Abbas: Moscou tem posição progressista em relação à Palestina

“O destino de minha primeira viagem internacional foi a Rússia porque o país tem mantido historicamente, desde a época da União Soviética, relações cordiais com a Palestina e tem sempre defendido nossos interesses”, disse Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, às vésperas de sua visita a Moscou.

Por Mikhail Gusman, especial para a Gazeta Russa

Em entrevista exclusiva ao jornal russo Rossiyskaya Gazeta às vésperas de sua visita a Moscou, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, avalia os esforços do Quarteto Internacional para a Paz no Oriente Médio e as perspectivas das relações russo-palestinas.

Rossiyskaya Gazeta: Quais eventos dos últimos anos o senhor destacaria como os mais significativos para a Palestina?

Mahmoud Abbas: É com grande prazer e satisfação que nos lembramos da visita do presidente Medvedev a Jericó, durante a qual ele visitou o Museu Russo em Jericó. Desde então, houve muitos outros eventos, dos quais um dos principais foi a visita de Vladímir Pútin a Belém.

Há cerca de dois meses, a Assembléia Geral da ONU aprovou a resolução que conferiu à Palestina o status de Estado Observador junto à organização. Esse foi um momento decisivo rumo ao estabelecimento de um Estado palestino independente.

O que, na prática, o novo status trará à Palestina, e como isso afetará a situação no Oriente Médio?
Após a aprovação da resolução da ONU, o mundo todo viu que os territórios ocupados por Israel em 1967 fazem parte do território de um Estado e, portanto, tocam o Acordo 4 da Conferência de Paz de Genebra, de acordo com o qual "aquele que ocupar um território ou um Estado estrangeiros não tem o direito de modificar sua demografia, nem levar para lá sua população". Essa é nossa grande vitória …

Outro ponto importante é que, a partir de agora, podemos nos dirigir a todas às instituições internacionais oficiais e nos tornar membros plenos dessas.

Qual é a principal condição para o processo de paz palestino-israelense?
Nossa intenção é alcançar a paz com base em leis internacionais, ou seja, o mapa de paz e as resoluções da ONU. A bola está no campo de Israel. Quando o governo israelense compreender que seu país precisa da paz, assim como nós e todos os outros países, conseguiremos resolver o conflito.

Uma onda de revoluções e mudanças de regimes passou por diversos países árabes. Como esses eventos afetaram a política externa de seu país?
Nossa posição é clara e firme: não interferirmos nos assuntos internos dos países árabes e não árabes, mas estamos com os povos desses países e apoiamos seus anseios, especialmente aqueles do povo sírio. Na Síria, há 600 mil palestinos.

Nos próximos dias, enviarei à Síria uma missão que vai operar sob a bandeira da não interferência nos assuntos internos do país. Nossa intenção é defender os palestinos e os campos de refugiados palestinos contra os ataques de ambos os lados.

Sua missão terá contato apenas com o governo de Assad ou também com a oposição?
Nossa missão irá à Síria para se reunir com a liderança do país e dialogar com o governo sírio sobre a situação dos refugiados palestinos no país. O poder legítimo na Síria pertence ao governo de Assad, enquanto nós somos hóspedes no país.

Há já vários anos o Quarteto Internacional Para a Paz no Oriente Médio trata de questões relacionadas à pacificação do conflito árabe-israelense. A Rússia também faz parte desse grupo. Como o sr. avalia a atuação desse organismo internacional?
A comissão quadrilateral criada por Rússia, EUA, União Europeia e ONU, sob os auspícios da ONU, elaborou um plano de paz para solucionar o conflito no Oriente Médio. Esse plano deve ser colocado em prática por ter sido aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Acreditamos que esse plano acabará por ser concretizado.

Quero dizer, e não só para elogiar a parte russa, que a delegação russa sempre foi a nosso encontro, perguntando sempre nossa opinião sobre todas as questões abordadas pelo quarteto.

Infelizmente, essa comissão não funciona há quase um ano. Esperamos que esse mecanismo retome seus trabalhos e cumpra seu papel na pacificação do conflito.

Quais temas o senhor pretende abordar em reunião com o presidente russo, Vladímir Pútin, em Moscou? Em quais áreas as relações russo-palestinas estão se desenvolvendo bem? Existem domínios onde o potencial dos dois lados continua subutilizado?
O destino de minha primeira viagem internacional foi a Rússia porque a Rússia tem mantido historicamente, desde a época da União Soviética, relações cordiais com a Palestina e tem sempre defendido nossos interesses. Estamos sempre em contato com o lado russo: ou visitamos Moscou ou os representantes russos visitam a Palestina.

Gostaríamos de continuar trocando opiniões com os líderes russos sobre todas as questões. Não há segredos entre nós. Portanto, vamos conversar francamente com o presidente Pútin sobre a situação política no Oriente Médio e a situação geral na região, que tem grande impacto sobre todo o Oriente Médio.

Vamos falar sobre as perspectivas do processo de paz no Oriente Médio e a agenda de relações bilaterais, de que temos o orgulho e que, esperamos, continuarão a se desenvolver.

Fonte: Gazeta Russa