o mercado quer swap. Uma alta em dia de leilão, em parte mostra que o mercado quer outro tipo de atuação do BC, senão vai ficar pressionando."

O BC realizou ontem seu terceiro leilão conjugado de venda e compra de dólares – também conhecido como linha compromissada – desde o início de dezembro. No meio da tarde, a autoridade monetária anunciou nova operação do tipo para hoje, com oferta total de até US$ 1,5 bilhão, em três etapas, a partir das 10h15.

A última operação com swaps cambiais tradicionais (que têm o efeito de uma venda de dólar futuro) ocorreu em 3 de dezembro.

O mercado, segundo alguns profissionais, também tem aproveitado a demanda apertada no câmbio para pressionar ainda mais e tentar provocar novas intervenções do BC, forçando a autoridade a sinalizar mais claramente até qual patamar tolera que a moeda suba.

"Tem uma dose aí de especulação [na alta]. O pessoal está vendo até onde o BC aguenta sem atuar", disse o operador de uma corretora em São Paulo.

Fonte: Valor Econômico