Síria denuncia ataque israelense a centro de pesquisa

Aviões israelenses violaram, nesta quarta (30), o espaço aéreo sírio e bombardearam um centro de pesquisas, denunciaram o Comando geral do Exército sírio e as Forças Armadas do país. O ataque – que não foi confirmado nem negado por Tel Aviv – é a primeira ação direta de forças estrangeiras contra o país, após 22 meses de conflito, e provocou a reação de organizações e governos de várias partes do mundo. 

"Fica claro que Israel é o financiador, beneficiário e, por vezes, executor de atos terroristas contra a Síria e seu povo resistente, em cumplicidade com outros governos que também apoiam o terrorismo, como Turquia e Catar", diz o comunicado emitido pela Síria. As autoridades israelenses ainda não se pronunciaram.

Segundo o Exército sírio, os aviões passaram ao norte do Monte Hermon, nas Colinas de Golã, e, voando a uma baixa altitude – abaixo do alcance dos radares -, atingiram a região ao redor de Damasco. A ação teria destruído o prédio principal de um centro de pesquisa, em Jamraya, e um anexo, além de matar dois funcionários e ferir outros cinco, segundo a agência estatal Sana.

De acordo com o governo, o local era responsável por "aumentar o nível de resistência e autodefesa" das Forças Armadas. O comuniciado afirma ainda que os ataques ocorreram após Israel e outros países "selecionarem pontos nevrálgicos e militares, em uma tentativa de minar a resistência da nação ante um complô ocidental contruído contra a Síria".

As Forças Armadas afirmaram ainda que o ataque é uma "flagrante violação do espaço aéreo e da soberania" do país. "O ataque desta quarta se soma a uma larga história de agressões e crimes de Israel contra os árabes e muçulmanos, o que é um ato de arrogância e grave transgressão da soberania de um país, ante a comunidade internacional", diz a nota síria.

O texto afirma que "atos criminosos não vão enfraquecer" o governo, que não fez nenhuma ameaça de retaliar. "Atos criminosos como estes não debilitarão a postura da Síria e seu papel na hora de seguir apoiando os movimentos de resistência ma região do Oriente Médio, principalmente a causa palestina", encerra a nota.

Horas antes da declaração síria, jornais israelenses, citando "fontes ocidentais", anunciavam um ataque israelense em território sírio, mas na região da fronteira com o Líbano. O alvo teria sido um comboio de caminhões que supostamente transportava armamentos -inclusive mísseis antiaéreos russos SA-17- para o grupo libanês Hezbolá durante a madrugada de ontem. Um alto oficial norte-americano confirmou o ataque à Associated Press.

A Síria, no entanto, disse que a notícia desta ação é infundada. Fontes do governo libanês também negaram o ataque à agência Efe. O Exército libanês, contudo, confirmou, em comunicado, que Israel havia intensificado seus voos sobre várias regiões do sul do Líbano na noite de anteontem e na madrugada.

Rechaço

O ministro de Exteriores e Imigrantes do Líbano, Adnan Mansour, condenou de forma enérgica o bombardeio. Para ele, o ato violou "a soberania da Síria e demonstra que a conduta de Tel Aviv, desde 1948, resulta numa ameaça permanente para a paz e a segurança árabe".

A Liga Árabe qualificou como uma "agressão brutal a violação do espaço aéreo sírio e o bombardeio nas cercanias de Damasco". "O ocorrido viola a Carta das Nações Unidas, as normas do Direito Internacional e as resoluções do Conselho de Segurança", agregou. A organização exigiu que a comunidade internacional assuma sua responsabilidade e pressione Israel, para que ponha fim a seus contínuos ataques contra Estados árabes.

"O silêncio internacional a respeito de ataques anteriores contra a Síria incentivou o governo sionista a continuar suas agressões, aproveitando a difícil situação que atravessa a nação", diz o texto.

O grupo xiita libanês Hezbolá também condenou a agressão. "O Hezbolá condena energicamente esta nova agressão sionista contra a Síria e considera que dito ataque revela o que está ocorrendo há dois anos nesse país", afirmou em comunicado.

Segundo esta organização, a ação israelense está "em consonância com o espírito agressivo e criminoso inerente ao inimigo que tenta impedir que uma força árabe ou islâmica potencialize e desenvolva suas capacidades militares e tecnológicas".

Para o Hezbolá, "este ataque deixou evidente as origens do que se passa na Síria há dois anos e os objetivos criminosos que visam destruir o país e exército para enfraquecer o seu papel central na resistência [contra o Estado hebreu] e terminar a grande conspiração contra os povos árabes e muçulmanos".

O governo da Rússia afirmou nesta quinta (31) que o ataque aéreo israelense a instalações militares na Síria, se for confirmado, seria uma grave e inadmissível violação dos estatutos da ONU. "Moscou recebeu com profunda preocupação as informações sobre o ataque das forças aéreas de Israel a instalações sírias próximas a Damasco", assinala um comunicado do Ministério de Relações Exteriores russo.

"Se essa informação for confirmada, estaríamos perante ataques não provocados sobre alvos de um Estado soberano, algo que viola gravemente o Estatuto da ONU e é inadmissível, independentemente dos motivos para justificá-lo", acrescenta a nota.

O comunicado destaca ainda que a Rússia está tentando de maneira urgente "esclarecer todos os detalhes desta situação".

Já o Irã avertiu nesta quinta (31) que o ataque pode ter consequências sérias para Israel. E a ONU, por sua vez, indicou que até então não dispõe de dados sobre o ataque.

Com agências