Stella Calloni: julgamento do Plano Condor terá caráter histórico

O início do julgamento oral e público na Argentina, por crimes cometidos no Plano Condor marca o começo de algo que, segundo a jornalista e investigadora Stella Calloni, "vai ser grande".

Por Moisés Pérez Mok*, na Prensa Latina

Stella Calloni - Ismael Francisco/Cubadebate

"Precedido por uma longa etapa de investigação e dois processos (1999 e 2001) relacionados a esta coordenação repressiva entre ditaduras sul-americanas, o que acontecerá a partir desta terça-feira (5) no Tribunal Oral Criminoso Federal No.1 de Buenos Aires terá caráter histórico", indicou.

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Ela lembrou que, em 1999, começou a apresentação dos fatos que fundamentavam a existência do Plano Condor, e dois anos depois as Coordenações Repressivas do Cone Sul foram consideradas uma associação ilícita.

Autora do livro "Operación Cóndor, pacto criminal" (Operação Condor, pacto criminoso), que faz parte das provas a serem apresentadas no julgamento, a especialista em política internacional afirmou que por este mesmo plano criminoso também foram abertos julgamentos na Espanha e na Itália.

No entanto, o que se iniciará hoje nos tribunais de Buenos Aires adquire especial significado pelo fato da Argentina ter sido o país onde mais cidadãos estrangeiros desapareceram.

Entre estes figuram dois diplomatas cubanos, que foram sequestrados em 1976, presos e torturados em "Automotores Orletti", um dos centros clandestinos de detenção que funcionou sob tutela do Primeiro Corpo do Exército durante a última ditadura militar, e depois desapareceram.

Essa antiga oficina tinha sido alugada por agentes da Secretaria de Inteligência do Estado (Side) e funcionou como uma das bases principais das forças de inteligência estrangeiras que operavam nesta nação sul-americana, no marco da também chamada Operação Condor.

No julgamento que começará esta terça-feira serão julgados 25 acusados por crimes de lesa humanidade, entre eles os ex-ditadores Jorge Rafael Videla e Reynaldo Benito Bignone e o ex-comandante do III Corpo do Exército Luciano Benjamín Menéndez.

O tribunal – informou ontem o Centro de Informação Judicial – dispôs a junção de quatro causas (Plano Condor I,II,III e Automores Orletti II), o que indica que o processo dure no mínimo dois anos, pois deverão depor cerca de 500 testemunhas.

Em conjunto, os 25 acusados deverão responder por mais de 220 casos de supostas violações dos direitos humanos e a comissão de delitos como associação ilícita e privação ilegítima da liberdade.

Réus 

Além de Videla, Bignone e Menédez, comparecerão perante o tribunal Santiago Omar Riveros, Eduardo Samuel De Lío, Carlos Humberto Caggiano Tedesco, Ramón Díaz Bessone, Antonio Vañek, Carlos Horacio Tragant, Bernardo Menéndez, Jorge Carlos Olivera Róvere, Eugenio Guañabens Perelló e Carlos Miguel Landoni.

Também, Ernesto Alais, Humberto Lobaiza, Felipe Alespeiti, Manuel Juan Cordero, Federico Minicucci, Néstor Falcón, José Julio Mazzeo, Horacio de Verda, Rodolfo Feroglio, Luis Sadi Pepa, Enrique Olea, Mario Gómez Arenas, Juan Avelino Rodríguez e Miguel Ángel Furci.

Logo no começo do julgamento, o subsecretário de Direitos Humanos da Nação, Luis Alén, denunciou ameaças de bomba contra as sedes dessa Secretaria e do Arquivo Nacional da Memória, localizado na antiga Escola de Mecânica da Armada (ESMA).

Em ambos casos, as ameaças foram realizadas a nome de um autodenominado "Comando Patriótico" para exigir que não sejam levados a julgamento os genocidas da última ditadura militar argentina, informou o funcionário público.

Advertiu, no entanto, que apesar dessas tentativas de gerar medo, não há possibilidade de voltar atrás no julgamento aos repressores do terrorismo de Estado.

*Moisés Pérez Mok é correspondente da Prensa Latina na Argentina
** Título original "Plano Condor no banco dos réus: Asas para a justiça"