O projeto de José Martí para a América Latina

José Martí, o mais autorizado continuador da obra libertadora latino-americana de Simon Bolívar, nos brindou um projeto anti-imperialista para a América Latina e o Caribe baseado em três aspectos fundamentais: a autoctonia, a cultura mestiça e a unidade dos nossos povos.

Por Fernando Mousinho*

Quando comemoramos os 160 anos de nascimento do “mais autêntico precursor da revolução cubana”, como bem observou Alejo Carpentier, a realidade se impõe e comprova a vitalidade desse projeto.

Em pouco mais de uma década a fisionomia política, econômica e social da região mudou satisfatoriamente graças aos governos populares, autóctones e solidários que se instalaram legitimamente na Venezuela, Equador, Nicarágua, Bolívia, Uruguai e Brasil, por exemplo. Sem, portanto, as ingerências externas de sempre, sob o lema norte-americano do Big Stick, ou seja, do grande porrete. Ao contrário das elites de sotaques alienígenas, agora são operários, negros, índios e mestiços, filhos de uma cultura miscigenada que ascendem ao poder político nesses países, sinalizando que a rota martiana é acertada.

Porém, em hipótese alguma, jamais poderemos esquecer o papel que Cuba jogou e joga nesse processo. Seja no auge do campo socialista europeu seja no tempo do período especial. Cuba não só não claudicou, como acreditavam os corifeus de mau agouro do Pentágono, como jamais deixou de ser solidária não apenas com os povos da América Latina e do Caribe, mas com todos os povos do mundo.

A carta das “Mães de Chernobil” à Organização Mundial de Saúde, à Organização Panamericana de Saúde e à opinião pública internacional, é um testemunho da pujança da solidariedade da revolução cubana. Diz o texto, na íntegra: “Cumprimos o sagrado dever de agradecer e reconhecer às crianças cubanas, seus pioneiros, ao ministério e trabalhadores da saúde, ao pensador e arquiteto da saúde mundial, o presidente Fidel Castro, e ao seu povo, por serem capazes de transformar os sonhos em realidade, o sofrimento e o egoísmo humano em fraternal serviço para enfrentar, junto a outros povos do mundo, a crua realidade das catástrofes a que a humanidade periodicamente está submetida”.

Foram 9.107 crianças e jovens da Bielorusia, Ucrânia e Rússia, com idades de 2 a 18 anos, e, 1.270 adultos que receberam tratamento de leucemia, intervenções cirúrgicas cardiovasculares, transplantes de medula óssea e enxerto de rins. Além de assistência odontológica e psicológica. Todos, sem exceção, foram tratados dentro do princípio de que a saúde em Cuba é gratuita para todos.

Isto foi entre os anos de 1990 e 1992, em pleno período especial. Demonstrando inclusive que Cuba não divide o que sobra, mas sim, o que tem.

Em toda sua existência a revolução socialista cubana foi um exemplo para todos nós. Exemplo este assim sintetizado pelo companheiro Roberto Amaral: “O povo cubano é para nós um exemplo, símbolo da resistência latina. O primeiro a rebelar-se contra o imperialismo, demonstrando que, quando há decisão e unidade na luta, uma nação recupera a sua dignidade, enfrenta e derrota o imperialismo que a espoliava e humilhava”.

Porém, ainda temos muito chão a percorrer, e, dificuldades e sabotagens, aos milhares. Mas de uma coisa temos certeza, que a partir desses novos tempos o destino da América latina e do Caribe jamais será o mesmo, e 12sem retorno. O que nos faz lembrar a máxima da União de Jovens Comunistas de Cuba: “Pé atrás nem pra tomar impulso”.

O projeto martiano é fruto do contato direto de Martí com a realidade de diversos países latino-americanos, onde ele constatou a natureza secular das nossas repúblicas, uma herança colonial nefasta. Uma economia fundamentalmente de latifúndios agrícolas e estruturas sóciopsicológicas caricaturizadas das antigas metrópoles.

Contudo, Marti só conformaria sua concepção anti-imperialista depois de intensa convivência de 15 anos nos EUA, quando ele conclui: “vivi no monstro e conheço suas entranhas”.

*Sociólogo e assessor do PSB na Câmara