Presidente de Israel mantém retóricas na Europa   

O presidente israelense Shimon Peres compareceu perante o Parlamento Europeu nesta terça-feira (12), onde iniciou seu discurso com uma introdução dramática da sua vida de emigrado à “terra prometida”, ainda em 1934. Mais uma vez, o tom vitimizado sobre a história é a marca do discurso de um oficial do governo de Israel. 

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Presidente de Israel Shimon Peres - Haaretz

Shimon Peres disse ter-se dirigido ao Parlamento Europeu para parabenizá-lo, já que o continente “divorciou-se do seu passado e criou uma nova Europa”, depois da Segunda Guerra Mundial. O presidente disse: “vocês substituíram campos militares por campus científicos. A Europa que conhecia o racismo agora o considera um crime.”

Por outro lado, o governo israelense é atualmente acusado por inúmeras organizações internacionais de defesa dos direitos humanos de conduzir um regime de apartheid, de segregação contra os palestinos, tanto com práticas reiteradas quanto através de novas políticas, como a recente criação de linhas de ônibus denominadas “palestinos apenas”.


Leia mais:
 Israel cria linhas de ônibus segregadoras: "Palestinos apenas"

                                                 Netanyahu emprega vitimização semita melhor que ninguém
                                                 Presidente israelense ataca Irã, Síria e Hezbolá na Europa

Peres também congratulou a União Europeia por ter recentemente recebido o Prêmio Nobel da Paz, ainda que seus Estados membros, principalmente a França e o Reino Unido (e também a Espanha, entre outros que fornecem armamentos pesados a Israel), tenham o costume de participar em intervenções militares arbitrárias e neocoloniais, especialmente na África.

Ainda, ao reiterar afirmações retóricas anteriores, Peres reafirmou sua postura de “aceitação” de uma solução de dois Estados para o conflito entre Israel e Palestina, embora os detalhes estruturais nunca sejam seriamente abordados. 

O governo de Israel não tem compromisso com essa “solução”, como o histórico de assentamentos e ocupação de terras palestinas, para além da construção de infraestruturas que dividem terras palestinas (como estradas israelenses e muros de separação) já comprovou, principalmente porque um Estado de Israel, patrocinado e armado pela Europa e pelos Estados Unidos, já existe de fato e juridicamente.

Os sionistas do governo em Israel acreditam que são os palestinos quem devem suplicar por um Estado próprio (mesmo que 134 países já tenham reconhecido assim a Palestina), e Shimon Peres manteve essa ideia camuflada em seu discurso, embora ele seja considerado um dos políticos mais moderados de Israel, ao contrário do primeiro-ministro do governo atual, Benjamin Netanyahu.

O presidente israelense afirmou ainda que, além de Israel ter passado por sete guerras e tê-las “vencido”, e de ter retornado as terras do Egito e da Jordânia “quando a paz tornou-se possível” (escapou à menção os Golãs sírios, que Israel ainda ocupa, desde 1967), também devolveu aos palestinos a Faixa de Gaza, retirando seus colonos e bases militares (em 2007), mas também deixou de mencionar o bloqueio militar e os postos de controle ainda dominados pelos soldados israelenses nas fronteiras da Faixa.

“Os palestinos poderiam tê-la usado para construir uma entidade independente. Ao invés disso, transformaram-na em uma base terrorista”, disse Peres, que se referia às atividades de resistência política do partido Hamas e de grupos armados confinados à Faixa, assim como o 1,7 milhão de palestinos habitantes do território de cerca de 400 km² (um dos lugares mais densamente habitados do mundo, por tanto), sob um bloqueio militar que viola praticamente todas as disposições do direito internacional humanitário diariamente.

O presidente também falou de assuntos sobre os quais Israel apoia-se na intervenção belicosa (ainda retórica, por enquanto) e ingerente da Europa e dos EUA, contra a Síria e o Irã, temas tratados separadamente pelo Portal Vermelho