Entrevista: Alan Kardec regulariza calendário escolar de SL

Secretário Municipal de Comuicação conta principais desafios à frente da pasta até regularizar, em 55 dias, o calendário escolar da capital

Edivaldo, Allan Kardec e Roberto Rocha

Não é fácil a missão do secretário Municipal de Educação, Allan Kardec Duailibe, que tem a responsabilidade de reorganizar e reestruturar uma rede de ensino com 255 escolas para o atendimento de 93 mil alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Milhões em dívidas e uma crise que gerou atrasos no calendário escolar de 2012 – que foi encerrado no dia 23 de janeiro de 2013, após acordo com o Ministério Público para que não se alongasse mais – e onda de saques e depredações que atingiram cerca de 30 unidades de ensino tornam o trabalho ainda mais difícil. Contudo, currículo não falta a Duailibe que é doutor em Engenharia Elétrica, professor da Universidade Federal do Maranhão; já foi diretor da Agência Nacional de Petróleo e esteve também à frente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão. Na marca dos primeiros 55 dias à frente da pasta, o secretário falou com exclusividade a O Imparcial sobre as principais medidas que tomou nesse período. Confira!

O Imparcial – Estamos chegando aos primeiros 55 dias da nova administração. Como tem sido o trabalho nesse período?

Alan Kardec Duailibe – O primeiro trabalho foi trocar o pneu com um carro andando. Porque recebemos um semestre letivo que ainda não tinha se encerrado. O ano letivo estava entrando já pelo inicio de janeiro e tinha previsão de chegar até meados de fevereiro ou março. Para resolver a questão do calendário escolar, trabalhamos com o Ministério Público e o Sindeducação (Sindicato dos Professores do Município) um termo de ajustamento de conduta, um TAC, para que fizéssemos o encerramento no dia 25 de janeiro e o reinicio no dia 25 de fevereiro.

O segundo maior problema foi o ataque às escolas. Foram mais de 30 depredadas e saqueadas. Isso resolvemos com a contratação de uma empresa para fazer a segurança e conversamos, também, com a Secretaria Estadual de Segurança.

Nós também já reformamos escolas. Foram intervenções mais simples em 76 escolas, fizemos retelhamento, ajustes hidráulicos e elétricos.

Enfatizo: ainda precisa mais, ainda há necessidades. A rede está extremamente estrangulada e precisando de reparos, mas já fizemos grandes avanços no sentido de coibir os problemas herdados.

Qual a dimensão da dívida encontrada na Semed?

O total chega a R$ 50 milhões. As dívidas ainda existem, mas nós resolvemos um problema crucial, que era a dívida em relação aos anexos, que estavam com alugueis atrasados. Alguns desde 2011. Nós conversamos com todos os proprietários dos imóveis, fizemos um acordo e vamos pagar toda a dívida em seis meses. Essa dívida já foi sanada.

Como Secretaria tem direcionado a relação como os professores?

Nós estamos conversando sempre com o Sindicato. A primeira ação que nos tivemos foi uma reunião com Sindicato, no dia 3 de janeiro. Eu sou professor e defendo os pleitos e agendas dos professores. Então, atender as demandas dos professores trata-se, agora, tão somente da Semed e da prefeitura se estruturarem, para que possamos fazer aquilo que a administração anterior não fez. A resolver, temos um terço de carga horária, temos várias aposentadorias para efetivar e a progressão vertical, que nós vamos trabalhar para que aqueles professores que tenham se especializado, com mestrado e doutorado recebam adequadamente. No dia 21, depois de nos reunirmos com Secretaria de Planejamento, de Administração e com a Procuradoria, enviamos oficio ao Sindicato, solicitando que aguardem 45 dias, para, nesse período, fazermos um estudo da situação que se encontra a prefeitura, o que nós podemos atender e de que forma iremos atender essas demandas.

Tivemos informação sobre a demissão de 140 diretores. Como está essa situação?

A educação em São Luís passa por uma situação problemática. Há vários problemas, um deles é o de gestão. E esse problema pode ser resolvido de uma forma eficiente. Fizemos uma substituição, não chega a 140, é uma estimativa grosseira. E o modelo que estamos usando trabalha com nomeações técnicas. Nós precisamos trabalhar os números do município de São Luís e temos metas a atingir, por isso a escolha de técnicos para atender essas demandas. Foi uma prerrogativa nossa nomear ou não.

Antecipo que, por determinação do prefeito, estamos trabalhando a revisão desse modelo. Para que apliquemos um que leve em consideração o processo democrático, a participação dos professores, da comunidade, dos pais de alunos e até dos alunos, se for possível. Mas também um modelo de eficiência que atenda as exigências de gestão que são factíveis na área de Educação, levando em consideração conceitos pedagógicos e técnicos, necessário para a eficiência da administração de cada escola.

Como estão as parcerias com o Governo do Estado?

A gente tem dialogado com secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes. Estivemos em um evento recentemente na Ufma e reiteramos mutuamente a necessidade de trabalharmos de acordo. E com o inicio do semestre letivo nós queremos já começar a agenda de diálogo com o governo do estado e obviamente, com outras esferas, como sociedade civil organizada e empresas.

Como conseguir mais recursos para educação do município?

Já iniciamos conversa com a OI, Vale, a MPX. A agenda da secretaria não é dialogar apenas com os entes federados, mas também com a iniciativa privada.
Eu diria que o maior anúncio foi feito pelo prefeito com o ministro Aluizio Mercadante, que foi a construção de dez escolas para o ensino fundamental, 26 creches, 36 quadras e a reforma das escolas em situação mais crítica.

Como está a condição das escolas?

Nós não temos uma rede física escolar estruturada na cidade de São Luis, haja visto todas as dificuldades que nós encontramos nas escolas. São locais completamente inadequados, é um desrespeito à dignidade das crianças. Hoje temos 79 anexos que são prédios alugados e muito precários, e todos estavam irregulares. São prédios aproveitados pela inexistência da rede física. Para se ter uma ideia, tem lava jato que serve para escola. Encontramos unidades que guardam a água que as crianças bebem em garrafas peti, fora da geladeira, estocadas por semanas. O lugar de estudar interfere diretamente na qualidade do aprendizado.

Até o final do ano vamos rever toda estrutura física, reformando todas e apresentar um plano de estruturação da rede física escolar, projetado tudo o que realmente precisamos para melhorar a qualidade de estudo das crianças.

O que está sendo feito com o material escolar encontrados em um depósito nos primeiros dias de gestão?

Nós já fizemos o levantamento total de todo depósito. Uma vez iniciada as aulas nós vamos fazer a distribuição do material, de acordo com a necessidade. Levando em consideração os que estão utilizáveis e não estão em sindicância.

Permanecerá a entrega de materiais escolares e fardamentos?

Sim, já temos 300 mil livros para entrega. E daremos continuidade a entrega das fardas e bolsas. Os pais certamente podem se despreocupar nesse sentido.

Como anda a implantação das escolas em tempo integral?

Nós já vamos começar o semestre com três escolas em tempo integral, que beneficiará 783 alunos. São as escolas Recanto dos Pássaros e Barjonas Lobão, na Cidade Operária; e Maria de Jesus Carvalho, na Camboa. Todas para o ensino infantil. Já temos a possibilidade de ampliar o número durante esse primeiro semestre.

As escolas em tempo integral necessitam de uma estrutura física que comporte as necessidades dos alunos, que passam o dia inteiro naquele ambiente. Estas escolas respondem a esse requisito?

Não, não houve tempo para fazer toda a estrutura física, mas durante esse semestre, vamos integrar novas escolas, que é de fundamental importância, pois é um projeto de extrema importância para o avanço da educação no município.

Passados os primeiros dias de administração, quais as metas a partir de agora?

Vamos reparar a rede. A primeira grande meta já estamos atingido, que é exatamente fazer a reparação de alguma coisa da parte física das escolas. Mas queremos alguns avanços pontuais. Vamos mudar o modelo da merenda escolar, que hoje é distribuído por uma única empresa. Por orientação do prefeito, a gente quer integrar a agricultura familiar, de tal forma que a comunidade, o setor produtivo da pequena agricultura local, também seja envolvida.

Nós queremos também avançar com a abertura das quadras, para que a comunidade se sinta também dona das escolas, afinal, são as grandes proprietárias. Vamos instalar um modelo para integrar a comunidade à escola.

Entregaremos o plano de recomposição do ano letivo, que vai permitir a melhorar a qualidade do ensino. Vamos fazer uma recomposição curricular do ano letivo que foi perdido em 2012. Cumprimos o TAC. Agora vamos recompor a perda de aprendizagem dos alunos, com oferta de reforço. E aproveitando isso, vamos fazer um plano de ação para o ensino, tendo uma proposta pedagógica clara, bem definida com formação continuada para professores e diretores, gerando um currículo adequado à realidade de São Luís. Dessa maneira, vamos melhorar a qualidade e avançar nas metas do Indeb, que São Luis tem ficado abaixo, não alcançou a meta Brasil.

Para esdrúxulo em pleno século XXI, mas vamos informatizar a educação em São Luis. Todas as matrículas foram feitas a mão, não tem um sistema. Estamos implantando e daqui a um mês vamos entregar um sistema para matriculas on line e acompanhamento da gestão. Isso implica em transparecia. Os professores e pais de alunos vão poder acompanhar o rendimento via internet.

Fonte: Jornal O Imparcial