Estudantes visitam Exu na contagem regressiva para Bienal da UNE

Para alguns, o dia tão esperado deste dezembro de 2012 é o 21 próximo, a tão falada data do fim do mundo. Para a Bienal da UNE – União Nacional dos Estudantes –, reza pouca é bobagem para espantar essa previsão, já que o festival estudantil será realizado de 22 a 26 de janeiro do ano que vem.


foto: divulgação UNE

O calendário dos estudantes só acaba quando o fole não mais roncar e, tratando-se de Pernambuco, terra do rei do baião, difícil é ver gente pensando em fim de alguma coisa com a sanfona do filho de Januário dando o ritmo do xote.

Por isso, a Bienal da UNE escolheu o dia 13 de dezembro, nascimento de Luiz Gonzaga, como o começo de um novo tempo, em que o reconhecimento mundial do maior sanfoneiro que já passou por essas terras é também o reflexo de um novo sertão, um nordeste diferente e mais possível para todos nos dias de hoje.

Com a proposta de ir ao encontro de Luiz Gonzaga, em uma verdadeira imersão por sua vida e obra, os coordenadores da 8ª Bienal da UNE pegaram estrada rumo a Exu, a pequenina cidade do sertão pernambucano que no dia 13 quase não cabia de tanta gente vinda de todos os cantos do país em uma espécie de romaria-arrasta-pé em respeito ao seu filho mais famoso.

Como cantou Gonzagão, dizendo que a sua vida era viajar por este país, lá se foram nove representantes da UNE. Saíram de Recife, onde estão há mais de dois meses organizando a Bienal, ainda na madrugada do dia 13, para enfrentar quase 12 horas de chão até darem de cara com a famosa placa: Bem vindo a Exu, terra de Luiz Gonzaga.

As comemorações que tomaram conta da cidade já tinham começado, mas o pessoal, alguns pela primeira vez se encontrando com um sertão de verdade, conseguiu com o jeitinho que não abrimos mão "nem a pau", visitar o museu e a casa onde morou Gonzagão. Que os Maias nos perdoem, mas energia mesmo emana é dali. Objetos pessoais, vestimentas, instrumentos musicais e o modo de vida simples do sanfoneiro causaram um baque.

“Poder estar aqui hoje, no dia do centenário do nosso homenageado da Bienal, um dos maiores artistas do mundo, poder ver de perto e compreender um pouco mais esse personagem, essa figura do rei do baião, foi muito importante para todos nós que estamos agora muito envolvidos com toda essa história”, contou um dos coordenadores da Bienal, Rafael Buda.

Respeita Januário

A caravana da Bienal visitou também o mausoléu do pai Januário e da mãe Santana, duas figuras muito presentes na vida e na formação de Luiz Gonzaga. Foram também ao mausoléu do próprio Gonzagão.

Depois, a UNE participou de uma atividade comemorativa com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que inaugurou uma estátua de Luiz Gonzaga em frente ao museu.

Encontraram ainda com Joquinha Gonzaga, sobrinho do rei, que contou um pouco de casos, lembranças de seu contato com o tio. Tiveram também a oportunidade de conversar com Lula Gonzaga, um dos maiores animadores de cinema do país. Lula revelou que tem o direito de animar três músicas de Luiz Gonzaga, entre elas Asa Branca, projeto que ele já está tocando e deve ser lançado em breve.

Antes de começar os grandes shows, a equipe da Bienal assistiu a céu aberto, ao lado da casa onde viveu seus últimos dias, ao filme Luiz Gonzaga: de Pai pra Filho, de Breno Silveira.

Depois de uma longa agenda, a noite caiu no sertão de Exu – mas o calor não foi embora. E quando o fole roncou, o clima esquentou ainda mais. Nesse tom, foi dada a largada para os shows tão esperados do dia.

O neto Daniel Gonzaga, o herdeiro Dominguinhos e o admirador Gilberto Gil foram as atrações do principal palco montado em Exu, onde se apresentaram gratuitamente. O humorista João Cláudio Moreno, conhecido por ser um dos grandes imitadores da voz de Luiz Gonzaga, foi o mestre de cerimônia da noite, convidando o público para curtir os shows.

”Boa parte da música hoje no Brasil se deve ao Luiz Gonzaga, que nos antecedeu, que nos legou a chama que a gente tenta ir mantendo acesa. É uma festa de 70 anos do Gil, 100 anos do Gonzaga, essa coisa sem tempo da música brasileira que é eterna não tem duração, são essas coisas todas juntas”, contou Gilberto Gil.

Os coordenadores da Bienal aproveitaram e após os shows convidaram pessoalmente Gilberto Gil e Dominguinhos para se apresentarem no festival estudantil.

O presidente da UNE, Daniel Iliescu, que também estava em Exu, teve uma rápida conversa com Gil. O músico agradeceu o convite para a Bienal e falou sobre esse novo nordeste, segundo ele, “a região que mais cresce hoje no país” e por isso se mostra diferente e mais possível para todo o seu povo.

Assista abaixo vídeo produzido pela secretaria de Cultura do governo de Pernambuco com entrevistas de Gilberto Gil e Dominguinhos:

“Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que graças a Deus té pra nascê tive sorte, apôs nasci im Pernambuco, o famoso Leão do Norte. Nas terras do Novo Exu, da Fazenda Caiçara, im novencentos e doze, viu o mundo a minha cara. Dia de Santa Luzia, purisso é qui sô Luiz, no mês qui Cristo nasceu, purisso é que sô feliz”.

Gonzaga nasceu em uma fazenda chamada Caiçara, no povoado do Araripe, distante 12 quilômetros do município de Exu, no alto sertão pernambucano. Sem infraestrutura, a pacata cidade era atingida pela seca, pela pobreza e pela falta de oportunidades. Teoricamente, era impossível ser berço para algum rei. Mas, se tratando de Luiz Gonzaga, impossível mesmo era existir o impossível. Pelo amor à sua terra – e aos vaqueiros que correm caatinga adentro em busca do gado fugido -, ele fugiu dos estereótipos, venceu as dificuldades oriundas da estiagem e provou que nem sempre os meios justificam os fins.

Gonzagão foi a voz de um Nordeste não-emancipado, falando fundo a ouvintes iguais a ele – mais sertanejos ou mais urbanos, mais livres ou mais escravizados, mais desejosos de liberdade ou de amarras, mais ou menos independentes. Ouvi-lo no ano de seu centenário, nesse momento de fortalecimento das lutas populares no Brasil e da possibilidade de deslocamentos na pirâmide social do país é de arrepiar.

A Bienal da UNE, maior festival estudantil da América Latina, volta para o nordeste exatamente nesse contexto. A oitava edição do encontro retorna a Pernambuco, onde já foi realizado há 10 anos, regressando para as cidades de Recife e Olinda entre os próximos dias 22 e 26 de janeiro de 2013. O evento traz uma homenagem ao centenário do rei Gonzagão e o tema “A Volta da Asa Branca”.

A Bienal da UNE traz Gonzaga de volta a sua terra, cem anos após seu nascimento, para festejar com a juventude. Por meio da cultura e das vivências estudantis, a Bienal desenha uma nova região muito mais fértil e promissora, um lugar cada vez mais possível para o contra-êxodo da Asa Branca e para um recomeço do Brasil.

Vinheta da Bienal da UNE:

Fonte: UNE