Israel cria linhas de ônibus segregadoras: "Palestinos apenas" 

Na sequência da criação de uma nova linha de ônibus, em Israel, para trabalhadores palestinos com permissão para trabalhar em território israelense, a revista eletrônica independente +972 publicou uma reportagem, nesta segunda-feira (4), para detalhar a continuação da política de apartheid empregada pelo governo israelense contra os palestinos. 

Trabalhadores palestinos embarcam em ônibus segregador - Activestills.org

O Ministério dos Transportes de Israel lançou a linha “Palestinos apenas” nesta segunda-feira, para que os trabalhadores provenientes da Cisjordânia entrem em Israel em ônibus públicos diferentes dos que transportam cidadãos israelenses. Os ônibus partem do posto de controle Eyal com direção a Tel-Aviv e a Kfar Saba. 

A medida foi uma resposta à reclamação de “colonos” judeus que vivem em assentamentos construídos dentro do território palestino, e que exigem serem transportados por ônibus diferentes dos que transportam os palestinos, para irem trabalhar em Israel.

Assim como em muitas outras formas de discriminação de facto em Israel, o ministro do Transporte israelense diz que os ônibus não são legalmente segregados, e que os palestinos que entrem em Israel ainda poderão usar todas as linhas de transporte público.

Entretanto, há planos para mais linhas “Palestinos apenas”. Enquanto isso, a medida responde apenas à segregação exigida pelos “colonos” judeus em território palestino.

Por outro lado, de acordo com o conservador e direitista jornal israelense Yediot (ou sua versão eletrônica Ynet, conforme citado pela +972), vários motoristas de ônibus disseram que os palestinos que escolherem viajar pelas linhas “mistas” serão abordados para deixá-las. De acordo com o mesmo jornal, panfletos foram distribuídos em árabe na Cisjordânia para informar aos palestinos sobre a nova linha que deveria ser usada a partir do posto de controle Eyal.

Segundo o Ministério dos Transportes, a medida também resultou das tensões verificadas entre judeus e árabes nos ônibus já super-lotados e o aumento da tensão. Ainda, muitas reclamações recebidas teriam afirmado preocupação com a possibilidade de os passageiros palestinos representarem “um risco à segurança.”

Uma entre muitas formas de segregação

Este é apenas um exemplo dos muitos em que a segregação não é explicitamente escrita na política oficial israelense (embora algumas vezes seja assim, de acordo com relatórios do Tribunal Russel para a Palestina, formado por cidadãos do mundo todo, e do Comitê Israelense contra a Demolição de Casas, por exemplo).

A revista +972 citou um motorista de ônibus, em declaração ao Ynet, que disse: “Não somos permitidos recusar serviços e não mandaremos ninguém descer dos ônibus, mas formos informados de que a partir da próxima semana haverá checagens nos postos de controle, e os palestinos serão direcionados para embarcar em seus próprios ônibus.”

A revista continua com os exemplos de que “o racismo por trás destas medidas é dificilmente escondido”, e menciona outro motorista que diz que “dirigir um ônibus só com palestinos pode ser assustador.” Ainda, outro jornal israelense, Ha’aretz, já havia relatado ocasiões, antes da criação das linhas de ônibus de segregação, em que os palestinos foram expulsos dos ônibus, e que testemunhas nos postos de controle afirmaram que essas ações são recorrentes.

+972 lembra uma pergunta feita pela jornalista Mairav Zonszein ao Ministério dos Transportes, quando a questão das novas linhas “Palestinos apenas” ainda era debatida: “para resolver o problema da super-lotação, porque não simplesmente adicionar mais linhas de ônibus para todos?”

A conclusão de Mairav havia sido, então, que “considerando não ser qualquer segredo que muitos israelenses judeus preferem a segregação étnica, ninguém deveria estar surpreso. Quando o controle militar e a ocupação é a norma, é apenas ‘natural’ que uma realidade de facto se torne uma realidade de jure,” ou seja, que uma realidade factual se torne uma realidade jurídica (ainda que ilegal internacionalmente, mais uma violação dos direitos humanos dos palestinos institucionalizada pelo Governo de Israel). 

Com +972 Magazine,
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho