Capistrano: Hugo Chávez, a Venezuela e a América Latina

 A América Latina vive uma grande expectativa diante do estado de saúde do presidente venezuelano Hugo Chávez. Ele teve um papel importante na virada que o nosso continente deu com a derrocada do neoliberalismo.

Hugo Chavez
Chávez foi quem liderou as transformações ocorridas no seu país nos últimos anos. Transformações com reflexos positivos em outros países da América Latina.

A presença de Hugo Chávez no comando do governo venezuelano foi fundamental para as mudanças políticas, econômicas e sociais ocorridas na última década na América Latina. Chávez ajudou vários países a sair do sufoco, do estrangulamento imperialista que vinha ocorrendo, um exemplo é o caso de Cuba.

Na história, nada acontece por acaso. Após a queda dos regimes socialistas no leste europeu, fato ocorrido na década de 1990, sobreveio uma grande euforia das forças reacionárias e conservadoras. Fato esse efusivamente comemorado pelas forças capitalistas. Foi a tentativa de se criar um consenso midiático de que era o “fim da história”, como se a história tivesse fim.
Com a derrocada do neoliberalismo, a história voltou ao seu trilho normal. Iniciou-se um processo de desmistificação do Estado Mínimo. Era o fim da farsa do neoliberalismo, principalmente no mundo periférico, dando início um novo ciclo no nosso continente com governos de esquerda substituindo os governos neoliberais, governos que tinham substituído, sem “traumas”, às ditaduras, na América Latina.

Os governos neoliberais tinham iniciado um processo de privatização do estado. Aqui, no Brasil, os governos Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso são os exemplos dessa nefasta política antipovo e antipátria. Quem desejar conhecer como ocorreram as privatizações no Brasil e na América Latina, eu recomendo a leitura do livro, A Privataria Tucana, livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

Para compreendermos a importância do governo Hugo Chávez para os venezuelanos se faz necessário uma retrospectiva da história da Venezuela. História muito parecida com a história das ex-colônias, não só as ex-colônias latinoamericanas, mas de todas as ex-colônias em todos continentes, com raríssimas exceções.

A Venezuela vinha, desde sua independência, sendo governada por uma elite detentora de toda a riqueza do país. Elite oriunda das oligarquias dos tempos coloniais, por índole, atrasada, corrupta e entreguista, sem nenhum compromisso com o país e o povo. Hugo Chávez mudou esse cenário. Como muitos venezuelanos de classe média baixa, Chávez fez carreira militar, chegando ao posto de tenente-coronel. Na condição de oficial das forças armadas venezuelana foi imbuído de um forte sentimento nacionalista, sentimento esse fundamentado no ideário de Simón Bolivar, passando a ser defensor da visão bolivariana de unidade latinoamericana.

Claro, isto desagradou os beneficiários da principal riqueza do país, o petróleo. Os Estados Unidos da América do Norte, o Tio Sam, não gostou da presença de um governo nacionalista na Venezuela, com influência em toda América.

A Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, sendo detentora do maior potencial energético da América Latina.

O governo de Hugo Chávez, independente e de esquerda, desagradou os donos do mundo. A riqueza que antes pertencia a uma minoria passou a pertencer ao povo venezuelano. Chávez começou a ser visto de modo atravessado pelos ianques, pela elite venezuelana e pela grande mídia, não só interna, mas, por toda mídia controlada e orientada pelos interesses imperialistas. Essa mídia faz intensa campanha contra Chávez com o objetivo de desacredita-lo perante a opinião pública internacional.

Com Chávez, a Venezuela começa a construir uma verdadeira democracia, o povo passou a ser consultado sobre os rumos que o país deveria tomar. Os pobres e miseráveis começam a sair da extrema pobreza, passando a ter uma vida digna. Concomitantemente surgem, na América Latina, diversos governos de esquerda, governos populares, nacionalistas e bolivarianos, o mais importante, unidos com o mesmo objetivo, construir um continente livre e soberano.

Chávez tem contribuído para construção de um novo cenário político/econômico na América Latina. A eleição de governos, em outros países, empenhados na superação das dificuldades históricas, tem ajudado o governo bolivariano nesta empreitada, sepultando de vez o nefasto neoliberalismo. Portanto, tem sido importante a união de todos com o objetivo de superar os obstáculos criados pela pesada herança colonial, pelos interesses imperialistas, conservadoras e oligárquicas, que governam diversos países do continente. Diferentemente do getulismo e do peronismo, o chavismo extrapolou as fronteiras do seu país e deu a Revolução Bolivariana um novo significado.

 

Antonio Capistrano – ex-reitor da Uern e filiado ao PCdoB