Para matar a saudade de FHC

Enquanto Dilma luta para reduzir o valor da conta de luz e mantém o Brasil longe do FMI (tão atacado na Europa), em um período de crise mundial, com efeitos muito mais leves do que a crise atual, o ex-presidente FHC, há 11 dias da reeleição — uma invenção criada pelo PSDB e garantida com a compra de votos no Congresso — anunciou aumento de impostos e um acordo com o FMI. Depois do vídeo abaixo não há como não matar, em definitivo, qualquer saudade do FHC.

O então ministro da Fazenda, Pedro Malan, pediu a André Lara Resende que mostrasse os termos de um discurso de campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Esse pedido consta de uma conversa captada pelo grampo do BNDES, gravada presumivelmente entre os dias 19 e 23 de setembro de 1998.

Lara Resende era na época o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Seu telefone era um dos alvos do grampo. Em conversa com Malan, ele discutia trechos de um discurso importante que FHC veio a fazer no dia 23 de setembro, numa cerimônia do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.

O discurso acima foi considerado um marco na campanha eleitoral da reeleição do tucano. O país sofria os efeitos da crise econômica internacional, por causa da moratória da Rússia. Na TV, o PT acusava o governo de esconder a crise.

No dia 23 de setembro de 1998, a 11 dias da eleição, FHC falou finalmente sobre a crise. Apresentou um quadro de dificuldades, que exigiria ""sacrifícios" da população. O presidente se mostrava determinado a enfrentar os desafios.

Numa versão preliminar do discurso de FHC, Malan e Lara Resende lêem trechos na conversa captada pelo grampo-, o presidente chegou a escrever "se for necessário um acordo com o Fundo, o faremos". "Não precisa dizer isso", disse Lara Resende a Malan. O ministro respondeu: "O problema é que tem gente aqui que acha que precisa, entende?".

Por sugestão de Malan, o presidente acabou atenuando a frase. O termo "acordo" desapareceu. No discurso que leu no Itamaraty, FHC usou a palavra "entendimento", considerada menos perigosa num período pré-eleitoral.

Apesar do eufemismo usado no discurso, fica demonstrado na conversa entre Malan e Lara Resende que o governo negociava mesmo um acordo com o FMI.

Sobre essas negociações, que resultaram num acordo aprovado formalmente pela diretoria do Fundo apenas em 2 de dezembro, Malan e Lara Resende revelam dois detalhes relevantes.

Primeiro, que os representantes do FMI e de organismos internacionais, e também a comunidade financeira internacional, estavam descontentes com a postura brasileira de não baixar medidas corretivas durante a crise econômica causada pela Rússia.

Lara Resende disse a Malan que já havia falado com Stanley Fischer na noite anterior ao telefonema.

Naquela conversa, conforme o relato de Lara Resende, o diretor-gerente-adjunto do FMI teria dito o seguinte: "Está todo mundo nervosíssimo e só vocês brasileiros não estão".

Lara Resende deu a entender a Malan que Fischer disse a frase em tom de reprimenda. Ao que o então presidente do BNDES teria respondido: "Ô, Stan, nós temos uma alternativa?".

Um segundo detalhe que aparece nas gravações sobre as negociações com o FMI confirma a grande resistência de Francisco Lopes, então diretor do Banco Central, a um acordo formal do Brasil com o Fundo Monetário Internacional.

"Olha, eu conversei com o Chico Lopes ontem… Extremamente resistente a isso… Extremamente resistente… Chico Lopes acha que isso (o acordo com o FMI) é uma espécie assim de abrir mão de independência do Banco Central. Que os caras vão chegar aqui, vão dizer isso, aquilo, aquilo, dar palpite nisso, naquilo, tal", disse Lara Resende a Malan.

Em janeiro, Francisco Lopes veio a ocupar brevemente a presidência do Banco Central. Suas divergências com o FMI foram uma das razões para que perdesse o cargo antes de assumi-lo oficialmente.

Fonte: Da redação, com a agências